Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


07 Fevereiro 2009

Extremos de Honestidade na nova série da RTP1 (nova em Portugal), Supernova, quando Lance Henriksen apresenta o bunker topo de gama que será o último reduto da humanidade ameaçada pela chegada de erupções solares que presumivelmente destruirão a Terra: «Isto foi construido para que a civilização sobrevivesse. Ah, e por civilização, refiro-me a nós.»

Quanto à série: cenários de desastre provocados pelo colapso de estrelas? Charles Sheffield fê-lo muito melhor do que isto em Aftermath e Starfire...

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A Nível de Clássicos de Cinema de FC, fiquei a conhecer os pormenores sobre Things to Come através da crítica dura de Dan Simmons no artigo sobre a natureza da ficção de que fui o tradutor no ano passado (e que me deixaram com uma absoluta vontade de evitar esse filme). Tendo revisitado agora o texto (e semicerrando os olhos ante cada passagem que poderia ter sido mais explícita, cada frase mais aportuguesada, cada gralha tipográfica - razão pela qual o revisor, que aqui não houve, desempenha uma função importante enquanto detentor de um olhar analítico e profissional, e também razão pela qual não se pode terminar um trabalho e enviá-lo a correr ao editor, sendo preferível deixá-lo a fermentar durante algum tempo. De todas as escolhas que hoje teria feito, a mais importante situa-se sem dúvida na última frase do texto, que é também parte de um poema e logo obriga a um cuidado particular com a escolha das palavras, ou neste caso, de uma palavra em particular, que apresento aqui como errada: «A brincar em casa com papéis qual criança») publicado na Bang! nº 5, encontro novamente o filme classificado como inumano e fascista, bem como o texto de Wells e toda a problemática a respeito do futuro aqui preconizado. Ora, filmes como este eram normalmente difíceis de encontrar - mas não na era moderna, graças a este gentil monstro de dentes afiados que se chama internet...

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06 Fevereiro 2009

Curiosidade: Possivelmente a Mais Explícita capa do Highlander - Duelo Imortal jamais feita...

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04 Fevereiro 2009

E Lá Se Acabou de Vez a Murder Onea loja de referência para quem visitava Londres em busca de ficção científica acabadinha de sair do forno ou de alguma obra clássica. Embora primordialmente dedicada à literatura policial, que enchia o piso térreo, reservava a cave para quatro extensas paredes e três mesas a transbordar de livros do chão ao tecto, ordenados por autor ou por ano. Era impossível sair de lá sem meia dúzia de sacos cheios, e só depois de passada a euforia olhar com atenção para a conta em libras. Sem falar na possibilidade de fazer encomendas overseas. A decadência teria começado há uns anos, com o encerramento dessa magnífica cave e o desaparecimento do fantástico. Agora fechou de vez, como relata o Guardian numa pequena notícia interactiva que mostra a anterior riqueza da Charing Cross Road.

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03 Fevereiro 2009

De Acordo com os Booktailors, este é um trailer de livros marcante no mercado nacional. Trata-se de Nómada de Stephenie Meyer, a edição nacional de The Host, o seu primeiro livro de ficção científica para adultos. Compare-se a energia desta versão com a do booktrailer original. Sai já no próximo mês. É tão bom saber que a vanguarda continua a ser dominada pelo género fantástico...

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Não Se Pode Dizer Que A Associação seja imediata. Jane Austen e zombies?!

Calibã poderia ser um zombie e caçar miolos para o mestre Prospero. Talvez Kurtz se tivesse refugiado nas profundezas do Congo para fugir a hordes de mortos-vivos (dando um novo significado a «o horror, o horror!»). E muito provavelmente um confronto entre Aquiles e aqueles seres cobertos por sangue pisado e carne putrefacta não daria muito trabalho ao guerreiro grego.

Mas pensar em Sr. Darcy e a menina Elizabeth a braços com hordas de zombies esfomeados?!

Aparentemente, é possível colaborar-se post-mortem. Sem a autorização da parte do «mortem», diga-se de passagem. Para esta mistura quase profana: Orgulho e Preconceito e Zombies. «Contém o texto original do exultado romance de Jane Austen com novas cenas de acção zombi de fazer estalar os ossos.» Ou algo parecido.

