Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


31 Janeiro 2008

«FREE THE INTERNET» TEVE HOJE INÍCIO, Desde a primeira hora do dia que «Free the Internet» invadiu o espaço virtual e se encontra a ser difundido por todo o mundo, na internet e inclusive em centenas de canais televisivos e radiofónicos tradicionais. Considerado como o evento mediático internacional de maior audiência de sempre, esta maratona de quarenta e oito horas ininterruptas reúne as capacidades criativas de milhares de bandas musicais, realizadores, escritores, desenhadores, actores, duplos, cronistas, bloguistas, observadores informados, fotógrafos, pintores e artistas plásticos de todo o mundo, que partilham a característica comum de serem criadores individuais em início de carreira ou pouco conhecidos. Manifestam-se contra a tendência política para controlo do acesso e publicação de conteúdos na internet, surgida em consequência do ataque nuclear terrorista na Califórnia e que já teve como efeito a aprovação de leis estritas na América do Norte e na China, e a respectiva discussão nos parlamentos da União Europeia e da Orla do Pacífico. Segundo os criadores envolvidos na manifestação, a restrição à liberdade de expressão no mundo virtual apenas resultará na criação de elites culturais e na censura activa de opiniões divergentes da oficial, à semelhança do que acontecia na era dominada pela televisão. Não foram assim convidadas nenhuma das celebridades actuais, embora muitas tenham apresentado publicamente o seu apoio. Os manifestantes propõem-se assim a criar uma obra de arte global, durante estes dois dias, disponibilizando a totalidade da sua produção artística já existente para consulta e apropriação livre e gratuita por parte do público, e criando ao vivo novas obras no decurso do fim de semana. Não se limitando ao espaço virtual, colectivos de artistas sairam à rua para se exprimirem, pintando murais, declamando textos, organizando concertos, performances transmitidas em directo pela internet. E de acordo com o hábito associado a eventos assumidamente mundiais, teve início ao soar da meia noite no meio do Pacífico e terminará amanhã no extremo oriental do Alasca, no último minuto do domingo. Por isso, se tinha planos para este fim de semana, sugerimos que reconsidere e sintonize o seu computador. [Agência Nacional de Notícias, 31.01.2015]

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26 Janeiro 2008

DA VASTIDÃO DESTE OCEANO VIRTUAL um conjunto de memes para vossa consideração: Paolo Bacigalupi é entrevistado pela Wired sobre os motivos que o levaram a escrever FC - destaque para um telefonema bastante bizarro de um autor que não o é menos, e uma das melhores respostas à tentativa de apreciação crítica do entrevistador («Did you travel throughout Southeast Asia?», «Yeah.», «It was one of my questions on my list because I noticed that your stories happen all over the world. I was noticing that you had a real sense of...», «I faked it, right?»). Paolo recentemente explicou de forma detalhada o processo pelo qual um conto seu foi concebido. Compare-se este com o resumo das lições aprendidas por Jeff VanderMeer no decurso da produção de uma longa novela passada no universo dos Predadores, e ficarão com um brevíssimo how-to para se iniciarem nas lides literárias (e face às recentes movimentações do nosso mercado, e às que estão para vir, a posição de autor parece ser mais vantajosa no futuro do que a de pequeno editor...). Quem não gosta de pagar por cultura, já pode ficar com mais uns euros para desperdiçar numa discoteca, uma vez que Jeffrey Thomas disponibilizou uma versão gratuita do romance Deadstock, que decorre em Punktown, um vilarejo americano onde cai a escumalha do universo. Também gratuita, a leitura que Ursula Le Guin iniciou no seu site de algumas das suas peças - poemas, excertos de romances; para quem, como eu, já a tinha ouvido ler anteriormente com imenso prazer, esta experiência tem-se revelado uma inesperada desilusão. E Alastair Reynolds, que recentemente critiquei de forma menos positiva, promove a sua noveleta recentemente nomeada para o Prémio Britânico de FC, The Sledge Maker's Daughter. Terminamos esta incursão com um longo documentário sobre a vida e obra de Philip K. Dick:

