Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


21 Junho 2008

UMA FÁBULA DA NOSSA CIVILIZAÇÃO? Quem é neste caso a criança fechada numa sala escura, sacrificada pelo bem da Utopia? Quem é ela, para si? Quando fecha os olhos, qual é o rosto que o assombra?

Em Omelas, ela está escondida da vista pública, guardada no cofre, deixada lá a sofrer. Contudo, assim é fácil: longe da vista, longe do coração. A capacidade humana para a empatia pelo sofrimento dos outros só chega a determinado ponto: a partir daí, os velhos mecanismos de sobrevivência passam a funcionar, e o pensamento normal é «antes ele do que eu». Le Guin teria conseguido uma história diferente, e uma análise mais profunda sobre o comportamento humano, se a sociedade obrigasse a que, quando a criança sacrificada morresse e fosse necessário substituí-la, todas as crianças de determinada idade fossem sujeitas a escolha; para poderem gozar a perfeição e a felicidade daquela forma de vida, todos os pais, todos os adultos e jovens, teriam de aceitar que um filho, um irmão, um amigo, lhes poderia ser retirado e teria de viver o resto da vida preso numa cela sem voltar a ter contacto humano, sol, liberdade (e, dadas as condições, possivelmente essa vida não seria sequer longa).

Aliás, vamos ser perfeitamente dramáticos e vamos colocar todas as crianças nessa cela, durante a fase de selecção, vamos fazê-las temer e borrar-se de medo da possibilidade de nunca mais sairem, vamos colocar pressão sobre essa sociedade para que escolha a vítima o mais rapidamente possível. As famílias querem as crianças de volta, assombrados pela lembrança dos dias terríveis em que, na sua infância, eles próprios habitaram aquele lugar horrendo. Vamos inclusive, para tornar o pecado absoluto, obrigar que a escolha seja feita por voto unânime. Todos têm de ser culpados, não há cartuchos em branco neste pelotão de fuzilamento. Não há a possibilidade de redenção. Vamos tornar todos cúmplices, nesta sociedade-modelo perfeita e absoluta e feliz, da condenação consciente à miséria de um inocente apenas para benefício próprio. Se não escolherem, as crianças não saem. Se alguém não votar, as crianças não saem. Se alguém votar diferente, as crianças não saem. E uma escolha tem de acontecer. Mesmo para os pais da criança. Sacrificar o seu filho único. Escolher um de entre os seus rebentos. Pode ser o teu irmão, pode ser a criança do vizinho que vinha bater-lhe à porta em noite de festa.

A escolha feita dá lugar ao alívio dos restantes pais, ao alívio das crianças libertadas, à possibilidade de retomar a normalidade dos dias; excepto para um. Excepto para uma das crianças, condenado para a vida, sem possibilidade de recurso.

Na verdade, para todos. Agora que tinham participado num sacrifício consciente e deliberado de alguém que consideravam inocente (não era um estrangeiro, não era uma minoria, era alguém integrante na comunidade), estavam moralmente tão presos quanto a criança, igualmente fechados numa cela, embora esta fosse dourada e cheirasse a campo.

Sim, teria sido uma história bastante diferente.

Desistiriam de Omelas, vocês que tinham passado por este trauma? Iriam para uma cidade desconhecida, outro país? Fugiriam para o campo, tornar-se-iam eremitas? Será que no fundo dos vossos espíritos não teriam receio de que a outra cidade tivesse rituais bizarros, ainda mais cruéis, mas sem dúvida desconhecidos (porque obviamente nunca ninguém menciona o assunto), a que tivessem de se sujeitar? Será que desta vez não seriam vocês os sacrificados?

O contrato social é algo terrível. Todos nós temos crianças fechadas naquela cave, a sofrer, a morrer aos poucos. Há quem consiga não viver com isso. Mas é parte integrante da condição humana. Estamos todos conscientes disso, ou a própria autora, tendo descrito uma sociedade utópica e imaculada, não perguntaria «Acreditam no que vos conto? Aceitam a realidade do festival, da cidade, de toda esta alegria? Não? Deixem-me então mostrar-vos mais uma coisa.» 

