Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


12 Janeiro 2008

A MONTANHA QUE PARIU... A BYBLOSVários blogues seguiram os preparativos da abertura da maior livraria de Lisboa, destacando conceitos inovadores de venda, uma selecção alargada e a história do fundador que não se queria separar de vez da indústria. O burburinho resultou, e durante as minhas férias no outro lado do mundo ia acompanhando, sempre que possível, a evolução da ocorrência. Perdi a inauguração mas não os comentários de alguma desilusão que a acompanharam. Obviamente que quando voltei, quis comprovar pessoalmente. E fiquei bastante decepcionado.

Para começar o acesso é complicado (para quem mora em Lisboa o metro mais próximo é o do Rato, e há que subir toda a encosta das Amoreiras; para quem vem de fora, é obrigado a estacionar no centro comercial mais próximo porque é quase impossível encontrar estacionamento disponível na rua, sair do conforto deste e atravessar ruas estreitas e estradas movimentadas sob o frio de Janeiro). Apenas curiosos e grandes apreciadores irão visitá-la com recorrência, quando se esgotar o efeito novidade. Contudo, isso nunca seria, para mim, factor de desmotivação, se porventura a livraria me agradasse. 

Infelizmente, quem concebeu a loja devia sofrer de claustrofobia aguda porque parece ter tido uma única orientação em mente: espaço livre. Não apenas espaço livre mas muito espaço livre. Ou seja, pegou-se numa livraria de bairro (pequenina e acolhedora, os livros apertados uns nos outros nas estantes, que cedem ante o peso de tantas letras juntas, duas ou três mesinhas baixas a separar a porta e o vendedor) e soprou-se; resultado: os mesmos livros encostados e enfileirados na parede, a mesma meia-duzia de mesinhas baixas ao longo da superfície - e todo aquele espaço entre eles. No entanto, ao inflaccionar assim, ficou como a rã da história, inchada. 

O gestor e o leitor que habitam em mim ficaram decepcionados em igual medida.

Enquanto gestor, entendo que um metro quadrado de superfície comercial não é um metro quadrado de fonte de rendimento. Não é o corredor que vende, mas a estante que mostra o livro que o comprador adquire. O corredor existe para o comprador ter acesso à zona da loja em que este livro reside, logo o corredor é necessário - mas é um custo. Não há nenhuma livraria do mundo (que eu conheça) que convença os leitores a pagar pelo previlégio de percorrerem os corredores. «Gostei muito da secção das traseiras, aqui estão dez euros». Uma livraria vende livros, os livros estão expostos em estantes ou mostruários, estas estantes e mostruários é que são espaços com potencial de rendimento porque expõem mercadoria - rendimento que paga as contas da loja, paga aos empregados, paga ao dono do centro comercial que por sua vez paga aos empregados de segurança e aos de limpeza, paga aos distribuidores, paga aos editores, paga aos autores, e permite a todos estes elementos envolvidos na cadeia de valor terem uma casa, uma família, filhos, e tentarem encontrar um pouco de felicidade neste mundo que sabemos insensível e tecnocrata. 

Por outro lado, poucos serão suficientemente masoquistas para se aventurarem com frequência em lojas apertadas, a cheirar a mofo e desconfortáveis. Neste aspecto, o espaço livre da zona comercial transforma-se de custo em investimento, possibilitando ao comprador uma experiência agradável, confortável, um «bom ambiente», que o coloque na predisposição de largar os cordões à bolsa como o vinho, rosas e um Ferrari colocarão uma super-modelo na disposição certa (mal sabe ela que o Ferrari é alugado...)

Outra forma de tornar o espaço livre em investimento é de colocar publicidade (discreta e inteligente) na forma de cartazes, animações ou pequenos engenhos divertidos que chamem a atenção para este e aquele livro.

Enquanto leitor, adoro estar rodeado de livros por todos os lados; aventurar-me entre fileiras estreitas de duas estantes contíguas e percorrê-las com prazer à procura de uma novidade desconhecida, daquela discreta obra que passou injustiçada debaixo do radar dos críticos. E que hajam muitos e muitos corredores desses, para que a experiência se possa adentrar por um agradável início de tarde.

