Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


31 Agosto 2008

Os Computadores São o Instrumento de Preferência para despertar a criatividade. Mesmo quando desligados. Como comprova este pequeno vídeo de Donato Giancola. O meu singelo Asus encolheu-se a um canto, desconsolado.

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24 Agosto 2008

Uma Modesta Antologia que Passou Despercebida teve no entanto direito a crítica por parte de Jonathan Cowie, que lutou contra a adversidade das traduções e escreveu um resumo conciso do conteúdo desta amostragem de FC europeia. Fala-se muito da antologia do Jim Morrow, que apresentou autores europeus de língua não inglesa ao mercado norte-americano. Embora um excelente e inovador projecto, cheio de seus riscos e dificuldades, é também uma bofetada na cara dos europeus, que não parecem capazes de se juntar para realizar algo semelhante. Creatures of Glass and Dark foi uma excepção, publicada em 2007 por ocasião da Eurocon em Copenhaga, e na qual participei. Cowie tem isto a assinalar do meu conto:

«Appendix to an Unknown Work by Luis Filipe Silva (Portugal). In the future fragmented records are discovered that suggests a past covert and coordinated attempt to takeover society might have taken place, but then again the 'records' could just be a fictional story? Actually I found this to be a very engaging tale once I had struggled through the translation.»

O que é excelente. Na introdução, Klaus Æ. Mogensen, o editor, refere-se à falta de meios para revisão e tradução profissional para um inglês literário. De facto, quando revi a versão inglesa do conto à luz desta observação estava por demais insuficiente. Que tenha conseguido entusiasmar o leitor, apesar das dificuldades, é uma recompensa acrescida. O conto, de inspiração Ballardiana, saiu em português no NOVA n.º 2, e em espanhol na Axxón.

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Fui BoingBoing'd. Por ter traduzido e publicado o conto Printcrime de Cory Doctorow aqui no TecnoFantasia. Já era tempo de os fãs portugueses darem o seu contributo.

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23 Agosto 2008

NÃO É ALGO QUE COSTUME FAZER, mas numa era de pseudo-espiritismo e de ensinamentos de auto-ajuda perfeitamente insalubres (e bastante irresponsáveis, sejamos claros; em grande medida, quem procura sugestões para se orientar na vida encontra-se essencialmente na situação do amnésico que de repente acorda e se descobre ao comando de um Jumbo 737 cheio de passageiros; «caro Mestre iluminado, não faço ideia do que significam todos estes manípulos, alavancas, indicadores, volantes, pedais... socorro! Onde está o manual desta coisa?», e o grande Mestre iluminado exala uma baforada do cachimbo de ópio ornamentado a marfim e com olhos raiados dá-lhe uma palmadinha nos ombros, dizendo, «Procure dentro de você, meu jovem, procure bem dentro de você», enquanto lhe retira disfarçadamente a carteira) destaco uma mensagem é bastante prática, directa e pessoal. Chegou-me de uma forma inesperada, e possivelmente não teria investigado mais nem lhe teria dado crédito se não tivesse uma obrigação profissional associada que me levou a investigar. Ao contrário de Segredos e conferências sobre segredos e contra-segredos, é gratuita, pelo menos para nós, que não fomos quem pagou (pelo menos, por enquanto) o verdadeiro preço. Como dizia o autor no final, a mensagem não se nos destina verdadeiramente. As suas duas melhores observações por sinal não se encontram neste vídeo mas numa entrevista posterior - que o melhor conselho para pais que ouvira, tinha-lhe sido dado por assistentes de vôo: «Em caso de emergência, coloquem primeiro as vossas máscaras de oxigénio e só depois as das crianças»; e que, se havia algo realmente importante que tivesse querido realizar na vida, não era agora (na situação em que se encontrava) que o ia conseguir. Por sinal, serve também como reflexão da função e do papel do professor na sociedade, em particular para os próprios professores. Quanto a mim, conquistou-me quando revela que a sua conversão espiritual às portas da morte foi ter comprado um Macintosh. Estejam à vontade para ver aos poucos.

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22 Agosto 2008

Um Dia Traremos Televisores no Pulso. Pode ter acontecido ontem. Um minúsculo LCD no relógio, uma ligação wireless, um hotspot. Nada de excepcional. O choque do futuro é não darmos valor à tecnologia que ontem nos maravilhou. Hoje perguntamos o que havia de tão especial na super-modelo com quem estamos fartos de viver. Seria preciso ficarmos sem, impedidos de usar ou inibidos da liberdade de aceder, para sentirmos o valor. Ou ir para a China e tentar navegar na internet. É quase banal dizer que escrevo estas linhas à experiência num novo brinquedo - que efectivamente pouco mais é que um brinquedo -, delicado, desajeitado e com pouco vigor, apesar de boa durabilidade. 4Gb de disco dão para pouco, e tapo todo o ecrã com a mão, o que causa uma sensação de claustrofobia intensa. Imagens do Brazil ocorrem-me de imediato, dos escriturários debruçados sobre os pequenos visores de raios catódicos que observavam através de com telas de aumentar. E contudo é rápido a iniciar e a fechar, mesmo com XP, e a bateria tem uma longa capacidade de actuação. O teclado obviamente que requer uma paciência e destreza de relojoeiro. Escrever durante bastante tempo é castigo. Até o Spectrum era maior do que isto. Mas aquece pouco, pesa menos que o último King, e é deliciosamente silencioso. Serve para blogues e para relatos de viagem. E para ler livros digitais e ver booktrailers. O futuro daqui a cinco minutos, portanto.