E se chegaram até aqui sem perceber o contexto inicial da minha mensagem, obrigado por isso, e resta-me apenas informá-los que me refiro ao conto «The Ones Who Walk Away From Omelas», da mestre Ursula Le Guin, publicado no período de activismo político da sua obra literária, e cujo texto podem aceder através de um link indicado neste blog. Infelizmente não está traduzido para português. «Aqueles que se Afastam de Omelas» poderia ser uma tradução possível, embora na minha opinião «Aqueles que Desistem de Omelas» seja o mais correcto.

E depois de o lerem, vão comprar Os Despojados na colecção da Europa-América. Dificilmente encontrarão outro romance no qual a especulação social, a consciência ética, a postura política e a dissertação filosófica estejam tão bem integradas. 

(Stephen King, em A Tempestado do Século, concebeu um cenário parecido, mas neste caso não se tratava de manter um estatuto de civilização, mas de um grupo de pessoas ameaçadas por ser todo-poderoso e demoníaco, e forçadas a escolher (por loteria) e entregar-lhe uma criança, para salvar as vidas de toda a cidade. Fazem-no por uma questão de sobreviência, não para manterem o conforto de uma civilização com sofás e televisões e carros e cinemas. Uma questão ética totalmente diferente.)

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15 Junho 2008

Cinco Horas de Terror em Directo. Passados dez anos do trágico 16 de Junho de 2017, que para sempre ficará na história da Europa como o dia das Cinco Horas de Terror, será transmitida amanhã no Canal 99, numa emissão directa e em simultâneo com canais europeus e alguns norte-americanos, uma recriação dos acontecimentos que captivaram a atenção do mundo e obrigaram a profundas alterações na indústria da aviação comercial. Este teledrama conta com a participação de uma vintena de actores e mais de duas centenas de figurantes, que irão actuar em cenários construídos para o efeito nos mais diversos centros de produção europeus. A transmissão será particularmente exigente a nível logístico, pois irá envolver a coordenação em directo entre vários países, bem como a sincronização precisa do ritmo narrativo – um relógio irá acompanhar o desempenho dos actores, desde o início do ataque informático ao momento em que os 120 aviões foram levados a despenhar-se, numa tentativa de recriação precisa dos momentos cruciais. A história, elaborada a partir dos relatórios oficiais, procura ser um testemunho isento, apresentando em igual medida o ponto de vista das vítimas, dos militares, do Parlamento e dos terroristas, e não poupará sequer as explicações técnicas de como conseguiram estes penetrar nos sistemas de controlo de tráfego aéreo. Afirma o press-release que é também intenção, além de manter viva a memória, relembrar as lições aprendidas e as medidas tomadas posteriormente para tornar a aviação comercial mais segura. [Agência Nacional de Notícias, 15.06.2027]

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13 Junho 2008

A GUERRA (E A ARTE) EM 3 DIMENSÕES. Embora a guerra seja verdadeiramente uni-dimensional. Brilhante ideia de Lisa Gieseke, penetrar num dos quadros mais famosos do mundo e analisá-lo assim ao pormenor (esperava que a câmara viajasse para o outro lado do quadro e o pudéssemos ver a partir dos bastidores, mas infelizmente não aconteceu).

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SOMOS A GERAÇÃO INTERMÉDIA. O autor deste artigo exprime preocupações sobre a forma como a internet e a disponibilidade imediata de informação relativa a qualquer assunto alterou a forma de lermos, aprendermos e trabalharmos o texto. Resumidamente, que a natureza livre e múltipla da internet distrai a atenção, torna os métodos de escrita irrequietos, obriga-nos a procurar o próximo e-mail, o próximo artigo, e no entanto, quando o encontramos, limitamo-nos a passar os olhos sem realmente "ler com profundidade". 

Revejo-me em algumas dessas preocupações mas não em todas. Na minha perspectiva, creio que sucede o paradigma do vício da viagem: defrontado com a opção de encruzilhada após encruzilhada sucessiva, podendo atingir o destino qualquer que seja a opção escolhida, o acto de viajar torna-se tão interessante (ou mais ainda) que chegar onde se pretende ir, e o que teria sido um breve percurso torna-se numa errância eterna. Sabemos que o mundo na ponta dos dedos é infinito e não conseguimos coibir-nos de ir um pouco mais além, mais uma página, mais um acesso, como se nesse vôo infinito conseguíssemos obter a totalidade do conhecimento humano (algo a que poderia chamar de Síndrome do Conde de Monte-Cristo - fechado na prisão, absorvendo o conhecimento da espécie humana resumido em 150 livros...). E contudo, há sempre um conjunto de páginas, websites, a que retornamos, vez e outra, confirmando a sentença (já não me lembro de que autor) que a espécie humana "pertence, efectivamente, a espaços pequenos".