Quando se entra na Byblos, no piso inferior, dedicado à ficção, e após a zona de jornais e revistas, com uma selecção agradável, encontra-se espaço amplo. Muito espaço, muito amplo, cortado a meio pelos acessos ao piso superior. Surgem no caminho uma ou outra bancada larga exclusivamente constituida pelo Rio das Flores e pelo Sétimo Selo, o que parecendo que não, é espaço comercial desaproveitado, pois instintivamente afasta quem não está interessado neles ou já os tenha (e convenhamos, senhores, não é por ver cinquenta exemplares da mesma obra empilhados em formato de bancada redonda que de repente me vai apetecer comprá-los - a não ser que por uma razão bizarra eu precisasse de colocar em casa uma mesa feita a partir de livros do Miguel Sousa Tavares...) Para chegar aos livros é preciso caminhar ainda um pouco ao longo de espaço vazio, passar pela entrada do auditório (que me pareceu pequeno comparativamente aos exageros do resto da loja) e finalmente atingir estantes dignas do nome. E nestas os livros estão enfileirados como manda a lei, de lombadas viradas para fora. Encostados às paredes. 

Olha-se em volta. As novidades imediatas estão amplamente destacadas, mas... onde estão os livros que acabaram de sair das «novidades», onde estão as edições de há seis meses, o que são fins de edição? Afinal, o conceito de novidades fica-se pelo da livraria tradicional? Um casal jovem ri-se de embaraço junto da secção Gay&Lesbian, que as Fnacs já tinham inaugurado em Portugal e que não surpreende ninguém que esteja habituado a viajar. Por outro lado, as pessoas pegam em livros, folheiam-nos? Não vejo assim muitos compradores interessados, a maioria aguarda que o parceiro se despache, mas admito que possa dever-se a ser tarde de domingo. Pelo menos, as crianças adoram, é vê-las correr dum lado para o outro. Os pais também, porque as podem seguir ao longe. Talvez a livraria possa servir também como jardim infantil e ganhar algum dinheiro extra.

Entre as paredes, o espaço interior da loja. Algumas estantes, algumas mesas baixas, daquelas irritantes à moda das Bertrands que nos obrigam a curvar para chegar aos livros. Estão colocadas, não em fileiras para maximizar o espaço de venda, mas de forma oblíqua, como se tentassem esconder preencher espaços vazios. Diz-se que a loja inaugurou com metade da oferta que pretendia - isso nota-se, e desagrada.   

O que corta qualquer possibilidade de acolhimento e intimidade. O Zé Mário disse que encontrou mini-livrarias dentro da livraria, mas a única que se assemelhava a tal era a da zona infantil - em todas as restantes o comprador é obrigado a estar virado para a parede, para as prateleiras na parede, com a cabeça deitada para discernir os títulos das lombadas. Uma prateleira temática não constitui para mim o conceito de mini-livraria, apenas de prateleira temática - é como organizo os livros cá em casa. 

(E continuo sem perceber porque estes espaços comerciais colocam a mercadoria de forma a que o comprador tenha de ficar de costas para o interior da loja e na linha de visão directa de mais mercadoria... teoricamente, quem saiba ao que vem pode entrar na loja, dirigir-se à parede das novidades, tirar o livro, pagar à saída sem nunca se aperceber dos restantes livros nem das interessantes ofertas que havia lá mais para o fundo...)

Falou-se também das novidades em termos de informatização e de um braço-robô que consegue seleccionar obras que não estão em exposição. É o mesmo tipo de braços-robô usados para armazenar tapes em centros de informática, e garanto-vos que perdem a novidade ao final de alguns minutos. Quanto à procura de livros em ecrans de computador, isso consigo fazer no conforto do lar, e inclusivé adquiri-los sem tirar as pantufas. Se venho a uma livraria, é para contactar fisicamente com os livros, ouvir opiniões dos livreiros, percorrer os títulos à procura de algo que me desperte o momento. Se venho a esta livraria quero algo mais que as outras não me darão - muita oferta, uma selecção diverisificada e presente, ter acesso àquele livro que se falava em 2005 e que só hoje me apeteceu ler... 

