Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


04 Fevereiro 2009

E Lá Se Acabou de Vez a Murder Onea loja de referência para quem visitava Londres em busca de ficção científica acabadinha de sair do forno ou de alguma obra clássica. Embora primordialmente dedicada à literatura policial, que enchia o piso térreo, reservava a cave para quatro extensas paredes e três mesas a transbordar de livros do chão ao tecto, ordenados por autor ou por ano. Era impossível sair de lá sem meia dúzia de sacos cheios, e só depois de passada a euforia olhar com atenção para a conta em libras. Sem falar na possibilidade de fazer encomendas overseas. A decadência teria começado há uns anos, com o encerramento dessa magnífica cave e o desaparecimento do fantástico. Agora fechou de vez, como relata o Guardian numa pequena notícia interactiva que mostra a anterior riqueza da Charing Cross Road.

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03 Fevereiro 2009

De Acordo com os Booktailors, este é um trailer de livros marcante no mercado nacional. Trata-se de Nómada de Stephenie Meyer, a edição nacional de The Host, o seu primeiro livro de ficção científica para adultos. Compare-se a energia desta versão com a do booktrailer original. Sai já no próximo mês. É tão bom saber que a vanguarda continua a ser dominada pelo género fantástico...

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Não Se Pode Dizer Que A Associação seja imediata. Jane Austen e zombies?!

Calibã poderia ser um zombie e caçar miolos para o mestre Prospero. Talvez Kurtz se tivesse refugiado nas profundezas do Congo para fugir a hordes de mortos-vivos (dando um novo significado a «o horror, o horror!»). E muito provavelmente um confronto entre Aquiles e aqueles seres cobertos por sangue pisado e carne putrefacta não daria muito trabalho ao guerreiro grego.

Mas pensar em Sr. Darcy e a menina Elizabeth a braços com hordas de zombies esfomeados?!

Aparentemente, é possível colaborar-se post-mortem. Sem a autorização da parte do «mortem», diga-se de passagem. Para esta mistura quase profana: Orgulho e Preconceito e Zombies. «Contém o texto original do exultado romance de Jane Austen com novas cenas de acção zombi de fazer estalar os ossos.» Ou algo parecido.

É tão fácil abraçar-se este tipo de iniciativas como é de vilipendiá-las. Existe o perigo de se reagir por reagir ao se defenderem questões de liberdade ou intocabilidade literária consoante o apreço individual. Mas ambas as atitudes estão erradas. O livro pode mesmo ser mau e isto não passar de um truque barato, ou pode ser mesmo inovador e resultar num estudo meta-literário em como se pode infectar, por assim dizer, o passado com a luz do presente (a minha aposta? Vai ficar a meio, e transformar-se numa oportunidade perdida).

Ainda assim, seria interessante se um editor português tivesse a coragem (loucura?) de o editar. Como reagiria o nosso mercado? A maioria do público leitor ainda é demasiado conservador para isto, ou já nos encontramos de facto numa fase mais receptiva do mercado, que apenas não se revela mais porque as edições nacionais são, regra geral, bem comportadinhas?

Só a capa vale metade da atracção. Espero que a mantenham. E que se avance, talvez, para A Cidade e as Serras e os Licantropos. A miudagem era bem capaz de gostar...

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02 Fevereiro 2009

Repetitividade e Uma Certa Falta de Jeito prejudicam o apreço contínuo do pequeno engenheiro Dilbert aprisionado num cubículo. Scott Adams tem um estilo minimalista e obcessivo ao qual falta o carinho com que Bill Watterson sempre retratou os personagens (que saudades). Mas por vezes há tiras que merecem ser passadas de mão em mão...

Dilbert.com

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31 Janeiro 2009

Há Uma Rara E Cândida Confissão escondida nos parágrafos iniciais de «Of Late I Dreamt of Venus» de James Van Pelt, conto escolhido por Gardner Dozois como um dos melhores do ano de 2008. Em órbita ao redor de Vénus, apreciando o planeta pela escotilha, o texto oferece-nos esta passagem:

The scene from the window cast a mellow light. Silent. Grand. A poet would write about it if one were here.

