Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


15 Julho 2009

O Uso De Termos Específicos é determinante para o estabelecimento do cenário e das expectativas na narrativa. Poderia ser uma frase de uma tese académica, mas é a conclusão que se retira imediatamente deste divertido exercício de David Malki, que ao apresentar variações sobre um excerto (não o mais brilhante exemplo, admita-se), pela alteração subtil de algumas palavras, transforma a percepção da história na mente do leitor.

A questão particular de estabelecerem-se expectativas deve ser considerada com atenção porque o leitor, ao identificar o texto como pertencendo a este ou aquele género, sentirá atracção, repúdio ou eventualmente indiferença. Ou seja, não é só o facto de as pequenas variações das frases em questão poderem ser identificadas com diferentes tipos de histórias, como cada uma das frases destina-se a públicos-alvo distintos. Tudo isto no singelo milagre da alteração de três ou quatro palavras.

Um texto destaca-se ou desaparece por virtude da excelência das palavras que usa, como as organiza e em que ponto da narrativa as apresenta - sem deixar de servir o imperativo «enredo».

Não é fácil ser-se escritor, mas é por vezes bastante divertido. Como demonstram as (sobejamente) mais interessantes alternativas propostas nos comentários daquele post. (via Bibliotecário de Babel)

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13 Julho 2009

Certas Notícias Não Deviam Surgir Assim. No meio de outras, comentários em blogues, respostas a tweets, lançamentos e críticas, e Charles Brown morto. O fundador da revista Locus, aos 72 anos. Possivelmente o ser humano que conhecia pessoalmente o maior número de autores de Ficção Científica e Fantasia de todo o mundo. Esteve em Portugal em 1996, por ocasião dos Primeiros Encontros de Cascais, e novamente em 1998, por ocasião dos Terceiros. De entre as últimas memórias desses tempos, a de um jantar na zona do Guincho em amena conversa com ele e a acompanhante, e depois trazê-los de regresso a Cascais no humilde Micra no meio das ruas compactas perto do Teatro Gil Vicente (e o comentário de espanto da acompanhante, que estariam sem dúvida habituada a ruas estadounidenses um pouco mais à-vontade...). E um comentário interessante sobre indumentárias profissionais (perante a minha ubíqua farda de fato e gravata) na qual afirmava que, desde que tinha deixado de ser engenheiro que nunca mais usara sapatos fechados na vida. Nesse ano, deixou-nos também uma mensagem, lida numa das noites de plateia quase vazia, naqueles estranhos Encontros sem espectadores, tão próximos do início da cisão da Simetria, e que atempadamente publiquei na primeira das encarnações deste sítio («A Ficção Científica e o Mundo Editorial dos Nossos Dias», partes um e dois). Uma mensagem que ecoa, num sincronismo bizarro, a questão da internacionalização da FC que debati abaixo (acompanhado por outros compadres destas andanças). Charles Brown publicou os meus primeiros escritos em inglês - relatórios sobre as míseras andanças do nosso país numa época em que pareciam fazer algum sentido - e assim entrava Portugal no rol dos países com uma FC em andamento. A Locus estabeleceu-se sem encetar polémicas nem causar disturbios, e permanece há quarenta anos. Há quarenta anos que serve como ponte e memória, a glorificar a permanência de um género pela divulgação e crítica indispensáveis ao seu crescimento. As grandes revoluções ocorrem pela calada. Os grandes homens passam discretamente. A obra fica. Godspeed, Charles.