Não perdi muito tempo no piso de cima, mas agradou-me mais, era mais pequeno e a oferta parecia melhor distribuida. Ficou no entanto a sensação de ser apenas mais uma loja, mais uma livraria, cuja oferta não se diferencia das restantes, que têm mais fácil e confortável acesso, ou sequer de uma Webboom electrónica.  

A minha atitude é de aguardar para ver. E de desejar boa sorte ao projecto. Afinal, é a única livraria do pais com ousadia suficiente para separar o género «Fantasia» do da «Ficção Científica» em secções individualizadas, e com a inteligênia (que espero não tenha sido distracção) de misturar, nestas, edições nacionais e importadas lado a lado. Entendo que esteja ainda a crescer, e que precise de solidificar-se. Espero que apostem em construir um catálogo vasto, e que encham o espaço com estantes corridas repletas de oferta. 

Por outro lado, é também possível que esteja influenciado pela forma de fazer norte-americana. A fotografia da esquerda foi tirada em Dezembro passado numa das maiores lojas da cadeia Chapters-Indigo, ao final do dia, e apresenta o piso zero do lado este (como curiosidade, a primeira meia dúzia de corredores dedicam-se exclusivamente à Ficção Científica - a secção de Fantasia ficava logo a seguir, e a de Terror ao fundo da loja). Não se deixem enganar pela baixa resolução da imagem. O espaço é bastante agradável, simpático e com uma iluminação eficiente que não cansa. É amplo e recheado de livros a perder de vista. Muitos e muitos e muitos livros, como se quer numa livraria e como põe o nosso coração de leitor a palpitar. E o nosso coraçãozinho de gestor apreciava a forma como as secções estavam marcadas e as marcas eram visiveis num só relance a partir da entrada, orientando eficientemente e de igual forma o comprador habitual e o comprador de primeira vez, não o obrigando a perder tempo a remexer em romances de cordel se o gosto dele é por livros sobre militares. A mistura devidamente equilibrada entre espaço livre e espaço de venda. E promoções. Cartões de fidelização com 20% de desconto. Esquemas compre-2-pague-1. Livros grátis em compras de valores superiores a. Hardcovers em fins de edição a 15, 10, 5 dólares. Monos e livros com defeitos a 1 dólar. Promoções cumulativas, gente. Não há livro que fique por vender naquela terra.

Há que respeitar e admirar a coragem e a capacidade visionária do criador do conceito. Aparentemente, houve bastante pesquisa antes de o finalizar. Decerto teve de fazer concessões. E decerto os nossos gostos diferem. Contudo, é minha opinião que, se a Byblos ficar pelo que apresenta hoje, tornar-se-á em mais uma oportunidade falhada, fazendo as alegrias dos velhos do Restelo mas pelas razões erradas.

Uma loja da Chapters-Indigo de Toronto

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(a Byblos no dia seguinte ao da inauguração, via Bibliotecário de Babel)

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DO OUTRO LADO DO MAR Roberto de Sousa Causo efectua idêntico resumo sobre a actividade editorial decorrida no Brasil durante o ano de 2007, com alguns destaques notórios a par de esquecimentos notórios, como por exemplo o da nossa própria antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados, composta em 50% por autores brasileiros de renome. Parece ter sido no Brasil também um ano de antologias de ficção curta (aquilo que em português não adulterado por ango-saxonismos se designa por «contos»), sendo um dos projectos mais interessantes o de Ficção de Polpa - pelo menos a nível de ideia, porque a nível de execução guardo, sinceramente, muitas reservas até ver o produto final, uma vez que o meu próprio conto submetido para o segundo volume destinado à temática Ficção Científica acabou não sendo seleccionado, não por uma questão de qualidade, mas porque, além de ser relativamente grande, tinha, nas palavras do autor, «enredo e Ficção Científica em demasia» e ele procurava algo mais intimista para um público generalista (sim, onde é que eu tinha a cabeça quando enviei uma história destas em resposta a uma convocatória de pulp fiction de Ficção Científica?...) Apesar destes pequenos atropelos, o Brasil continua a ser um mercado vibrante com dezenas de autores em constante movimento, escrevendo em parcerias, publicando na internet, e batalhando contra o oblívio. Já no início deste ano sai uma antologia apetecível, organizada pelo próprio Causo, com a designação de Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (edições Devir Brasil) e a proposta de se tornar na «primeira antologia retrospectiva da FC brasileira, a primeira a impor um conjunto de contos-referência para o género no Brasil», com uma galeria impressionante de autores, desde Machado de Assis, André Carneiro, Jerônimo Monteiro, Jorge Luís Calife, Rubens Teixeira Scavone, Ricardo Teixeira, Levy Menezes, Domingos Carvalho da Silva, Gastão Cruls, e o próprio Causo (ausente da lista de autores da capa) e sua esposa, Finisia Fideli. Aguardamos ansiosamente o segundo volume, ainda não anunciado, desta obra de referência, que decerto incluirá os outros grandes talentos da moderna FC brasileira, como (entre muitos outros) Gerson Lodi-Ribeiro, Bráulio Tavares, Gabriel Boz e Octavio Aragão.