Quem o diz não é a voz interior de nenhum dos personagens, nas quais o autor poderia procurar uma desculpa, mas o próprio narrador, em que o escritor reside. Como se nos avisasse: deparei-me com esta história, e vou contá-la, mas digo já que não tenho mãos para isto.

E é de facto uma história bastante peculiar. Para a qual ele não tem mãos.

Considere-se a terraformação de Vénus: o sonho de vida, o grande projecto de Elizabeth, uma mulher de negócios implacável, dona de uma gigantesca corporação, habituada a mandar e a ter todos os meios ao seu dispor quando precisa. Mas Elizabeth não se compadece com o sonho - pessoa prática que é, precisa de ver a forma concretizada e assistir ao trabalho final. Decide assim hibernar durante duzentos anos.

Henry é o acólito/assistente. Henry está fascinado, apaixonado por ela. Mas Henry tem uma cicatriz no rosto, é baixo, é subordinado, é muito do que lhe desagrada. Leva-o consigo na viagem porque se dispôs a isso e poderá confiar nele - mas sem o deixar aproximar.

Habituada a ter as coisas ao seu modo, pede aos médicos que retirem a cicatriz do rosto de Henry, enquanto dorme.

Mas duzentos anos não bastam, e Vénus está longe de se parecer com a Terra. Henry tinha acordado quatro anos antes para coordenar o projecto e preparar o acordar dela. Ela diz-lhe que quer dormir mais quatrocentos. Ele diz que ela não devia ter pedido que o modificassem, Ela limita-se indicar aos médicos que o façam ser mais alto, enquanto ele dorme.

Na segunda vez, Vénus já apresenta traços substanciais de mudança - atmosfera, cidades na superfície - mas continua árido e feito, na perspectiva dela. Henry acordara seis anos antes. Elizabeth é agora quase uma deusa, dona de uma vastíssima corporação. Ainda assim, quer avançar. Seiscentos anos é o tempo do sono. Henry diz-lhe que não quer ser mais alterado. Ela diz aos médicos que tornem o cabelo dele mais grisalho, porque é como ela gostaria de o ver.

O terceiro acordar é o do desfecho. Henry antecipou-a por duas décadas antes e está velho. O mundo dos homens mudou, e ela já não é dona de nada. Vénus continua diferente do que ela previra, nada parecido com a Terra, mas ele tenta dizer-lhe que não tem de ser igual. Ela só pensa em reconquistar o poder perdido, recomeçar do nada, continuar o sonho. Mas aparentemente terá de contentar-se com Henry. E, verdade seja dita, Henry contentar-se com ela.

Este paralelo da transformação forçada de um planeta com a transformação forçada de uma pessoa para se adequar ao ideal de outrém é uma ideia literariamente interessante, e que poderia ter ganho substância em outras mãos ou noutro género ou possivelmente com um maior espaço para desenvolvimento. Afinal, muito se poderia falar da natureza das relações e da órbita dos planetas. Da questão do poder e da atracção fatal dos corpos celestes. Dizer que o amor também é regido por leis físicas inescapáveis que por vezes destroem os astros envolvidos. Ou no mínimo, ser mais fiel ao sonho húmido dos CEOs, fazer uma genuína bedtime story para membros de Conselhos de Administração.

Mas a escolha de perspectiva narrativa foi infeliz, ou feita com demasiada cautela. É demasiado sóbria, demasiado bem comportada. A objectividade é um empecilho. Devíamos ver pelos olhos de cada um dos protagonistas, acompanhar o percurso emocional de ambos.

Contudo, o autor foi sincero. Avisou que ali não morava um poeta. É possível que essa consciência se deva ao facto de ser professor de inglês. Com outros colegas seus, mais convencidos ou insensiveis, não temos essa sorte.