Outra questão se prende aqui, supostamente: que a percepção do valor de um texto é mais rigorosa. A qualidade dos artigos, das notícias e das entradas nos blogues está imbuída de uma falta de rigor e de uma permissividade de discurso pouco apelativa à leitura profunda a que o autor se refere. A culpa não é do meio (e daí, por ser tão fácil publicar, talvez seja), mas essencialmente de quem o usa, e usa mal. É muito inferior a qualidade e a relevância da escrita na internet que a da forma impressa. Tratar-se de uma plataforma universal que ostenta textos e os disponibiliza mundialmente com custo quase nulo impele a que seja utilizada com natureza conversacional. A dificuldade de publicação que ainda caracteriza a forma impressa, quer devido a custos quer devido à imposição dos editores, continua a servir de filtro importante para manter a coerência dos critérios de escolha (e daí, a facilidade de acesso a novos e mais económicos meios de impressão reflectem uma tendência semelhante à da internet). O estilo genérico do que se lê online é de quem mantém uma conversa oral, de quem intervém com um comentário, uma observação espontânea mas não necessariamente aprofundada. À grande maioria dos artigos falta ritmo, progresso, discurso, estrutura. São feitos por escritores em regime freelancer em torno de palavras-chave para manter a atenção dos motores de pesquisa nos sites para quem trabalham, e pagos miseravelmente a poucos dólares por conjuntos de 300 ou 500 palavras. Quando há necessidade de produzir milhares de palavras por dia para ter um mínimo de rendimento, que vontade há de escrever decentemente? E assim se enche a internet de lixo. E assim baixa a qualidade média dos textos. E assim não é de espantar que a atenção vagueie, que não se leia mas se passe os olhos por cima. O cérebro procura informação nova e genuína, e se o autor não reflectiu sobre o que escreve, porque haveria o leitor de o fazer?

E também há o seguinte: somos a geração intermédia. Somos o saco de pancada que está a ser posto à prova com as novas tecnologias. Aprendemos a brincar em carrinhos de madeira com rodas, com piões, com berlindes. Os nossos filhos organizam estruturas sociais no mundo virtual com participação de elementos de todo o mundo. É um admirável mundo novo.

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11 Junho 2008

DE TRÍPTICOS E OUTROS DEVIDOS. É sempre um risco apresentar publicamente projectos de natureza literária ainda não terminados. Alguns livros escrevem-se em três dias (Dr. Jeckyl e Mr. Hyde), outros numa noite prolífera (O Guardador de Rebanhos), outros resultam de uma teimosia de décadas (Jonathan Strange e Mr. Norrell). O problema pode ser incompreensível para quem nunca atravessou o deserto - nem sempre os livros obedecem à vontade do dono, ou mais honestamente, nem sempre o dono conhece a sua própria vontade. Longe de ser um capitão de fragata, torna-se ocasionalmente num Ahab louco (passe o pleonasmo) em busca da mancha branca no horizonte que está sempre a escapar-lhe. Perde dias e dezenas de páginas a seguir um beco sem saída para em seguida as rejeitar, desconfiando do rumo e da qualidade do texto, e voltar ao início. Partiu-se de uma doca com velas enfunadas em direcção a um mar acolhedor, mas sem ideia de destino, confiante no surgimento atempado do Novo Mundo, e vai-se navegando até que finalmente o escorbuto, a fome e uma tempestade lançam o golpe de misericórdia sobre o empreendimento. (Se recorro demasiado hoje a metáforas náuticas é consequência da crise dos combustíveis.) Obviamente que estas dores de parto apenas ocorrem a autores que não seguem uma carreira literária - os demais têm de cumprir prazos e satisfazer o editor, como qualquer mortal o seu patrão, o que implica traçar um plano inicial de enredo, apresentar propostas a editoras e seguir esse plano com ritmo e prazos pré-estabelecidos. Assim os que mais vendem são também os que mais produzem, e os restantes arrastam-se nos intervalos dos tempos livres. Divagação esta que surge a propósito de uma promessa efectuada no decurso do Fórum Fantástico do ano passado e que foi posteriormente comunicada à imprensa. Uma promessa que, embora de índole não estritamente profissional (nenhum dos envolvidos tem por principal - nem sequer por secundária - fonte de rendimento a escrita), não obstante tem merecido algumas interrogações por parte do pouco público, o que denuncia, acima de tudo, que os responsáveis têm andado um pouco distraídos na divulgação.

