20 Julho 2008
Uma Sessão Com Ray Bradbury, de início de século, na qual o autor nos conta as histórias que geraram as histórias e que, de certa forma, as descodificam. Está aqui tudo, como ele próprio diria, As Crónicas Marcianas e o Homem Ilustrado e a Cidade Fantástica (que nem de longe se poderá considerar fantástico, embora seja uma extraordinária fábula sobre o encanto da infância e da redescoberta através da memória).A meu ver, a melhor lição para autores acaba por estar contida em sugestões práticas, como a necessidade da leitura frequente e variada sobre uma multiplicidade aleatória de temas, tendo por meta um ensaio e um poema e um conto por dia; e a importante necessidade de praticar e praticar bastante através dos contos, através de histórias curtas, obter assim a satisfação imediata de ver algo acabado num curto espaço de tempo (segundo me lembro de outras paragens, uma história que era reescrita ao longo dos cinco dias úteis, de uma forma tosca inicial de segunda-feira para uma completa e acabada à sexta para submissão às revistas). Investir no conto antes do romance, ou ao invés deste.
Também uma descrição pungente de tempos bastante mais difíceis que os nossos (recordo-me sempre do que Woody Allen referia num dos seus filmes, «Não entendo a propensão actual para a depressão. A minha mãe andava sempre tão ocupada a tratar da família que não tinha tempo para pensar em depressões nem suicídio».)
Imagino o que faria um Bradbury rejuvenescido, regressado ao início da vida adulta por intermédio de uma máquina de feira ou por um bolinho chinês da sorte, com toda a tecnologia e a liberdade que hoje se nos depara? Toda aquela força de conseguir iria levá-lo mais além, ou como muitos, iria dispersar-se ante a falta de obstáculos e a facilidade de obter? Será esta uma história?