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11 Janeiro 2008

TODO O ANO NUM SÓ POST. Editar e publicar um livro contendo uma nova geração de autores. Ser escolhido para representar Portugal numa antologia europeia comemorativa dos encontros anuais europeus do género. Disponibilizar a primeira obra publicada gratuitamente na internet. Surgir em castelhano. Surgir em brasileiro.

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INOVAÇÕES NA LOCOMOÇÃO ARTIFICIALMENTE ASSISTIDA. As recentes descobertas que se têm verificado nas áreas de leitura e interpretação de padrões mentais e de estímulo assistido dos órgãos motores inspiraram investigadores do Laboratório Nacional de Zurique a inventar uma nova forma de manipulação biomotora destinada a pessoas com deficiências físicas. Há mais de dez anos líder europeu na indústria de próteses corporais inteligentes, que, dotadas de sensores capazes de interpretar o meio ambiente, são capazes de interagir com o utilizador quase como se fossem partes naturais do corpo, o Laboratório apresentou na passada sexta-feira o protótipo de um inovador sistema orientado para o apoio a deficientes paraplégicos e tetraplégicos. Ao contrário dos métodos actuais, cujo objectivo é geralmente reparar os danos físicos existentes no sistema nervoso das pessoas afectadas mediante um tratamento terapêutico de natureza genética, o aparelho tenta criar um sistema nervoso paralelo de funcionamento autónomo. Aproveitando a larga experiência no controlo dos membros por estimulação nervosa, os Laboratórios conceberam um conjunto de centros de comando distribuidos, cada qual ligado aos receptores musculares de uma zona ou membro específico, e que os activam consoante as instruções enviadas remotamente por um centro de leitura de padrões mentais anexado na nuca do paciente. Desta forma, consegue-se uma restituição quase completa da locomoção e do movimento, e deixa de ser necessário o recurso a indicações vocais ou por intermédio de sensores para accionar o aparelho – o paciente pode continuar a pensar em “andar” ou “sentar-se” como faria uma pessoa em condições normais. Os representantes do Laboratório manifestaram-se satisfeitos com os resultados, embora considerem que é necessário mais algum tempo para afinar pormenores do processo, entre os quais o delicado acto de equilíbrio muscular que constitui o “manter-se de pé”. [Agência Nacional de Noticias, 11.01.2022]

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10 Janeiro 2008

NEIL GAIMAN E A EXPERIÊNCIA PESSOAL de ler Lovecraft. On video.