A promessa em questão referia-se ao primeiro tríptico da Ficção Científica portuguesa, ou seja, um conjunto de três histórias passadas num universo/enredo comum e partilhado, feitas por três autores distintos. Com o título genérico e bastante sugestivo de A Bondade dos Estranhos, contará com a participação de João Barreiros, João Seixas e moi même.

«O Projecto Candy-Man», pontapé de arranque da história, foi lançado em finais de 2007 pelas Edições Chimpanzé Intelectual (até ao final da semana no pavilhão dos pequenos editores da Feira do Livro de Lisboa), e serve como movimentada introdução (embora deva também ser lida como uma história completa em si mesma) a um futuro imediato no qual o nosso planeta é obrigado a lidar com a presença incómoda de três espécies extra-terrestres extremamente distintas entre si e não necessariamente amistáveis. Neste primeiro livro, o João Barreiros apresenta-nos Joana, uma jovem vitimada por uma experiência secreta do Governo que se vê a braços com uma tarefa que lhe pode custar a vida... A sequência deverá ser continuada por João Seixas, com o título bastante prometedor de «A Alma do Louva-a-Deus», ficando para mim reservada a terceira parte e acto de encerramento (ainda sem título).

E digo «será continuada» porque, se o primeiro livro aguardou alguns anos antes da publicação, os restantes continuam em fase de concepção, e estão a ser elaborados sequencialmente, razão pela qual não se podem apresentar datas firmes e seguras. A história tem crescido de forma peculiar e orgânica, da qual premissas anteriores conduzem a viragens de enredo inesperadas (qual cadáver esquisito semi-destapado), pelo que capítulos posteriores apenas irão assumindo a forma final à medida que os anteriores estiverem escritos e concretizados. O que é um desafio em si mesmo. Caso contrário, escrever não passará de encher carne num esqueleto, e se isso é adequado para escribas a metro, não iguala o prazer de ser-se leitor da própria obra em crescimento e logo desconhecedor da aventura no virar da página.

Futuramente vos trarei mais considerações sobre este universo, sobre os desafios da escrita em conjunto e sobre a possibilidade de comentário social ao nosso presente que a estrutura destas sociedades alienígenas permite. Fica aqui um relembrar da promessa e a indicação de que o projecto não está esquecido.

O Projecto Candy-Man, de João Barreiros, Capa de João Maia Pinto

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10 Junho 2008

UM CHEIRINHO DE FUTURO. Um pequeno vídeo inspirador sobre visões de computação ubíqua e móvel, na qual os dispositivos comunicam todos entre si numa linguagem comum. Para um engenheiro este é um desafio de décadas, para o leigo é uma preocupação bizarra - se afinal as máquinas são concebidas por nós e não surgem por geração espontânea, porque não se definiu à partida a tal linguagem comum, porque é isto um desafio? Na resposta a esta questão, encontra-se um modelo de como as sociedades humanas evoluem e da razão de falarmos centenas de linguagens e outros tantos dialectos: há sempre alguém que prefere fazer à sua maneira, isolado, e os outros que o sigam... Também neste vídeo um pressuposto sobre o futuro que em poucos anos o tornará datado: para interagir com a tecnologia móvel é necessário um outro dispositivo tecnológico, uma bengala de acesso, neste caso representado por um PDA vitaminado. E de que outra forma, perguntarão vocês? Eis uma pergunta que uns certos senhores começaram a colocar há cerca de vinte anos... [Via Artur]