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E Daí Que Nem Sempre A Promoção do Livro Pelo Autor seja a melhor estratégia. Porque se o autor escolhesse promover, teria sido promotor. Depois cai-se na banalidade em que se fala de tudo, menos do livro, ou seja, do nada. É fácil cair nesta situação. Há bastantes anos, numa Fnac, em debate conjunto por ocasião do lançamento de uma antologia, acabámos, por mera inércia, por falar muito dos problemas da ficção científica e pouco do livro em questão. Atento, o editor notou que quase ninguém na audiência o quis comprar; não admira, comentei. Numa reprise do acontecimento, em que se prestou a devida reverência e se leram excertos, as coisas correram comercialmente melhor. O que o autor tinha a dizer já o disse no livro - o resto são normalmente questões logísticas e técnicas sobre o processo de fabrico, mais adequadas a uma oficina de escrita e não ao público em geral. Uma verdade comum a várias artes, visível, por exemplo, nos documentários de produção dos filmes. Quando o realizador passa o tempo a vangloriar-se do apoio logístico da Câmara, da montagem dos cenários, da coordenação de equipas em diferentes locais, da qualidade das câmaras, da complexidade da maquilhagem, algo está errado. Então, e a intenção? A história, o slice of life? O que contribui este filme ou este livro para a minha vida? Não pedes só o meu dinheiro, mas também o meu tempo. E que prescinda de ler ou conhecer algo que me faria mais feliz. António Guerreiro estava correcto em pedir um cordão sanitário entre o escritor e a obra. Eu teria pedido aqui um colete de forças e uma providência cautelar. Não pelo caso nem por se tratar de quem é, mas pelo infeliz tom do discurso. Sobre a natureza da escrita. Um livro não se faz de silêncios. Um livro é comunicação, e o silêncio é a recusa absoluta de comunicação - é a folha em branco, a cela vazia. A situação que não avança. O plano estático, lento, longo, inútil, dos filmes de Oliveira. A atitude letal promovida por um certo tipo de literatura. Uma postura afectada básica, um defeito inerente à natureza do criativo, mas que, como a defecação, devia ser feita com a porta fechada. Porque o problema não está em quem costuma dizê-lo, pois estes são normalmente mais sábios. O dano está nos jovens autores, que ouvem e ficam deslumbrados e vão para junto dos laptops com a ideia de escrever sobre o silêncio. Sobre o silêncio, antes de terem dito algo de jeito. Querem desenhar o touro antes de saberem segurar no pincel.

Porque o silêncio na escrita não é nada. Mas a hesitação - a hesitação, essa sim, é bastante reveladora.

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29 Janeiro 2009

«Let's Tweet Again, Like We Did Last Summer» O fascínio das curtas frases, do discurso abreviado, aliada à facilidade das etiquetas-cardinais. Estas, longe de serem um novo prelado eclesiástico, tornam possível seguir os ditos por várias vozes. Juntem-se à conversa. O Twitter tem mais um discurso: fc&f. Para participar, basta entrar no Twitter e dizer de sua justiça, sem se esquecer de começar ou acabar com o dístico #fc&f).

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28 Janeiro 2009

Vale O Que Vale e ainda não se tomam decisões vinculativas de natureza legislativa ou executiva. Mas é um começo, segundo o Paulo Querido. E mais do que isso, um surpreendente uso de uma ferramenta que está para a riqueza de comunicação como o ralo está para a porta: não permite mais que uma espreitadela. Na verdade impede, que se aprecie a riqueza do mundo, que se apresente um discurso elaborado e rico em ideias. Esta ferramenta é de memória curta e espaço reduzido, 140 caracteres e não mais, e ainda assim continua a crescer e dar que falar. A permitir efectuar experiências sociais como esta. Que chegou a ser, aparentemente, noticiada na SIC. E a permitir o recurso a jornalistas de ocasião. E a ser alvo de estatísticas sobre usos e influências.

Como não podia deixar de ser, também lá estamos. Essencialmente para chamar a atenção para a  festa contínua da página que estão a ler. Mas esse é tema para outra ocasião. O comentário não era sobre o Twitter mas sobre a influência da tecnologia na forma como conduzimos a política. E não para elogiar ou denegrir, mas tão somente para recuperar do baú das ficções um texto que ilustra alguns possíveis efeitos secundários. A respeito dos principais afectados por esta mudança. E não, desta vez, finalmente, não será o povo.  

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Isto e Marte. Isto é uma citação de Michael Anissimov, trans-humanista: «2200 will never come. Our brains will be accelerated by a factor of millions before 2100. 2200 won’t be for millions of years.» Pessoalmente tenho as minhas reservas acerca da humanidade se reinventar por completo por intermédio apenas da tecnologia, em particular porque a tecnologia precisa ela mesma primeiramente de evoluir e tornar-se autónoma (em termos de reprodução e reparação - imaginem se dependessemos de uma outra espécie para sararmos a mais pequena das feridas ou fazermos bebés), mas afirmações e visões como esta são excelentes para a criação de futuros e de ficções sobre estes futuros... a essência da Ficção Científica, ou neste caso particular, da Tecnofantasia (uma forma de existência só possível através da tecnologia).