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Pulp Is The Plan, The Plan Is. E eis-nos chegados à primeira grande eliminatória. Destes finalistas, serão escolhidos uma dezena para compor a secção de participações livres da antologia Pulp Fiction à Portuguesa. Seguem-se identificados por título e país de origem, mas com o nome do autor omitido – bastantes autores fizeram questão em assinar as obras com pseudónimo, ainda que esse requisito não fizesse parte do regulamento, e, sem termos tido possibilidade de os contactar previamente, preferimos manter o anonimato.
  • Necronomicon (Portugal)
  • A Ilha (Portugal)
  • O Inconsciente (Portugal)
  • A Invasão (Brasil)
  • Noites Brancas (Portugal)
  • Horror em Sangue de Cristo (Brasil)
  • Mundo Fatal (Brasil)
  • O Lamento dos Mortos (Brasil)
  • O Tenebroso Mistério da Vila dos Pescadores (Países Baixos)
  • Crónica de um Pirata por um Dia (Portugal)
  • Viagem Nocturna (Portugal)
  • Ontogénese (Portugal)
  • O Segundo Sol (Portugal)
  • Pena de Papagaio (Portugal)
  • Valente (Portugal)
  • Pirâmide do Apocalipse (Portugal)

Parabéns aos finalistas. Temos aqui histórias de elevado calibre, que agora terão de encaixar-se no formato, dimensões e plano que estamos a prever para o livro. Temos de tudo aqui: de ficção científica a western, de aventuras nos Descobrimentos a histórias de espionagem com misticismo à mistura. Os autores de língua portuguesa não ficam atrás dos seus congéneres anglo-saxónicos.

Resta-nos agradecer a participação e a paciência de todos. Ficámos muito satisfeitos e surpreendidos pelo volume de participações e pela qualidade global do processo, e como já tivemos oportunidade de afirmar, a continuar assim, a literatura popular portuguesa irá ter passar por um período de invulgar interesse nos próximos anos. Esperemos que continuem a participar nas nossas iniciativas.

Passaremos agora à composição final da obra, à selecção e organização temática das histórias e ao enquadramento com as participações dos autores convidados, que, como se lembram do regulamento, compunham a outra parte da iniciativa. Ainda temos muito trabalho pela frente, mas estamos no rumo certo.

Nova actualização daqui a quinze dias. Vão seguindo este espaço.

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05 Julho 2009

Não Obstante Proclamar-se como seguidora do cepticismo científico, e esteja repleta em boa medida de tentativas honestas de emular, a verdade é que a Ficção Científica padece de muitas e variadas falácias que se entranharam no discurso e nas crenças de quem segue e debate o género - como, aliás, a própria ciência.

Uma destas falácias é a da importância da Ficção Científica internacional.

Leia-se, por «internacional», escrita em idiomas que não o inglês e, em certos casos, publicada em outros mercados que não o norte-americano. Este centrismo cultural só poderá parecer chocante para quem não conheça a História e a dinâmica do género, uma vez que, pese obstante a expansão e desenvolvimento mundial de uma comunidade que o segue devotamente, durante o quase século de existência, as modas, os critérios de apreciação, os temas fulcrais, em suma, o género em si, foram e continuam a ser ditados pelos autores daquele país. Antigamente falava-se de exploração espacial, foguetões e naves interplanetárias, colónias lunares; hoje fala-se de biotecnologia, ecoterrorismo, imortalidade, mundos virtuais - os debates iniciaram-se nas revistas pulp dos Estados Unidos, transbordaram para o formato romance e actualmente reproduzem-se em filmes, em sítios web, em best-sellers editados simultâneamente em diversos países.