Moblinux
Colocado por archizero

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Causas Desconhecidas de Explosão em Fábrica Portátil Uma forte explosão fez-se sentir na passada madrugada, cerca das três da manhã, nas instalações da Eten&Drinken, multinacional holandesa cuja filiada nacional se situa num dos apartamentos de fábricas portáteis do edifício industrial da Bobadela. De acordo com os peritos, a explosão terá resultado da emissão e acumulação excessiva de gás metano decorrente do processo produtivo, para a qual contribuiu a localização numa zona do complexo fabril com baixo nível de expulsão de resíduos gasosos. Interrogado sobre esta situação, o representante dos proprietários do complexo declarou que não se encontrava no manifesto de requisitos da multinacional emissões daquele tipo de compostos, razão pelo qual a fábrica se situava na zona mais interior do edifício. A situação tornou-se mais complexa quando, às primeiras horas da manhã, a sede da Eten&Drinken emitiu um comunicado de empresa na qual afirmava que a filiada da Bobadela não era responsável por nenhuma substância da qual pudesse resultar metano ou qualquer outro gás potencialmente explosivo como substância residual, atribuindo as causas a uma possível má gestão do edifício industrial, a uma quebra acidental do espaço selado onde conduziam as operações ou a acção criminosa intencional por intermédio de uma infecção viral da linha de fabrico. Investigadores das seguradoras das várias empresas envolvidas, incluindo, segundo fonte segura, da americana do sector da saúde social No To Drugs cujas instalações fabris se localizavam no apartamento contíguo e que ficaram danificadas em resultado da explosão, foram já chamados a Lisboa para conduzir análises independentes. Ressalve-se que o a Eten&Drinken pertence a um jovem consórcio económico europeu do sector alimentar que nasceu da revitalização económica do Plano de Antuérpia e que em poucos meses, graças a uma engenhosa campanha de marketing invertido, conquistou exigentes mercados, como a França e os países ibéricos, com uma oferta diversificada de complementos energéticos à dieta, orientados para uma diversificada gama de segmentos etários e a preços muito reduzidos. Para isto contribui uma inovação a nível da estratégia corporativa: basear o processo fabril em micro-instalações domésticas portáteis e auto-sustentadas, comandadas remotamente pela fábrica-mãe, cuja instalação em pisos ou apartamentos de edifícios industriais, dos quais o da Bobadela é dos exemplos mais recentes e modernos, albergando cerca de cinquenta diferentes complexos fabris, permite ter custos de ocupação de espaço quase nulos e recorrer aos canais de distribuição partilhados do edifício para escoar os produtos fabricados. As investigações demorarão vários dias, possivelmente semanas, período durante o qual a transacção em bolsa dos títulos de participação da empresa permanecerão congeladas ao abrigo das Leis de Protecção aos Investidores. [Agência Nacional de Notícias, 10.06.2018]

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01 Junho 2008

O INTERESSANTE É QUE NINGUÉM PARECE NOTAR o efeito derradeiro que se retira da Praça LeYa, e de toda a discussão que ocorreu em torno desta, tal como se apresenta nestes dias húmidos e frios de Feira do Livro. Apenas Eduardo Pitta lhe faz menção («Editoras com fundos imemoriais, como a Asa, a Dom Quixote, a Caminho, etc., reduzidas às novidades dos últimos 15 dias»), mas como muitos considera que foi um acidente de caminho, um much-ado-about-nothing, e revê na luta de galos dos stands da Feira um incorrecto e ingénuo exemplo de como o mercado livreiro se comporta (senão não acrescentaria «Portanto, em vez da batalha campal, a concorrência devia estar agradecida. Dali não vem (não pode vir) prejuízo», esquecendo-se de que os canais de distribuição onde realmente se vende ao longo do ano não são tão democráticos quanto uma Feira que dá igual oportunidade a todos os editores). Se a escaramuça LeYa terá partido de uma decisão consciente ou aconteceu como sucedâneo de uma mais vasta estratégia de gestão (cujo aspecto trapalhão e prepotente como terá sido conduzida escondeu o facto de ter, aparentemente, resultado de uma decisão súbita, como se tivesse surgido algum factor novo que levou os administradores a mudarem de opinião - o que, em linguagem de gestão de topo, significa normalmente uma oportunidade tentadora em vista), a verdade é que em pouco menos de seis meses, ninguém mais se lembra que terá existido uma Caminho, uma D. Quixote, uma Asa, nem restam quaisquer esperanças que as voltemos a ver como editoras ou marcas independentes, como antigamente o eram. Tudo agora é LeYa, vermelho e indiferenciado entre si, demarcado dos restantes. Assim se acaba com a reputação de décadas e a importância dos catálogos distintos de editoras sem as quais (se a LeYa tivesse partido do nada) o novo grupo não teria qualquer relevâcia no mercado. Livros e autores assim misturados no mesmo caldeirão, uma nova marca presente na consciência do público e dos meios de comunicação - eis o que se consegue com uma pequena polémica, envolvendo associações e Câmaras e influências óbvias. Que nunca mais se diga que os livros não se conseguem tornar em arma política, mesmo nesta época pós-censura em que se pensa que os romances servem principalmente para satisfazer as volúpias fantasiosas das solteironas e das mal-casadas... Algo é certo: a Praça LeYa não está ali para vender livros em grandes volumes, está ali para vender a marca LeYa. Se este foi realmente o propósito, se não estou completamente equivocado na minha leitura, tiro o meu chapéu de gestor. Eis uma manobra económica e eficiente. Contribuiram sem dúvida para tirar o mundo editorial português da situação de apatia e auto-comiseração em que se encontrava há muito, qual cordeirinho deprimido. Embora não creie que, pelo menos no curto prazo, venha daí algum benefício concreto para a cultura portuguesa. Até porque não parece ser esse a finalidade do grupo, muito ao contrário da estratégia da Guimarães. O que se segue, agora que esta única e super-poderosa marca com um imenso goodwill acumulado se tornou presença efectiva e consolidada? Arrisco-me a adivinhar: venda antecipada antes do final de 2009? Talvez a algum grupo importante do Brasil, de Espanha? Seguiremos a telenovela com muito entusiasmo.