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O ANO É UM CONCEITO MUITO RELATIVO, depende muito do planeta e da época histórica em que o observador se situe, embora neste globo em que estamos haja um consenso histórico em redor aproximado do número 360, determinado pela variabilidade das estações, posição das estrelas, etc. E ainda bem que é assim. Ainda bem que os antigos tinham os olhos abertos para o mundo que os rodeava, embora os enchessem de mitos e explicações irracionais (eles é que dariam grandes audiências para os blockbusters de agora; desconfio que a viagem no tempo será inventada pelas multinacionais de produtos de grande consumo e entretenimento à procura de novos mercados, ou quem sabe pelo novo grupo editorial cá da casa). Se seguissem a aparente atitude umbiguista de muitas figuras públicas do tempos actuais que não se preocupam de explicar o mundo mas em contar histórias que não aconteceram bem assim (mensagens políticas de fim de ano, interpretações jornalísticas sobre o erotismo na literatura portuguesa, e outros quejandos), duvido que alguma vez o Euclide tivesse sequer escrito os Elementos. Então se a explicação do mundo se centrar sobre um género que poucos admiram ou compreendem (fantástico) num mercado que não o respeita (português) de um país com poucos autores e leitores que o dinamizem, e ainda por cima centrada em livros, como se os livros fossem relevantes para a vida, não podia haver atitude mais umbiguista. Ainda bem que o João Seixas não se intimida e faz mesmo assim uma revisão nostálgica do ano de calendário que acabámos de assassinar impunes. E se quiserem uma perspectiva internacional, podem sempre seguir esta senhora, igualmente cáustica. Eu também devia dedicar-me a isto, mas o meu problema é que, no meu caso, ainda estou em 1995 e continuo com 25 anos...

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TECNOLOGIA ARCAICA EM EXIBIÇÃO. O que têm o portátil, o iPod, o telemóvel, o iPhone, o PDA, o iMeet, o TomTom em comum? Se o leitor tiver menos de vinte anos, possivelmente nem saberá do que estamos a falar. Contudo, se conseguisse saltar no tempo para o início do século, ficaria espantado, e eventualmente divertido, com a quantidade destes aparelhos que encontrava em cada pessoa, e que eram parte indispensável do dia-a-dia. Mas se não pode viajar no tempo, experimente dar um salto aos átrios da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Lisboa e aproveite para descobrir, ou rever, uma era tecnológica do passado. Passando pelo nosso país numa tournée mundial que teve o início em Nova Iorque em Setembro, esta exposição famosa, subordinada ao tema «Amigos Inseparáveis», mostra-nos como a tecnologia pessoal em causa revolucionou, na época, a sociedade e as culturas, e como influenciou todos os aspectos do quotidiano, incluindo o comportamento social e a economia dos países. Através dos habituais vídeos interactivos e recriação por intermédio de actores animados, a exposição convida-o a atravessar ano após ano daquela época e a ser presenteado com exemplos de cada aparelho, os quais funcionam efectivamente entre si dentro do espaço da exposição, e que obviamente terá de devolver à saída. Ficará, como este jornalista, possivelmente admirado com a destreza e capacidade de memorização dos nossos pais e avós, uma vez que cada um daqueles engenhos tinha objectivos e funções distintas, e eram comandados por intermédio de botões e indicadores que variavam por aparelho, e por vezes entre modelos e marcas do mesmo tipo. A exposição termina finalmente com o surgimento dos primeiros protótipos multi-funcionais capazes de entender e processar a fala humana, precursores da tecnologia moderna. [Agência Nacional de Notícias, 10.01.2039]

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09 Janeiro 2008

LENTES DE CONTACTO DESTRONAM A LIDERANÇA DOS ÓCULOS VIRTUAIS Após meia década no topo da lista de vendas dos aparelhos electrónicos de lazer e quotidiano, os óculos virtuais Vasto Mundo, que foram a aposta da vida de um pequeno grupo de jovens técnicos no início da década, hoje em dia proprietários da milionária OmniVisão Lda, foram pela primeira vez afastados do pódio pela nova moda do audiovisual: lentes de contacto virtuais. Invenção dos laboratórios americanos True Man, líderes na elaboração de próteses para invisuais, e que pretendem com este engenho massificar a produção e atingir o consumidor comum, tratam-se de lentes feitas de um polímero inteligente, cujas moléculas reagem individualmente e de forma passiva aos diferentes espectros de uma emissão de ondas de rádio codificada, de forma a refractarem a luz recebida antes de atingir a retina e dessa forma simularem imagens, estáticas ou em movimento, com elevadíssima precisão. Ao contrário dos óculos virtuais, que necessitam de uma armação volumosa e lentes de cristais líquidos de segunda geração para estabelecer ligação à internet e poderem interagir com o dono, as novas lentes de contacto requerem apenas a presença de um pequeno centro de captação dos dados, responsável por captar o sinal dos transmissores virtuais e efectuar a respectiva tradução num formato descodificável pelas moléculas das lentes do próprio utilizador. A proposta do laboratório é de incluir o centro de contacto num discreto auricular que acompanharia o uso das mesmas e seria indispensàvel à recepção do som. De acordo com os consumidores, a quase invisibilidade do aparelho é o factor mais atraente, e a principal razão porque, apesar do seu custo elevado, começa a ser preferido face aos Vasto Mundo que, embora existindo em diversos estilos e em parceria com famosas casas de design internacionais, nunca foram capazes de vencer completamente o incómodo interface «óculo».[Agência Nacional de Notícias, 09.01.2019s]

