Conceito de Luís Filipe Silva

Ficção Científica, Fantástico, Surrealismo, Realismo Mágico, Terror, Horror, Ciberpunk e História Alternativa - e por vezes, se fôr de excelente qualidade, ainda fechamos os olhos a um certo Mainstream...

[Conheça o Manifesto]


Terrarium - Obra-Prima Subestimada

Gerson Lodi-Ribeiro - Crítica | 22 Dez 2004

João Barreiros concebeu o universo ficcional e escreveu cerca de 70% a 80% desse volume de quase 600 páginas. Luís Filipe Silva, responsável pelo arremate final do romance, é uma presença cada vez mais marcante em Terrarium, à medida que a obra se aproxima do clímax, embora tenha escrito trechos e parágrafos praticamente desde o início do trabalho.

-oOo-

Já no início do romance, somos informados que os alienígenas (que os autores chamam de «exóticos») chegaram à Terra há alguns anos. Não uma mera espécie alienígena isolada, mas muitas centenas.

Não se trata aqui do famoso consórcio galáctico, lugar-comum surrado, usado e abusado pelo gênero. Em Terrarium, o buraco é mais em baixo. E, como o leitor mais experiente logo constatará, o objetivo principal dos autores não é reverenciar os velhos lugares-comuns do gênero, mas sim brincar e tripudiar sobre os mesmos, fazendo releituras por vezes iconoclastas dos ícones usados à exaustão pela FC anglo-saxónica.

Essas espécies alienígenas estabeleceram relações diplomáticas mais ou menos cordiais com a humanidade e se integraram pouco a pouco ao human way of life de meados do século XXI.

Um ou dois mosaicos mais tarde, começamos a perceber que essa multidão de culturas alienígenas mudou-se de facto para o Sistema Solar com armas e bagagens, literalmente. Chegaram para ficar, como últimos remanescentes de suas respectivas civilizações, pois as suas espécies foram escorraçadas dos sistemas pátrios por obra e graça das «Potestades», manifestações materiais de entidades incorpóreas superpoderosas que seguiram esses autênticos párias da periferia galáctica até os recônditos do seu exílio no Sistema Solar. Na Terra, as tais Potestades comprazem-se em apavorar humanos e alienígenas, ao encarnar entre nós sob forma de avatares semelhantes aos anjos exterminadores do panteão judaico-cristão. Situação, aliás, descrita com bastante propriedade na noveleta premiada «A Arder Caíram os Anjos».

O prazer da leitura não corre, no entanto, o mínimo risco de se estragar com essa palinha de resenha apresentada no parágrafo acima. Pois o que está ali esboçado não passa de um simples preâmbulo da história. Até porque Terrarium é um romance de cenário muito complexo e descrição difícil, tanto por sua estrutura em mosaicos semi-independentes, quanto pelo facto de ter sido escrito a quatro mãos.

João Barreiros e Luís Filipe Silva, indiscutivelmente os dois melhores autores portugueses de ficção científica hard, conseguiram delinear com maestria um quadro terrível e apavorantemente verossímil de um futuro não muito distante, quando a humanidade se tornou no joguete dos interesses antagónicos de espécies e castas alienígenas pertencentes a diversos níveis tróficos da cadeia de poder do ecossistema galáctico. Neste sentido, o enredo do romance é muito mais envolvente e original do que as tramas vagamente semelhantes e de concepção posterior (4), que sustentam os argumentos de Babylon 5 e Terra: Conflito Final.

Página Seguinte >>
(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

Página  2 de 3 

Folhear

Página Inicial

Página Seguinte

Referências e Textos Relacionados

Autor:
Gerson Lodi-Ribeiro

Textos:
Saudades do Futuro