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25 Janeiro 2008

DA PERENIDADE DAS COISAS TÉCNICAS. Nem bem o João agraciava a iniciativa que desde o início do ano vinha a desenvolver neste blogue (e que, como é costume na nossa blogosfera do género português, àparte esta honrosa excepção, tinha sido recebida com a inevitável indiferença ou incompreensão, e quase certamente continuará a sê-lo...), quando um problema de ordem técnica (modem) me impossibilitou o acesso à internet durante alguns dias. Um manancial de informação residente por esse mundo fora, e continuamos a precisar de linhas telefónicas para comunicação e de um descodificador de emissão e leitura de bits... Não estamos muito longe, afinal, do ZX Spectrum e das sinfonias pós-modernistas de cinco minutos das suas cassettes. É da natureza dos mecanismos falharem. Por quebra, desgaste, acumulação de erros, a acção do tempo. Não poderia haver melhor indício de que a nossa tecnologia ainda se encontra na fase de infância do que o precisar de uma vigilância contínua, do olhar avaliador e das mãos hábeis dos engenheiros, arquitectos e outros técnicos, como pais de um recém-nascido. Profissionais que investem a sua vida - e por conseguinte, são um investimento da sociedade - no conhecimento pormenorizado das engrenagens e ligações electrónicas que fazem andar as máquinas que sustentam o actual contrato social. Eles sabem que não se trata de mágica, mas que tudo se encontra colado de forma muito frágil e perene. Que um abanão violento fará soçobrar grande parte do edifício - ruínas na bolsa, transacções financeiras impedidas ou enganosas, desvio fatal de transportes aéreos, sobreprodução de materiais supérfluos... as decisões nas quais baseamos importantes actos da nossa vida dependem do correcto funcionamento destes mecanismos e na eficiente transmissão de informação. E cada vez mais assim é. E no entanto, se um carro se avaria, se um computador começa a soltar fumo, se uma televisão de repente passa a transmitir programas de qualidade e a legendar as comunicações políticas com disclaimers pertinentes, sabemos que algo correu mal. Na maior parte dos casos, necessitamos dos cuidados de um especialista. Na maior parte dos casos, a máquina não se sabe reparar a si mesma, não tem mecanismos de auto-avaliação e substituição. Ao contrário dos nossos corpos, que são máquinas de precisão extremamente complexas, conjugando sistemas díspares e que no entanto conseguem trabalhar em conjunto para a sustentabilidade de um organismo superior (inclusive aquele tipo que passa os fins de semana de cuecas a coçar o baixo-ventre, a beber cerveja e a arrotar, enquanto resultado de milhões de anos de evolução e de uma crescente complexidade, é digno de admiração...), a qual requer a existência de sistemas defensivos e auto-reparadores (caso contrário, em breve cairiamos vítimas de todas as doenças e maleitas que nos afectam, e as mais pequenas quedas, cortes e acidentes deixariam marcas que nunca iriam sarar). Enquanto as nossas máquinas não tiverem a principal característica de autonomia - auto-reparação, procura de fontes energéticas para funcionamento -, enquanto estiverem dependentes de nós, nunca constituirão uma tecnologia madura, eficiente e com real capacidade de sustentação da humanidade. A Ficção Científica na maior parte ignora isto. É muito rara a história que compreenda a natureza falível dos mecanismos. Mesmo os pós-ciberpunkicos do mundo virtual, Doctorrow e Stross entre eles, pressupõe um nirvana de contínuo uptime, no qual os sistemas estão continuamente ligados entre si e não padecem de problemas de largura de banda, necessidade de chaves de descodificação e autorização, e tudo é livre e democrático. Na Galactica, no meio do espaço, no vazio absoluto do universo, em que a tecnologia é absolutamente essencial para a existência de um ambiente propício à vida, continuamos a encontrar engenheiros a reparar fisicamente uma nave sem fábricas de peças de substituição, numa atitude própria do paradigma tecnológico do século XX (lá nos atiram com a desculpa de desmontar navetas e passar as peças de umas para as outras, como se nunca existissem problemas de compatibilidade nem houvesse a possibilidade de uma falha sistémica de um componente-chave comum ao modelo em questão). A máquina doente não sara. Não se reconhece como doente. Não percebe que o espirro é um sintoma. Não distingue entre vida e eutanásia. A Ficção Científica devia ter isto em consideração (e agora, com internet recuperada, o projecto Anteficções - Histórias de um Porvir Lusitano continuará de boa saúde, obrigado).