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08 Janeiro 2008

AS SOCIEDADES ALTERNATIVAS EM DEBATE. Foram ontem apresentadas na Faculdade de Ciências de Lisboa as primeiras observações de um estudo efectuado sobre o efeito das tecnologias modernas na definição de identidades alternativas. De acordo com a proposta inicial do projecto, a possibilidade de comunicação directa e instantânea entre pessoas distantes no espaço, quer pelos tradicionais meios de contacto quer pelos progressos recentes da tradução automática, estarão a criar grupos de interesses comuns que evoluem para verdadeiras e complexas sociedades virtuais, adoptando regras de conduta, linguagem, estratos sociais e inclusive, em exemplos mais sofisticados, leis e tributação fiscal das receitas auferidas no próprio espaço virtual, e fora dele. Representando na maioria dos casos, espaços alternativos de expressão pessoal, a taxa de aderência não se restringe a camadas mais jovens ou mais idosas, mas todos os níveis etários, nos quais se pode encontrar a gama completa de participantes: desde o pontual ou curioso, designado no meio por turista acidental, que investe pouco mais de um porcento do tempo disponível anualmente, aos ocupantes permanentes, que são capazes de investir noventa a cem porcento do tempo disponível, parando apenas para trabalhar e dormir. O que os motiva a esta existência paralela? Quase sempre a necessidade de obter controlo sobre as circunstâncias que os desagradam no mundo real, desde vicissitudes da fisionomia pessoal, falta de património financeiro, falta de iniciativa, à própria incapacidade de integração social e profissional. Por vezes, o desagrado face à organização e tecnocracia das sociedades modernas também conduz a que uma certa camada procure realização em terras de fantasia épica ou medieval, concebidas sobre parâmetros mais simples que as verdadeiras culturas históricas. Resultado da colaboração de docentes portugueses com congéneres da Faculté des Sciences et Techniques de Lille, o estudo observa ainda o crescimento de negócios do mundo real vocacionados para fornecer produtos e serviços exclusivamente vocacionados para cada uma destas sociedades, obviamente com contrapartidas financeiras em dinheiro concreto. [Agência Nacional de Notícias, 08.01.2011]

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07 Janeiro 2008

NAVEGAÇÃO VIRTUAL DESSINCRONIZADA CAUSA PROVÁVEL DE ACIDENTE FATAL? O sistema de vigilância da Segurança Civil registou a ocorrência junto da vila de Tortosendo de um acidente com um veículo ligeiro pelas 23h42 de ontem, causando a morte a dois dos quatro ocupantes. O automóvel seguia pela estrada de ligação à Covilhã e despistou-se a cinco quilómetros de saída da vila, ao não acompanhar o início de uma curva, sendo projectado para fora da via e acabando por embater no muro de resguardo de uma moradia desocupada. De acordo com o relatório oficial divulgado, a capacidade de protecção do habitáculo interno do carro ficou comprometida pela elevada velocidade em que este seguia, causando ferimentos graves nos ocupantes, que se tornariam fatais para dois deles antes da chegada da equipa de socorro. O relatório salienta que, dadas as condições atmosféricas de elevada pluviosidade e nevoeiro, bem como as condições impróprias do terreno, havia um nível médio-elevado de risco na velocidade em que o veículo prosseguia, e que o condutor terá sido avisado dos perigos inerentes pelo computador de bordo. Contudo, também ressalva que há indicações na caixa-negra de que avançariam guiados pela condução virtual, a qual se encontrava suportada por um sistema avançado de projecção dos limites da estrada no vidro dianteiro, complementando a baixa visibilidade e aumentando a segurança da rapidez da marcha. Entre as explicações possíveis para o acidente, tendo sido excluída a falha mecânica e encontrando-se em avaliação por médicos legistas a causa humana, verifica-se a preocupante possibilidade de haver uma maior margem de erro para a projecção virtual do caminho do que indicada pelo fabricante, fazendo supor ao condutor que a curva em causa se situaria mais distante do que efectivamente estava. Esta possibilidade está a ser ponderada pela imprensa, e pela família das vítimas, que anunciaram estarem a considerar um processo contra os fabricantes do sistema de condução virtual. [Agência Nacional de Notícias, 7.01.2017]