Terá contribuido para tal a excelência com que se contavam as narrativas - os autores eram obrigados a aprender a contar histórias, contá-las de forma a que fossem interessantes, se queriam ser escolhidos pelas casas editoriais e assim colocar pão na mesa; isto permitiu que se eliminasse a gordura do proseletismo e se desenvolvessem técnicas eficientes de encadear cenas e manter um ritmo e desvendar plot points na tentativa de captar a atenção dos leitores, muito à semelhança dos canais televisivos de hoje. Terá contribuído também, sem dúvida, a visão do pragmatismo individualista do homem competente numa mágica terra de oportunidades, na qual não existiam ditadores, opressão política, repressão policial, uma terra de fronteira de controlo reduzido pelas forças da autoridade onde uma pessoa valia pelas suas capacidades. Esta terra prometida, mais relacionada com a imagem que a América fazia de si mesma do que a América que efectivamente era (e que se viu incapaz de continuar a ignorar os problemas internos aquando dos movimentos sociais dos anos 60), cairia como maná dos céus sobre os outros povos do planeta - em particular, sobre países que eram forçados a existir debaixo do jugo de botas políticas e onde se ia desculpando a existência a literatura fantástica como uma forma inócua de descompressão das massas. Não se admire, portanto, que este sonho de fugir dos problemas mesquinhos do planeta, esta necessidade premente de se abandonar o lar problemático e encontrar uma nova história de vida num lugar do universo em que tal seja efectivamente possível, tivesse um forte apelo. Tal é a necessidade da juventude, tal é a necessidade do oprimido, tal é a necessidade de quem, na meia-idade, se debate com a angústia de ter comprometido os sonhos ao ter tomado as escolhas mais razoáveis para a sua vida.

Assim, a Ficção Científica expandiu-se pelo mundo, e quando se fala em Ficção Científica referimo-nos a romances de autores norte-americanos e ocasionaisbritânicos, e quando se fala em mundo, traduza-se em países de tradição não-anglófona, e quando se fala em expandiu-se devia dizer-se impôs-se.

Isto foi assim ontem, isso continua a ser nos dias de hoje. As tradições custam a mudar, em particular tradições que nasceram há pouco tempo e que, é reconhecido por todos, funcionam na perfeição. Sim, porque diga-se o que se disser do auto-centrismo norte-americano dos prémios Hugo e Nébula, é por via deste centrismo, precisamente, que se desenvolveu e se mantém uma comunidade internacional, efectiva, de apreciadores. Quando o olhar de todos se foca no mesmo palco, é possível debater-se em igualdade de circunstâncias, independentemente das culturas de origem e da língua nativa, os méritos e os fracassos desta obra ou daquele autor. É possível partilhar modelos de qualidade e julgar outras obras (inclusive nacionais) perante estes. Quando, no ano passado, tive o prazer de me sentar com algumas personalidades da FC checa numa cavaqueira de café e lhes perguntei sobre a produção nacional e que qualidade lhe era atribuida, a resposta surgiu nos mesmos termos que eu teria dado: comparada com os modelos norte-americanos. Percebi de imediato a mensagem, como eles devem ter percebido a minha descrição da portuguesa. Como lhes conseguiria ter explicado Saramago ou Lobo Antunes num universo alternativo? «Antunes. like Kundera, wrote about his country's political turmoil, only without the deep, intelligent irony»? Não faço ideia...

Obviamente que quem está no palco tem outra perspectiva. Para já, a incapacidade de diferenciar friamente tiques culturais embutidos na produção realizada. E depois uma curiosidade sincera de conviver com a plateia e descobrir quem está do outro lado. Estas tentativas de abordagem são bastante apreciadas pela comunidade internacional e amiúde provocam tentativas contrárias de chamar a atenção, colocar o braço no ar, como o rapaz que quer ser escolhido para participar na cena de magia.

A estas iniciativas tem-se dado o nome de antologias internacionais de contos de Ficção Científica. Não diferem muito entre si. Comum a todas é o forte pendor geográfico que se impõe à selecção e que se sobrepõe a critérios de qualidade. São o equivalente literário da ONU, cada país um assento, um momento de discurso. E como a ONU, são igualmente impotentes em mudar, pela imposição, o rumo da História.