É tão fácil abraçar-se este tipo de iniciativas como é de vilipendiá-las. Existe o perigo de se reagir por reagir ao se defenderem questões de liberdade ou intocabilidade literária consoante o apreço individual. Mas ambas as atitudes estão erradas. O livro pode mesmo ser mau e isto não passar de um truque barato, ou pode ser mesmo inovador e resultar num estudo meta-literário em como se pode infectar, por assim dizer, o passado com a luz do presente (a minha aposta? Vai ficar a meio, e transformar-se numa oportunidade perdida).

Ainda assim, seria interessante se um editor português tivesse a coragem (loucura?) de o editar. Como reagiria o nosso mercado? A maioria do público leitor ainda é demasiado conservador para isto, ou já nos encontramos de facto numa fase mais receptiva do mercado, que apenas não se revela mais porque as edições nacionais são, regra geral, bem comportadinhas?

Só a capa vale metade da atracção. Espero que a mantenham. E que se avance, talvez, para A Cidade e as Serras e os Licantropos. A miudagem era bem capaz de gostar...

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02 Fevereiro 2009

Repetitividade e Uma Certa Falta de Jeito prejudicam o apreço contínuo do pequeno engenheiro Dilbert aprisionado num cubículo. Scott Adams tem um estilo minimalista e obcessivo ao qual falta o carinho com que Bill Watterson sempre retratou os personagens (que saudades). Mas por vezes há tiras que merecem ser passadas de mão em mão...

Dilbert.com

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31 Janeiro 2009

Há Uma Rara E Cândida Confissão escondida nos parágrafos iniciais de «Of Late I Dreamt of Venus» de James Van Pelt, conto escolhido por Gardner Dozois como um dos melhores do ano de 2008. Em órbita ao redor de Vénus, apreciando o planeta pela escotilha, o texto oferece-nos esta passagem:

The scene from the window cast a mellow light. Silent. Grand. A poet would write about it if one were here.

Quem o diz não é a voz interior de nenhum dos personagens, nas quais o autor poderia procurar uma desculpa, mas o próprio narrador, em que o escritor reside. Como se nos avisasse: deparei-me com esta história, e vou contá-la, mas digo já que não tenho mãos para isto.

E é de facto uma história bastante peculiar. Para a qual ele não tem mãos.

Considere-se a terraformação de Vénus: o sonho de vida, o grande projecto de Elizabeth, uma mulher de negócios implacável, dona de uma gigantesca corporação, habituada a mandar e a ter todos os meios ao seu dispor quando precisa. Mas Elizabeth não se compadece com o sonho - pessoa prática que é, precisa de ver a forma concretizada e assistir ao trabalho final. Decide assim hibernar durante duzentos anos.

Henry é o acólito/assistente. Henry está fascinado, apaixonado por ela. Mas Henry tem uma cicatriz no rosto, é baixo, é subordinado, é muito do que lhe desagrada. Leva-o consigo na viagem porque se dispôs a isso e poderá confiar nele - mas sem o deixar aproximar.

Habituada a ter as coisas ao seu modo, pede aos médicos que retirem a cicatriz do rosto de Henry, enquanto dorme.

Mas duzentos anos não bastam, e Vénus está longe de se parecer com a Terra. Henry tinha acordado quatro anos antes para coordenar o projecto e preparar o acordar dela. Ela diz-lhe que quer dormir mais quatrocentos. Ele diz que ela não devia ter pedido que o modificassem, Ela limita-se indicar aos médicos que o façam ser mais alto, enquanto ele dorme.

Na segunda vez, Vénus já apresenta traços substanciais de mudança - atmosfera, cidades na superfície - mas continua árido e feito, na perspectiva dela. Henry acordara seis anos antes. Elizabeth é agora quase uma deusa, dona de uma vastíssima corporação. Ainda assim, quer avançar. Seiscentos anos é o tempo do sono. Henry diz-lhe que não quer ser mais alterado. Ela diz aos médicos que tornem o cabelo dele mais grisalho, porque é como ela gostaria de o ver.

O terceiro acordar é o do desfecho. Henry antecipou-a por duas décadas antes e está velho. O mundo dos homens mudou, e ela já não é dona de nada. Vénus continua diferente do que ela previra, nada parecido com a Terra, mas ele tenta dizer-lhe que não tem de ser igual. Ela só pensa em reconquistar o poder perdido, recomeçar do nada, continuar o sonho. Mas aparentemente terá de contentar-se com Henry. E, verdade seja dita, Henry contentar-se com ela.