Marte é... bem, Marte. Mas outro. Terraformado. Que é o equivalente planetário de uma operação plástica. Mas daquelas que resolvem um problema físico para um fim útil e não enquanto exercício de vaidade e de desconforto emocional com a inevitabilidade da morte.

   

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24 Janeiro 2009

O «Guardian», Eminente Periódico Britânico, tem uma secção literária dedicada à Ficção Científica, Fantasia e Terror. (Chocante!) Convida nomes da praça para contribuir com artigos de opinião e crítica, e depois recolhe-os online e deixa-os assim expostos, para qualquer um consultar, de graça. (Que desavergonhados!) E recentemente decidiram compilar uma lista dos 1000 livros mandatórios para qualquer leitor, de entre todos os géneros e feitios. (Imagine-se esta manipulação descarada do público!) Entre os quais se encontram, precisamente, obras do Fantástico. (Não há ninguém que páre esta gente?!) Recomendações que se encontram aqui, aqui e aqui. (Ó da guarda!) Concordando-se com umas, discordando-se de outras, são obras que marcaram a nossa cultura recente. (O que sabem eles, se vivem numa ilha?) Até Saramago foi incluído. (Tirem lá as patorras do nosso iconezinho cultural, que não temos assim tantos... temos?) Como não podia deixar de ser, algumas destas obras acabaram por surgir em Portugal. (Também há cá disto?) Tiveram a sua expressão na nossa humilde expressão deste género literário e acompanharam a minha juventude, bem como a de tantos outros que iam espreitando as prateleiras das livrarias à procura do próximo tesouro escondido. (Ai sim? Nunca me enganaste...) Por isso pensei deixar aqui uma pequena selecção pessoal da selecção maior, um texto inicial que pretendo continuar nos próximos dias, em jeito de apresentação resumida de edições que tiveram vida curta. (Mas estás para aqui a insinuar coisas a respeito da imprensa nacional? Páginas na internet? Sítios de referência? Estás doido? Fazes ideia do custo monumental desse projecto? Não venhas com ideias...)

 

Uma Boleia Para A Galáxia - Douglas Adams

O primeiro contacto com esta série do Douglas Adams acabou, por um acaso, por ser O Restaurante no Fim do Universo, o segundo livro da série, e só depois procuraria o primeiro. Estamos a falar da edição da Distri Editora, dos anos 80, com tradução da Maria Nóvoa (e do marido, se não me engano), uma colecção singela que durou poucos números e que surgiu na que se poderia designar vaga editorial portuguesa, que consistiu num par de anos algures nessa época em que meia dúzia de editoras iniciaram colecções de FC em simultâneo, sem razão aparente, apenas para terminarem ao fim de quatro ou cinco livros.

Nesta obra, um grupo bizarro de companheiros impelidos pelas desgraças da burocracia galática, num enredo convuloto que se mantém intacto pelo virtuosismo do humor. Se a história não fica na memória como um organismo inteiro, determinadas vinhetas, pelo contrário, são absolutamente inesquecíveis. Para sempre veremos o número 42 com outros olhos, pensaremos em vacas que se virão apresentar e falar connosco à mesa do restaurante para que as escolhemos como prato do dia («obrigado por me preferirem», dizia ela, «vou já ali dentro pedi ao cozinheiro para me matar»), elevadores deprimidos por passarem a vida a subir e descer com desejos de poderem andar na horizontal, ratinhos-cobaia que são uma manifestação no nosso plano universal dos seres mais inteligentes do universo («os ratinhos deixavam-se ser usados para experiências no vosso planeta?! Ná, olha que estavam a gozar convosco»), e o imperdível Marvin, o Andróide Paranóico, com uma visão tão derrotista da vida que a consegue transformar em arma e salvar o grupo de amigos: perto dele, não há inimigo que não fique deprimido e se suicide de imediato.