Da História da Ficção Científica, claro está. Uma História construida, como dissemos, com o olhar voltado para um palco, para um entendimento da narrativa. Com a melhor das intenções, alguns editores e autores trocam de lugar com membros da audiência e a seguir pedem-lhes que apresentem um «colorido local» - pois afinal há um mercado a convencer e contas a pagar, e aquele é o pitch que melhor vende. Pedem-lhes e medem-nos com base nisso. Os críticos medem-nos com base nisso. E não querendo ser maus hóspedes em casa alheia, os autores agitam os braços e mexem as pernas e procuram no seu melhor povoar as histórias de palavras da língua e cenários da terra. Ou, fugindo à analogia, escolhem histórias em que este colorido local talvez exista, histórias que possivelmente não serão as suas melhores. Talvez as melhores fossem as que se passam numa estação espacial colonizada por americanos; mas porque haviam os americanos de estar interessados numa história que um deles poderia contar, e com mais conhecimento de causa?

O resultado é invariavelmente uma farsa. Uma farsa bem intencionada, por vezes de qualidade, mas de ocorrência única, sem repetições. De tempos a tempos, alguém se lembra que é necessário mais uma - mas ao contrário das antologias anuais de contos em língua inglesa, estas não existem em sequência. Não existe uma Year's Best World SF para 2006, 2007, 2008... São acontecimentos erráticos e inesperados, logo votados ao esquecimento. Falta uma revista, uma publicação periódica, a montagem de uma máquina de tradução e conversão dos textos estrangeiros numa língua franca.

Mas será que faz mesmo falta? 

O meu pendor céptico leva-me a confiar na força das evidências. Perante tanta divulgação e possibilidade de contacto, a verdade é que não estamos mais próximos de uma FC mundial do que estávamos antes da internet ou nos anos 50.

Ou como confidenciou Bruce Sterling a Cory Doctorrow (mencionado por este numa das edições do Tesseracts), aquando da presença de ambos nuns encontros australianos:

Sterling, in his curmudgeonly way, opined that no one outside of Australia was crying out for more Australian science fiction. No one, apart from an Australian, felt any lack of Australianness in their sf diet. I had to admit he had a point.

Confesso que rejeitei a princípio esta afirmação. Em parte ainda a rejeito. Sei que há grandes autoresna FC francesa, na espanhola. Sei porque consigo ler o que escreveram. E sei, em segunda mão, que o mesmodeverá ocorrer na Polónia, tal é a veemência com que encontro afirmações da importância da FC polaca para os países do centro europeu. Mas como não me vejo com a possibilidade de investir o meu tempo na aprendizagem do polaco, duvido que alguma vez consiga confirmar estas afirmações em primeira mão. Nunca saberei o que está entre as capas dos poucos livros de bolso com capas de space-opera que trouxe, por graça, da República Checa, tão igualmente encantadores e alienígenos.

A não ser as excepções - aqueles que conseguirem sobressair do poço sem fundo de um idioma pouco divulgado e acabarem traduzidos numa das principais línguas do mundo. Foi afinal assim que Lem se tornou conhecido. Bem como os Strugastky.

Mas nem Lem nem os Strugastky criaram movimentos. Não abriram as portas a novos temas. Na sua condição de convidados especiais, existiam fora do discurso principal, e a Ficção Científica vive muito do discurso - este propõe um uso particular de um fenómeno físico, aquele inventa uma raça capaz de existir numa dobra do espaço, o terceiro apropria-se do fenómeno e da raça e tece uma saga dinástica. Tudo isto acontece em palco, em tempo real, actualmente potenciado, sem dúvida, pela tecnologia das redes sociais. Um livro, outro, outro ainda, e de repente, it's cyberpunk all over again...

E relutantemente admito o sentido da observação de Sterling.

Ninguém precisa de uma FC australiana. Ninguém precisa de uma FC europeia. Ninguém precisa de uma FC latino-americana. Ninguém, efectivamente, precisa de uma FC portuguesa.

Mas precisamos de uma FC norte-americana.

E não é derivado do auto-centrismo daquele país. É infelizmente uma sensação partilhada por toda a comunidade mundial, embora quase ninguém a assuma.