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O Sentido do Olfacto, ou melhor dizendo, o inverso do sentido, pois não posso efectivamente defender que se trate de marketing de bom gosto. Motivado por uma entrada no Bibliotecário de Babel a respeito do acondicionamento do cheiro dos livros em pequenos frascos (e poucos odores serão mais evocativos do que o do livro novo e das tonalidades específicas da tinta e da qualidade do papel - ainda hoje me recordo do prazer com que fazia correr sob as narinas as páginas da edição da Europa-América do Blade Runner), recordei-me prontamente de um bizarro acontecimento relatado pela revista Locus, há bastantes anos, no qual o incendiário de uma livraria teria morrido queimado por virtude de incompetência ao executar a própria sabotagem, ficando o cheiro de carne humana impregnado em alguns exemplares de um romance da Poppy Z Brite - autora que sempre me «cheirou» ser mais parra e pouca uva, escrevendo livros de fantasia gore e dada a sado-masoquismos (por outro lado, poderia ser apenas fachada promocional, cada qual escolhe a sua). Esses exemplares teriam então sido embrulhados em celofane para preservar o «aroma» e vendidos por uma quantia substancial. Uma breve pesquisa no fenomenal google levaram a um comentário no blogue, o qual levou o Zé Mário a destacar em post autónomo, que desde já muito agradeço. Da autora, resta-me dizer que já tive oportunidade - ou melhor, desprazer - de assistir a uma entrevista ao vivo. Aconteceu em Nantes, em 2004, ano em que Brite participou como autora convidada. Naquela forma de ser «estou-aqui-mas-é-como-se-estivesse-ali-para-mim-esta-conversa-leva-a-o-vento» que me enfada encontrar em todas as entrevistas ao Lobo Antunes, mas usando de maior rudeza e de quase desprezo pelo entrevistador, a dita autora ia respondendo enfadada ao fã francês que teve a pouca sorte de conversar com ela em público. Segundo percebi queria apenas conversar sobre os últimos livros, que nada tinham de horror, e esquecer uma fase anterior da vida literária - como se o mercado francês não a conhecesse precisamente dessa forma nem tivesse sido convidada com esse propósito. A meu ver, de evitar.

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21 Agosto 2008

Os Mistérios do Marketing Promocional. E a recepcionista indicou, São cinquenta euros por noite, e o potencial cliente quis saber, O pequeno-almoço está incluido, e a recepcionista informou, Não se encontra nesta promoção, e o potencial cliente que suspeitou de uma possível e impraticável lonjura da hospedaria ao lugar de repasto mais próximo ponderou, E existe alguma promoção que inclua pequeno-almoço, e a recepcionista consultou, Por sinal temos uma outra promoção de verão com pequeno-almoço, e o potencial cliente ficou interessado, Podia dar-me mais detalhes, e a recepcionista especificou, Apenas é válida se ficar pelo menos mais uma noite que na primeira promoção, e o potencial cliente pretendeu fazer contas de cabeça, Fica por quanto esta promoção, e a recepcionista quantificou, Por noventa e cinco euros, e o potencial cliente mostrou-se confuso, Valor total do número mínimo de noites, e a recepcionista foi mais explicita, Não, é o valor por noite do quarto, e o potencial cliente aí ficou mais intrigado, Inclui serviços ou acessos extra, e a recepcionista foi ainda mais clara, Inclui o pequeno-almoço, e o potencial cliente indagou mais, Então devo ter percebido mal, pois este quarto ficará certamente na hospedaria e o da promoção mais barata nas vossas outras instalações, e a recepcionista foi democrática, Trata-se do mesmo quarto na zona principal da hospedaria, e o potencial cliente julgou perceber, Então os cinquenta euros da promoção mais barata é por pessoa, e a recepcionista começou a ficar entediada, O valor que dei é por quarto por noite, e o potencial cliente pôs as coisas a claro, O quarto é o mesmo, e a recepcionista disse, Sim, e o potencial cliente volveu, Que numa promoção é cinquenta euros e na outra noventa e cinco, e a recepcionista disse, Sim, e o potencial cliente insistiu, Sendo a diferença o facto de a promoção mais cara incluir pequeno-almoço, e a recepcionista variou, Precisamente, e o potencial cliente incrédulo, E quanto custa um pequeno-almoço?, e a recepcionista envolveu-se numa perturbação da linha telefónica, Cincbzzzz, e o potencial cliente descansado, Ah, cinquenta euros, e a recepcionista atrapalhada, cinco, cinco euros, e o potencial cliente, O pequeno-almoço é de cinco euros?, e a recepcionista, Por pessoa, e o potencial cliente, E a única diferença entre uma promoção e outra é o pequeno-almoço, e a recepcionista, Sim, e o potencial cliente, Sendo que a promoção sem pequeno-almoço é metade da promoção com pequeno-almoço, e a recepcionista, Sim, e o potencial cliente, Para o mesmo quarto, e a recepcionista, Vai querer fazer uma reserva, e o potencial cliente que já se tinha informado, Sabe, vou pensar um pouco, e a recepcionista que já tinha percebido, Com certeza, e o potencial cliente desligou, contactou a agência de viagens e efectuou uma reserva para a hospedaria, aproveitando a promoção da agência que oferecia um quarto por cinquenta euros por noite com pequeno-almoço incluído. (As identidades, palavras efectivamente trocadas e valores hoteleiros desta história foram ligeiramente alterados para proteger a privacidade dos envolvidos e ajudar a transmitir a essência da situação insólita.)