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O SOLDADO QUE MORRIA EM ALGIERS. A descoberta do mundo literário sempre se assemelhou ao mecanismo da internet, razão possível pela qual a natureza das páginas (hiper) ligadas seja, de certa forma, intuitiva. Uma citação discreta num texto biográfico, uma menção de memória que desperta curiosidade. Universos assim contidos em meras frases, cuja viagem de descoberta pode mudar o rumo do nosso destino. Sem isso não teria procurado por Stephen Crane (autor da Red Badge of Courage) e sido impelido a ler «The Open Boat» - tudo porque Dan Simmons, num texto que me encontro a traduzir para a próxima Bang!, o considera como um dos melhores contos jamais escritos. É fácil perceber porquê. E felizmente que tenho a maravilha do mundo virtual para vos poder apresentá-lo, aqui, assim, sem esforço.

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27 Maio 2008

E POSSIVELMENTE JÁ SERÁ DO CONHECIMENTO DE TODOS, pelo menos se têm por hábito frequentar o Tecnofantasia.com ao invés de apenas subscrever o feed deste blog (tantos anglicismos para descrever as nossas actuais opções de vida!), mas surgiu no catálogo da Saída de Emergência o novo número da revista electrónica gratuita Bang!, que já vai no número 4. Este número reveste-se de particular importância porque:
  • contém um extenso artigo meu sobre as dores de parto da antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados, que, a não ser que morem noutro planeta, já devem estar fartos de saber que foi resultado de uma colaboração de dois anos entre a minha pessoa e o Jorge Candeias para abrir um espaço de publicação de ficção curta de literatura fantástica em língua portuguesa; se de facto moram noutro planeta (ou estão a ler este texto num outro site), têm aqui uma explicação mais detalhada; contudo, se moram em Lisboa ou arredores, ou planeiam por cá passar durante as próximas semanas, sugiro que dêem um salto à Feira do Livro de Lisboa, para arreganhar o cenho antes o mistério do parque LeYa (mais comentários num post futuro) e adquirir um exemplar da nossa antologia à venda no stand da Saída de Emergência (e porque a editora é malta porreira e tem bons livros, acompanhar com algumas das recentes edições deles - sugere-se vivamente a Criança Roubada, de Keith Donohue);
  • contém um conto de Wolmyr Alcantara, «Oberon», em gloriosa representação da nossa antologia, e que serve como gostinho para mais (assim não têm de comprar às escuras...);
  • e contém ainda a minha participação meta-literária à paisana, muito discreta, numa emocionante saga de João Barreiros sobre o estado actual da nossa literatura fantástica...

A somar a isto junta-se o regulamento da antologia Pulp Fiction à Portuguesa, que todas as semanas cresce em colaborações, e que irá manter-se aberta a colaborações até 31 de Outubro (o prazo inicial era o próximo 31 de Maio). Face ao interesse, à nossa aposta na qualidade e na apresentação de novos valores, e no adiamento estratégico da data de publicação para o início do próximo ano de forma a que o livro não se perca no meio das edições de treta habituais da época festiva, estendemos o período de submissão e leitura - já não precisam de terminar à pressa, aproveitem o Verão para polir as vossas emocionantes aventuras rocambolescas.

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