É possível que estas afirmações vos causem algum desconforto, talvez a vossa primeira reacção seja a minha, de repúdio e contra-argumentação enervada. Não digam ainda nada. Como em quase todos os conflitos interiores, deixem que seja o coração, e não a mente, a revelar o que realmente pensam. De modo a expor esta revelação, vou pedir-vos, como Matthew McConaughey o fez em Tempo de Matar que fechem os olhos e imaginem: imaginem duas gigantescas pilhas de livros, ou se forem mais tecno-orientados, DVDs repletos de milhares e milhares de obras electrónicas.

De um lado, está toda a produção de FC norte-americana: todos os Asimovs, Heinleins, Benfords, Bears, Haldemans, Sturgeons, Ellisons, Simmons, LeGuins, Tiptrees, todos os Strosses, Sterlings, Flynns, Barnes, todos os Paolinis, Meyers, Hamiltons. Todas as obras publicadas, todas as que virão. Todas as space-operas, a New Wave, o ciberpunk, o steampunk, o ribofunk, e demais movimentos e subgéneros.

Do outro, o resto da literatura fantástica. Os autores britânicos, os australianos, os neo-zelandezes. Os da África do Sul. Os de Cuba, México, Venezuela. Os do Brasil. Os franceses. Os espanhóis. Os russos. Os italianos. Os turcos. Os gregos. Os polacos. Os alemães. Imaginem também que todas estas obras estão traduzidas na vossa língua e assim, finalmente, ao vosso alcance.

E sim, os portugueses estão também na segunda pilha. Os escritos dos nossos autores. Os meus escritos. Os vossos escritos.

Imaginem que estão de partida para nunca mais voltar. O sol entrará em colapso em pouco tempo e precisam de fugir do planeta. O que levarem convosco, ficará a salvo. O que não escolherem, será destruido juntamente com a Terra.

E vão ter de escolher. Uma das duas pilhas. Não há tempo para misturas. Não há tempo para fazer combinações, metade daqui, metade dali, nem 30-70.

Vão ter de escolher os únicos livros que vos irão acompanhar pelo resto da vida.

E não podem voltar atrás.

Levantem-se, vão percorrer a vossa biblioteca, relembrar o que cada livro significou para vocês quando o leu. Imaginem-se mesmo a fazer esta escolha.

Agora que já sabem a resposta, abram os olhos. Não precisam de me dizer, não precisam de contar a ninguém. Diferentes pessoas chegarão a diferentes respostas. Mas eu conheço-vos, e sei qual foi a pilha mais escolhida.

E é com este vosso conhecimento honesto das preferências que nutrem que posso finalmente desvendar o que motivou estas observações: alguns posts, um blogue e uma nova antologia, tudo em prol de uma suposta FC internacional que não cobre um planeta, que não é uma massa terrestre e que dificilmente consegue ser um arquipélago – mas que espero sinceramente (quando um dia existirem tradutores automáticos minimamente eficazes) que um dia se torne realidade.

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03 Julho 2009

Os Nervos Em Polpa, mas não por muito mais tempo. Depois da primeira actualização do processo de selecção da Pulp Fiction à Portuguesa, aqui apresentada, eis que voltamos à carga com o assunto com três boas notícias: o processo está pertíssimo do fim, a antologia será algo como nunca visto no nosso mercado, e as actualizações serão feitas mais amiúde.

O processo estar pertíssimo do fim significa que, ultrapassadas as primeiras filtragens, nos encontramos com cerca de quinze contos finalistas. Estes irão concorrer entre si, na posterior escolha derradeira, para preencher a dezena de espaços disponíveis que vão compor a parte da obra dedicada a participações livres. Contamos terminar o processo de «negociação» interna da lista final (agora já não se trata de uma questão de qualidade, pois todos já atravessaram vários estágios de leitura, mas de adequabilidade ao conjunto - se se recordarem do regulamento, mencionávamos a necessidade de equilíbrio dos temas, das vozes narrativas, do fluxo do conjunto, pois uma colectânea tem de respeitar regras de ritmo não muito diferentes das do romance) até ao final da próxima semana e a seguir anunciar-vos. Repito: dia 13 de Julho publicaremos a lista de finalistas concorrentes à selecção final da antologia.