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17 Janeiro 2008

PORTUGUÊS CONQUISTA MEDALHA DE OURO INCREMENTADA. António Soto conquistou ontem o lugar cimeiro do pódio nos Jogos Olímpicos Incrementados a decorrer em Santiago do Chile na modalidade de maratona-extensa. Percorrendo os setenta quilómetros regulamentares em pouco menos de cinco horas, António chegou à meta adiante dos colegas do Bostswanna (Emidh Zareg) e do México (Luíz Alvares), segundo e terceiro lugares respectivo. Esta é a primeira vitória internacional para o jovem atleta português, que já se sagrara campeão nas maratonas incrementadas de Vila do Conde em 2015 e da Bacia do Tejo em 2016. Embora não tendo conseguido quebrar o recorde mundial que o americano Joshua Mirales estabeleceu na edição anterior dos Jogos Olímpicos Incrementados, António mostrou-se no entanto muito contente com a vitória e com o seu próprio desempenho, comunicando à imprensa que tinha sido fundamental o programa inovador de incrementos a que havia sido sujeito. Destes, destacou em particular a combinação cuidadosamente estudada de intensificadores de reparação de microdanos musculares, oxificadores de gordura e reconversores de glicose da farmacêutica NovAtleta, e dos novos gels energéticos de consumo duradouro da empresa alimentícia Estroia, vocacionados para os profissionais da competição desportiva. O progresso de Soto foi também monitorizado por sensores corporais da 1Body1Soul, um novo sistema de acompanhamento biométrico remoto com a possibilidade de informar a evolução de uma centena de indicadores de desempenho motor, quase o dobro dos sistemas vigentes, com uma taxa de actualização e resposta na ordem dos cinco segundos. Esta combinação vencedora permitiu, não só ao atleta manter o ritmo por períodos mais longos com um consumo de glicose constante, como possibilitou aos treinadores dosearem com maior precisão a libertação de estimulantes, sais e outros elementos na corrente sanguínea do atleta no decurso da prova, à medida que seriam necessárias. Com esta vitória internacional, Soto irá decerto tornar-se no novo rosto publicitário das empresas de vida incrementada. [Agência Nacional de Notícias, 17.01.2018]

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MAIS DOS MELHORES. E depois de Dozois, agora é Rich Horton, cujas antologias separam tematicamente Ficção Científica dos contos de Fantasia, a apresentar a selecção das melhores histórias curtas do ano passado.

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APRESENTADO PRIMEIRO CÃO FALANTE. Numa cerimónia promocional que teve lugar no Pavilhão Robótico das Azenhas do Mar, a multinacional YourHumanPet apresentou à imprensa a nova gama de produtos de mascotes e acompanhantes não-humanos inteligentes. Resultado dos mais recentes avanços em neurobiologia e engenharia genética, a empresa investiu milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento de uma gama de animais domésticos com a capacidade de comunicar intelectualmente com os donos. Dotando os referidos animais, essencialmente cães e gatos de raças seleccionadas, de cordas vocais humanas simplificadas e de uma capacidade cerebral incrementada na área específica da linguagem, a iniciativa teve como objectivo desenvolver-lhes a capacidade de poder interagir através da fala humana. Foram então convidados os representantes de imprensa a estabelecer contacto com os animais presentes na ocasião e efectuar-lhes solicitações. Conforme advertiu o porta-voz da empresa, não seria possível estabelecer conversas cognitivamente complexas, porque o vocabulário é limitado e a mentalidade equivale à de uma criança de quatro ou cinco anos. E de facto, quando inquiridos nessas áreas, os animais não souberam responder, embora tivessem sido solícitos quando se lhes pedia para irem buscar um jornal, umas sandálias, uma cerveja, desligar a televisão, abrir a porta, ligar o forno ou efectuar algum outro pedido semelhante com algum dos artigos presentes para efeitos de demonstração. Foram extraordinariamente atenciosos quando se lhes pedia para lamber as mãos dos jornalistas ou saltar-lhes para o colo, e não se coibiam de anunciar que tinham fome ou queriam afagos. A empresa mostrou expectativas muito positivas de penetração no mercado, e no final apresentou um teaser das gamas dedicadas à classe alta (essencialmente a nível de equíneos de lazer e competição) e à agricultura (animais de pasto). Logo, já sabe: o seu animal de estimação perceberá quando lhe pedir as pantufas, mas ainda não é desta que o vai convercer a ler-lhe o tal livro em voz alta... [Agência Nacional de Notícias, 16.01.2021]