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04 Janeiro 2008

CRESCIMENTO DA ECONOMIA DO FAVOR. Se precisar de encontrar um canalizador, uma oficina de reparação automóvel, um carro com motorista para o fim de semana, um dentista para uma emergência, uma ama para os filhos, a quem recorre? Noventa porcento dos leitores indicarão os motores de busca da internet, os portais comunitários ou as listas telefónicas. Nove e meio porcento perguntarão aos amigos e familiares. Apenas meio porcento, segundo estatísticas recentes, se lembrará de pedir ao banco. Contudo, numa crescente tendência de apoio e acompanhamento do estilo de vida dos clientes em todos os aspectos, e pressionados por um mercado altamente competitivo, de margens baixas e regulamentação apertada, a indústria bancária começa a apostar fortemente num novo conceito de serviço global, distante dos tradicionais produtos financeiros. Esta abordagem assenta no conceito do «banco de favores», no qual a moeda de troca é a prestação de um serviço pessoal ou profissional (o «favor»), sobre o qual não recai, geralmente, um pagamento directo mas uma determinada pontuação, atribuida segundo regras de mercado em todo semelhantes às da moeda corrente, e que pode ser acumulada, ou depositada, junto dos bancos. De igual forma, o valor acumulado das pontuações dos «favores» que prestou poderá ser utilizado para recorrer aos serviços prestados por outras pessoas no mesmo regime, não necessariamente a pessoa a quem fez o favor inicial. Assim, imagine que o leitor é o canalizador acima referido, e que ao responder ao apelo da pessoa necessitada acumula determinado saldo na conta que abriu na instituição financeira – chamado o saldo de «boa vontade»; poderá então utilizá-lo para pedir a assistência de uma empregada doméstica para lhe limpar a casa, ou de um estafeta para fazer um recado, ou de alguém que simplesmente vá passear o seu cão. Todos os favores são válidos, desde que não violem nenhuma lei em vigor, e geralmente não podem ser trocados por valores pecuniários (embora tenha recentemente surgido um mercado paralelo de venda dos favores acumulados). O benefício para os bancos é evidente: não só expandem a relação com os clientes como fazem crescer os índices de fidelidade; e por cada favor prestado ao abrigo deste serviço, o banco reserva uma percentagem de comissão, também em pontuações de favor, que é normalmente utilizada na contratação não remunerada de trabalho temporário não especializado, para atender call-centers e apoiar campanhas publicitárias. No entanto, é um preço que vale a pena pagar, pois os bancos oferecem uma segurança adicional que a maioria das listagens da internet não garante, ao requererem ao cliente provas de identidade no acto de inscrição e manterem uma base de dados comum ao mercado sobre a qualidade e integridade do prestador de serviços em causa. Serviços não-financeiros desta natureza não são de agora, mas só actualmente começaram a constituir um peso significativo na economia dos países ocidentais, pois trata-se para todos os efeitos de trabalho não sujeito a trocas financeiras, e logo isento de impostos sob a actual fiscalidade. Situação que, estamos em crer, não se irá manter durante muito tempo... [Agência Nacional de Notícias, 04.01.2012]

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