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31 Julho 2008

Crónicas de Praga. Ficção científica. Não vim preparado. Saber que existe um Ondrej Neff e que foi seleccionado pelo Morrow como um dos representantes da FC europeia no seu recente Hall of Fame, a par do João (livro que por sinal acaba de ser editado em checo, pelo que pelo menos três nomes portugueses são mencionados oficialmente, mesmo que by proxy) não é decididamente o mesmo que entrar numa livraria comum - ou seja, não especializada do género - e encontrar uma secção inteira (ou seja, um enorme espaço de loja) dedicada apenas à Ficção Científica. Perceber que esta secção é separada da Fantasia, e em alguns estabelecimentos, do Horror. Descobrir ao ponto da emoção que a FC ultrapassa a Fantasia (I kid you not)! E prostrar-me de joelhos perante um conjunto de estantes reservadas a obras de autores checos, dezenas, publicadas nos últimos quinze anos. Space opera de Robert Fabian. Sátira de Martin Antonín. Os romances de Ondrej Neff. Antologias anuais, antologias comemorativas de encontros, antologias temáticas. Uma colecção dedicada exclusivamente à FC polaca. A versão traduzida da Fantasy & Science Fiction em edição mensal. E depois as traduções: Bucknell, Reynolds, Miéville, Morgan, Stross. As Dangerous Visions do Ellison. Sarah Zettel. Poucos vestígios de Asimov ou Heinlein, apenas um Silverberg antigo. A série completa da continuação de Dune pelo Kevin Anderson e Herbert fils. Desconhecendo a língua, nada sei dizer a respeito da qualidade. Talvez não passem de imitadores dos americanos, como praticamente todos os europeus. Mas a mera existência destes tomos de 500 páginas com ciber-guerreiros e naves interestelares nas capas é suficiente para redespertar um sonho antigo que se tem vindo a desvanescer neste mundo tecnófobo e efeminado da fantasia pseudo-medieval.

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Crónicas de Praga. Actualização do comentário anterior: os checos adoram a Nelly Furtado. Ouvem-se selecções dos albuns em diversas lojas, restaurantes e rádios. E as papelarias estão repletas de material escolar Ambar. Ao menos isso.

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30 Julho 2008

Crónicas de Praga. De entre as experiências humildificantes (se o termo não existia, passa a existir, Silva gratia) da vida, entrar na Palác Knihy - Palácio dos Livros, o que por aqui passa por Bertrand, excepto com mais livros e andares - encontra-se certamente entre as primeiras, pelo menos no que respeita a todo o trabalho enquanto autor e leitor da língua portuguesa. A importância, ou falta dela, do povo cuja epopéia o coitado do Camões se esforçou por salvar das águas do Índico (se nos fiarmos nas lendas; o mais certo é que tenha sido logo socorrido por uma caravela e tenha chegado a bom porto refastelado numa cadeira e a sorver margaritas) é perfeitamente evidenciada no absoluto vazio em que se encontra (ou não) neste país europeu de dez milhões de habitantes: ausente das livrarias, ausente dos menus, ausente inclusive das variedades de dicionários de equivalência do checo. É plausível, obviamente, que a nossa superioridade futebolística no recente Euro os tivesse levado a enterrar todos os vestígios lusitanos neste país, e que seja apenas por despeito que ao saberem-nos portugueses nos tentem ajudar com instruções em espanhol... Talvez os tradutores automáticos venham salvar a nossa língua, mas não creio que cheguem a tempo. Mais umas centenas de anos e não passaremos de assunto de tese de mestrados. Ao menos canta-se em brasileiro nos centros comerciais; lembro-me que bastam mais três ou quatro acordos ortográficos e dois acordos gramaticais, e já ninguém dará pela diferença.

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