O trabalho não se esgota neste processo. Além da escolha dos contos, está, em igual primeiro plano, a preparação do conceito de antologia de uma forma inovadora. Neste prato, queremos o acompanhamento tão saboroso quanto o prato principal. Porque, sejamos honestos, é fácil recolher contos daqui e dali, ordená-los e fazer daí um livro. Mas esta antologia permite (e merece) melhor do que isso. Os autores merecem melhor do que isso. Sei que ficarão tão entusiasmados com o resultado final quanto eu e o editor nos sentimos. Sei também que poucas editoras no nosso mercado teriam igual abertura, competência e coragem para tornar este projecto em algo tão interessante como a Saída de Emergência. Espero que consigam ter isto em consideração na vossa apreciação deste percurso. Fica também já a indicação que mais pormenores sobre o assunto só serão relevados perto do lançamento (previsto para Setembro).

Isto não implica que estejamos surdos ao vosso interesse - muito pelo contrário, aliás. A vossa energia impele-nos. Sabemos que vai ser uma antologia escrutinada, falada, discutida, imitada. E por respeito ao vosso interesse, iremos começar a dar-vos conhecimento de como o processo está a decorrer em pontos de situação quinzenais (procurem no site da Saída de Emergência ou aqui, nos Efeitos Secundários).

O passo seguinte, como disse, acontece já na segunda, 13...

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02 Julho 2009

Tropecei Por Mera Circunstância, pois ainda não me havia deparado com o blogue em questão, no círculo de sugestões em que consiste o Prémio Lemniscata: cada premiado deverá escolher, por sua vez, 7 outros blogues, ad infinitum. A escolha de José Eduardo Lopes centrou-se na área da ficção científica, entre os quais nós estávamos. Estou bastante agradecido pela escolha e pela oportunidade de, pela minha vez, destacar alguns dos meus preferidos. Uma vez que a selecção do José já contempla parte dos principais blogues nacionais deste género, irei diversificar a escolha.

Eis a lista:

Indico também o Correio do Fantástico, mas a nível de extra-concurso por ser um dos contribuidores (ou melhor dizendo, serei assim que recuperar do atraso após o amável convite feito), e que é um trabalho de paixão desenvolvido por um conjunto de jovens entusiastas, com particular destaque para o Roberto Mendes.

Sobre o prémio:

«O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores.

«Lemniscata: curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante. Lemniscato: ornado de fitas; do grego lemniskos, do latim, lemniscu; fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores. (in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)».

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28 Junho 2009

Além Da Alienação Das Gentes Com Fios Brancos dependurados das orelhas, afastadas do momento e lugar presentes como quem lê um livro, o iPod, aparelho anódino de uma empresa que só não dominou o mercado informático devido à sua eterna postura de encarar o computador como algo no qual ninguém podia mexer (diga-se o que se disser da Microsoft, a verdade é que a visão «um PC em cada secretária» foi absolutamente revolucionária - tratar o computador como plataforma de trabalho universal e não como outro electrodoméstico), trouxe também a facilidade (efectivamente permitida pelo iTunes, mas isso são pormenores técnicos...) de poder descarregar-se ficheiros áudios publicados periodicamente por determinadas fontes - assim nascia o podcast.

Por meio de feeds, que é como quem diz instruções que informam de forma normalizada os restantes computadores e aplicativos do tipo de conteúdo de determinado sítio, a colocação regular destes ficheiros áudio tornou-se no equivalente de programas de rádio emitidos em determinados dias, a determinadas horas. Bastaria à pessoa interessada «subscrever» a referida publicação - para todos os efeitos, controlar automaticamente a existência de novos ficheiros e descarregá-los assim que estivessem disponiveis - e ir ouvindo, tranquilamente, os novos programas. O mecanismo estava montado: havia criadores e havia ouvintes.