Anos mais tarde encontraria em Londres um conjunto de cassettes com o programa de rádio, que também recomendo vivamente. Recentemente a Saída de Emergência voltou a editar o livro, por ocasião do filme, com o título À Boleia pela Galáxia. É interessante notar que nenhuma das editoras arriscou a tradução mais prosaica e exacta de O Guia Galáctico do Pendura.

 

Nave-Mundo – Brian Aldiss

Pois, a tradução estraga tudo. O título original, Non-Stop, também pode não ser dos mais charmosos, mas ao menos esconde a principal revelação do livro, que é o facto de a sociedade em causa existir dentro de uma nave espacial, revelação que apenas surge no fim do enredo como devido. Desta obra de Aldiss infelizmente recordo pouco, apenas uma sugestão de um enredo movimentado e interessante. Edição da Livros do Brasil, na colecção Argonauta, com tradução obrigatória do Eurico da Fonseca (a quem a FC em Portugal ainda não prestou a devida homenagem) algures nos anos 80 e na minha juventude. Ainda hoje penso que o tema foi melhor tratado pelo Fritz Leiber e a sua Nave das Sombras (também edição da Argonauta, uns aninhos mais tarde).

 

Fundação – Isaac Asimov

Asimov, que enquanto era vivo tornou-se num dos testa-de-ferro da FC mundial, o nome de referência a que os meios de comunicação aludiam quando o assunto «ficção científica» passava pela redacção, após a sua morte caiu praticamente no esquecimento, e se em tempos era um dos autores que as poucas colecções nacionais estavam sempre a editar (e bem poderiam continuar a editar por toda a eternidade, graças à produção superior a quinhentas obras nas quais o nome dele surgia com uma desculpa qualquer), um autor que ia vendendo, hoje em dia desconfio que será desconhecido dos jovens leitores de fantasia épica, excepto nos casos em que continua a existir na biblioteca dos pais. Era impossível evitar o Isaac, uma figura larger-than-life mesmo na escrita, e sempre muito cândido a respeito da sua própria vida (a sua autobiografia em três volumes creio que será a maior de qualquer autor internacional de FC). Contudo, parece não ter sobrevivido aos tempos, e não terá deixado as marcas e o culto de um Dick ou de um Herbert. Asimov sempre teve uma escrita cerebral, pouco emotiva, e a sua pertinência literária derivava da inteligência do enredo e do conhecimento da ciência. O que não é o mesmo que dizer que fosse um mau escritor - contra isto bastará procurar-se e ler-se The Gods Themselves (O Planeta dos Deuses, perdoem-me se detesto a escolha do título na versão portuguesa) para se encontrar um autor de FC no seu melhor.

Quanto à Fundação, teve uma primeira edição portuguesa pela Ulisseia nos anos 60 (e uma segunda pela Livros do Brasil há dez anos), que obviamente não se encontrava disponível quando das minhas visitas às livrarias, duas décadas mais tarde – o meu contacto com esta obra aconteceu através da edição brasileira da Hemus, que era distribuida (se não me engano) pela Dinalivro. A Hemus, aliás, publicaria a trilogia completa, seguida do quarto livro que na época era o grande retorno do Mestre e lhe granjeara um prémio Hugo, e um outro punhado de romances e colectâneas (entre eles O Fim da Eternidade, uma história de viagens no tempo e paradoxos espaciais ainda hoje considerada como uma das suas melhores obras). Se esta colecção era distribuída em Portugal, estou em crer que se devia principalmente ao relativo sucesso do nome Asimov. Fundação ajudaria bastante a sua fama, graças à noção de uma psico-história que conseguiria matematicamente prever, com modelos estocásticos, o comportamento da civilização galáctica no período entre a queda de um império e o nascimento de outro. O livro é na verdade uma série de contos interligados, que teriam saído nas revistas americanas, um após outro, nos anos 50. Para sempre Hari Seldon, o matemático que tornaria tudo isto possível e que se transformaria no herói intelectual do autor, revisitado no último livro que escreveu (Forward the Foundation); para sempre Trantor, a cidade-planeta localizada no centro (ou o mais humanamente perto do centro, como o autor mais tarde corrigiu) da galáxia.

 

(Os meus agradecimentos ao indispensável Bibliowiki e ao esforço do Jorge Candeias por facilitar o trabalho de pesquisa para a feitoria de artigos como este.)

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