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15 Janeiro 2008

CASA VERDE NA COSTA PORTUGUESA. António e Maria Silveira, ele natural de Pegões, ela proveniente de Pampilhosa, não são apenas mais uma história de um namoro de faculdade que terminou em casamento. Ambos doutorados em Biologia, foram nomeados representantes portugueses do projecto europeu Habitar na Natureza, a par dos seus congéneres britânicos, italianos, franceses e polacos, cuja missão era determinar soluções para tornar os espaços citadinos mais amigos do ambiente. «A cidade é um organismo complexo», afirma António Silveira, «como nós próprios somos, e tem necessidades iguais a nível de obtenção de alimentos, processamento e uso, e depois expulsão.» As oportunidades de melhoria acontecem então «a cada passo deste processo, e o projecto devotava-lhes áreas específicas.» Uma das abordagens propostas pelo projecto era a obtenção inicial de um conjunto de medidas de rápida implementação, e que atacassem os problemas mais urgentes. O casal decidiu tentar reduzir o nível de dióxido de carbono da atmosfera, para contrapôr as emissões diárias produzidas pelos espaços citadinos. Recorrendo a desenvolvimentos recentes na síntese de plantas com eficiência acrescida no processo de crescimento, propuseram a criação de um organismo celular quase totalmente composto por clorofila, que seria utilizado para revestir as paredes das casas e dos prédios, aumentando para todos os efeitos o que se denomina por área verde das zonas residenciais. De espessura ínfima, para não causar impacto significativo no nível de luminosidade captado pelos arranha-céus, o organismo, desenvolvido a partir de uma trepadeira comum geneticamente modificada, encontra-se em fase de protótipo, estando a ser experimentada a sua actuação e medidos os resultados nos terrenos da Universidade de Varsóvia. O casal Silveira, contudo, está bastante confiante na sua criação, e pediu autorização para cobrir a nova moradia da Ericeira e expandir o grau de pesquisa. [Agência Nacional de Notícias, 15.01.2013]

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14 Janeiro 2008

RECOLHA DE AMOSTRAS GENÉTICAS CHEGA A SANTA COMBA DÃO. A iniciativa europeia Man From the Beginning, que se propõe criar um arquivo genético da evolução das sociedades humanas pela recolha de material biológico encontrado em escavações arqueológicas e cemitérios antigos, irá na próxima sexta-feira dar início à exumação do corpo de António de Oliveira Salazar, o antigo ditador português, agora que se aproximam os cinquenta anos sobre o seu falecimento. Segundo o representante da equipa de investigadores, a obtenção de amostras de personalidades conhecidas do passado recente é «importante porque existe um enorme conjunto de informação sobre a sua vida, personalidade e obra, a qual podemos cruzar contra a estrutura genética que as caracterizou.» Os cientistas pretendem assim investigar o fenómeno do surgimento de figuras de liderança a nível biológico, de forma a complementar os estudos de comportamentos sociais e culturais, e tentar encontrar «traços comuns que possam ter contribuido para o respectivo surgimento.» Nesse mesmo sentido, irão procurar exumar outras personalidades europeias do século passado, como Churchill, Estaline, De Gaulle, Ceauşescu, em detrimento de outras mais antigas sobre as quais subsista dúvidas na autenticidade dos restos mortais. Estranhamente, não se verificou oposição significativa das entidades culturais e políticas do país, e mesmo os grupos de esquerda clássica emitiram um breve comunicado sobre o assunto, minimizando o acontecimento e chamando a atenção para as opiniões da comunidade de cientistas que se pronuncia contra a irrelevância de novamente se tentar procurar tendências genéticas para explicar o que já é perfeitamente justificado pelas teorias de dinâmica social, e no processo consumir fundos que seriam melhor utilizados noutros fins. Seja como for, o município de Santa Comba Dão prepara-se para benefeciar da publicidade inesperada e aumentar as receitas da região, tendo preparado uma forte e provocadora campanha publicitária, a par de um conjunto de festividades musicais para as quais já foram vendidos acima de dois mil bilhetes. [Agência Nacional de Notícias, 14.01.2020]

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12 Janeiro 2008

O MELHOR DOS MELHORES, ou pelo menos uma das mais fiéis tradições deste processo selectivo: Gardner Dozois acaba de anunciar a lista de contos que farão parte do seu Best Of dedicado a 2007. Os nomes habituais encontram-se presentes - Silverberg, Sterling, Baxter, Chian, Asher... um dos últimos grandes e respeitados bastiões de defesa da Ficção Científica enquanto género puro e inadulterado contra o excesso da fantasia comercial e de índole juvenil que todos os anos é responsável pelo abate de florestas. Entretanto, pela minha parte continuo numa lenta incursão pela edição referente a 2006. Em breve novas apreciações.

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