A adopção foi bastante rápida - uma  rapidez que começa a ser habitual nos nossos dias, como se estivessemos já preparados para a nova forma de utilizarmos a tecnologia existente (o terrível choque do futuro de que se falava há umas décadas torna-se progressivamente no delicado embate de uma pena do futuro). De novo, a internet permitiu que qualquer criador atingisse qualquer ouvinte sem a intermediação das estações de rádio, deixando funcionar a meritocracia da qualidade e do interesse. Os podcasts abundam, actualmente - tanto que, tentar segui-los a todos, ainda que numa humilde área como a Ficção Científica, seja impossível nas poucas horas de lazer do dia. Há podcasts de divulgação, podcasts de debate, podcasts de ruminações pessoais. Há podcasts que oferecem a leitura de contos e romances, aquilo que se conhece como audiolivro, ou promovem folhetins radiofónicos (um formato do meu grande apreço que graças a este meio está a renascer).

Nem todos são bons - se a organização do texto é importante para a palavra escrita, a qualidade da voz, do som e da leitura são imprescindíveis para uma emissão áudio. Aliás, a grande maioria resultam de esforços pessoais, por quem ainda está a dar os primeiros passos neste meio. O que interessa aqui ressalvar é que a tecnologia está ao dispor de todos, e com perseverança e algum engenho, consegue-se sair do anonimato e acabar nas páginas do New York Times, como aconteceu ao Scott Siegler (um autor mediano que teria dificuldades em ser publicado e a seguir teria desaparecido nas prateleiras de uma qualquer livraria, não fosse a forma original como decidiu edificar uma audiência - colocando capítulo a capitulo a leitura dos seus romances e a seguir promovendo-se até à exaustão).

Claro que ao «dispor de todos» tem um senão - há que saber inglês. E há que conseguir ultrapassar alguns dos sotaques e alguma terminologia específica dos países de que estes criadores são oriundos. Neste caso, como em muitos, a adopção pela língua portuguesa, àparte as ocasionais experiências na área do humor por profissionais que também têm presença na rádio e na televisão, ainda é um deserto.

Felizmente que, como é regra nos desertos, nem todos os oásis são miragens, e foi com prazer que descobri o que talvez seja o primeiro podcast de fantástico em língua portuguesa chamado Papo na Estante. O título denuncia imediatamente a origem além-mar, e embora só o tenha descoberto recentemente, já se encontra na 11ª emissão, a última dedicada a vampiros tupiniquins (leia-se: histórias de vampiros escritas por autores brasileiros) demonstra a potencialidade deste veículo para a divulgação do fantástico, de uma forma leve, divertida e bem-humorada. A produção é de Thiago Cabello, Ana Carol, Eric Novello, Alfredo Monte e Ana Cristina Rodrigues (actual presidente do Clube de Leitores de FC brasileiro).

Desejamos-lhe vida longa e ficamos a aguardar por mais exploradores arrojados, de qualquer parte do mundo lusófono.

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27 Junho 2009

O Círculo Continua Desenhando-se, embora cada vez mais curto, o que o terá transformado (penso) numa espiral. A invasão externa - de outros bloguistas - (ainda) não aconteceu. Gostariam que nos debruçássemos sobre obras disponíveis em português? De autores mais debatidos? Não deixo de sentir que, em caso afirmativo, estaríamos então a desvirtuar o lado educativo, cultista, deste clube de leitura.

Neste mês o objectivo era ler Mindbridge, de Joe Haldeman, e apenas alguns de nós o conseguiram, não obstante ser uma obra de pequena dimensão. Dos que chegaram ao fim, particular destaque para a crítica do Nuno, que abrange duas partes. A Cristina oferece também a sua opinião.

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