Este paralelo da transformação forçada de um planeta com a transformação forçada de uma pessoa para se adequar ao ideal de outrém é uma ideia literariamente interessante, e que poderia ter ganho substância em outras mãos ou noutro género ou possivelmente com um maior espaço para desenvolvimento. Afinal, muito se poderia falar da natureza das relações e da órbita dos planetas. Da questão do poder e da atracção fatal dos corpos celestes. Dizer que o amor também é regido por leis físicas inescapáveis que por vezes destroem os astros envolvidos. Ou no mínimo, ser mais fiel ao sonho húmido dos CEOs, fazer uma genuína bedtime story para membros de Conselhos de Administração.

Mas a escolha de perspectiva narrativa foi infeliz, ou feita com demasiada cautela. É demasiado sóbria, demasiado bem comportada. A objectividade é um empecilho. Devíamos ver pelos olhos de cada um dos protagonistas, acompanhar o percurso emocional de ambos.

Contudo, o autor foi sincero. Avisou que ali não morava um poeta. É possível que essa consciência se deva ao facto de ser professor de inglês. Com outros colegas seus, mais convencidos ou insensiveis, não temos essa sorte.

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E Daí Que Nem Sempre A Promoção do Livro Pelo Autor seja a melhor estratégia. Porque se o autor escolhesse promover, teria sido promotor. Depois cai-se na banalidade em que se fala de tudo, menos do livro, ou seja, do nada. É fácil cair nesta situação. Há bastantes anos, numa Fnac, em debate conjunto por ocasião do lançamento de uma antologia, acabámos, por mera inércia, por falar muito dos problemas da ficção científica e pouco do livro em questão. Atento, o editor notou que quase ninguém na audiência o quis comprar; não admira, comentei. Numa reprise do acontecimento, em que se prestou a devida reverência e se leram excertos, as coisas correram comercialmente melhor. O que o autor tinha a dizer já o disse no livro - o resto são normalmente questões logísticas e técnicas sobre o processo de fabrico, mais adequadas a uma oficina de escrita e não ao público em geral. Uma verdade comum a várias artes, visível, por exemplo, nos documentários de produção dos filmes. Quando o realizador passa o tempo a vangloriar-se do apoio logístico da Câmara, da montagem dos cenários, da coordenação de equipas em diferentes locais, da qualidade das câmaras, da complexidade da maquilhagem, algo está errado. Então, e a intenção? A história, o slice of life? O que contribui este filme ou este livro para a minha vida? Não pedes só o meu dinheiro, mas também o meu tempo. E que prescinda de ler ou conhecer algo que me faria mais feliz. António Guerreiro estava correcto em pedir um cordão sanitário entre o escritor e a obra. Eu teria pedido aqui um colete de forças e uma providência cautelar. Não pelo caso nem por se tratar de quem é, mas pelo infeliz tom do discurso. Sobre a natureza da escrita. Um livro não se faz de silêncios. Um livro é comunicação, e o silêncio é a recusa absoluta de comunicação - é a folha em branco, a cela vazia. A situação que não avança. O plano estático, lento, longo, inútil, dos filmes de Oliveira. A atitude letal promovida por um certo tipo de literatura. Uma postura afectada básica, um defeito inerente à natureza do criativo, mas que, como a defecação, devia ser feita com a porta fechada. Porque o problema não está em quem costuma dizê-lo, pois estes são normalmente mais sábios. O dano está nos jovens autores, que ouvem e ficam deslumbrados e vão para junto dos laptops com a ideia de escrever sobre o silêncio. Sobre o silêncio, antes de terem dito algo de jeito. Querem desenhar o touro antes de saberem segurar no pincel.

Porque o silêncio na escrita não é nada. Mas a hesitação - a hesitação, essa sim, é bastante reveladora.

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29 Janeiro 2009

«Let's Tweet Again, Like We Did Last Summer» O fascínio das curtas frases, do discurso abreviado, aliada à facilidade das etiquetas-cardinais. Estas, longe de serem um novo prelado eclesiástico, tornam possível seguir os ditos por várias vozes. Juntem-se à conversa. O Twitter tem mais um discurso: fc&f. Para participar, basta entrar no Twitter e dizer de sua justiça, sem se esquecer de começar ou acabar com o dístico #fc&f).

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