Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


18 Outubro 2009

Emergir Por Breves Instantes do mundo da escrita (pois o motivo de não vos escrever há algum tempo é porque tenho estado a escrever para vós) para destacar a «publicação» online de um dos gigantes da FC: Theodore Sturgeon e o seu Deus Microscópico. Vão ler, vá. Desliguem a treta da televisão.

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11 Outubro 2009

Uma Rara Oportunidade para conhecer Jorge Luíz Calife, responsável por Padrões de Contacto, considerada a primeira trilogia de FC hard brasileira e por inerência em língua portuguesa. Mais informações podem ser encontradas na obra fundamental de Ginway sobre a evolução da FC brasileira, disponível em pré-visualização limitada no Google Books.

A nível nacional, destaque para o artigo fundamental de Teresa Sousa de Almeida que ajudei a salvaguardar no blogue Correio do Fantástico

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06 Outubro 2009

I Think You'll See How We Differ. Para o vosso prazer e conveniência como espectadores, neste tempo apressado, dez minutos de Quinta Dimensão (Além da Imaginação) que contém todo o universo de Rod Serling.

Ocorre-me que uma série portuguesa desta natureza - argumentos fortes, baixo orçamento, diferentes actores - faria maravilhas, actualmente, pelo estado do fantástico entre nós.

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05 Outubro 2009

Das Coisas Steampunk. (Já se esqueceram deste desafio?) A escutar a palestra de Fábio Fernandes, Gianpaolo Celli e Bruno Accioly, que ocorreu no Fantasticon 2009 organizado por Sílvio Alexandre em São Paulo há poucos meses. O steampunk parece estar na berra lá por fora (e lusitaniamente arranca com o desafio proposto), uma vez que o sítio web da editora Tor devota todo este mês ao fenómeno - um manancial de artigos de referência sobre o assunto, em particular este guia da Cherie Priest. Aqui estão alguns romances recentes. Obviamente que para escrever ou falar com autoridade do assunto, é preciso conhecer o movimento das civilizações, nomeadamente da sua automatização. E aliar este conhecimento a factos históricos e tudo o demais que se possa encontrar na Web. O objectivo? Criar ficção, como a que surje nas páginas desta fabulosa revista. Sem esquecer o nosso (possivelmente) primeiro romance português do género: Espíritos das Luzes de Octávio dos Santos.

No final, o steampunk acaba por ser aquele casamento aparentemente irreconciliável entre História e Ficção Científica, entre passado e futuro, entre o estar e o devir, como um circuito integrado de silicio incrustado na carapaça de um escaravelho de rituais egipcios, orientado-se por um misto de magia e GPS.

Não vão querer aceitar o desafio?

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04 Outubro 2009

Este Convite Que Não Te Farei, se moras desta margem (europeia) do Atlântico, é o lançamento da Galeria do Sobrenatural - Jornadas Além da Imaginação, antologia de contos de fantástico organizada pelo Sílvio Alexandre e publicada pela Terracota editora, que pelo catálogo pretende especializar-se no género – embora te faça o convite a ler. Se moras desta margem do Atlântico não reconhecerás de imediato a alusão ao Twilight Zone, por cá traduzido como Quinta Dimensão e por lá como Além da Imaginação, nenhum dos lados apreciando a mais literal Zona do Crepúsculo (ou zona do lusco-fusco, numa possível versão Gatos Fedorentos), e possivelmente não será evidente que se tratam de textos inspirados ou alusivos à série televisiva e aos temas, em grande medida ingénuos, tratados por Rod Serling época após época.

Para esta contribui com uma peça original, «Dormindo com o Inimigo», que procura recuperar alguns dos temas mais apreciados por Serling. Foi essencialmente uma pesquisa interessante, rever uma parte dos primeiros episódios a preto-e-branco (enquanto que a série a cores, dos anos 80, embora conte com algumas histórias excepcionais - nomeadamente, as de Silverberg e de Sturgeon -, parece mais datada do que a série original), e novamente voltando a sentir algum incómodo pelo excesso de Serling, que se torna repetitivo e óbvio após determinada dose, e ausência dos autores da época. A pesquisa posterior revelou que afinal era uma condição sine qua non dos estúdios, com prejuízo do excelente material disponível nas Galaxy e Astounding da época. Destaque para o «It's a Good Life», como sempre, e para outro episódio, sobre uma sociedade em que todas as pessoas são incrivelmente lindas e idênticas, graças a cirurgia de reconstituição, e existe uma miúda que recusa mudar para não perder o que a individualiza, sendo por isso considerada feia - no final, acaba cedendo à pressão, e tal como Winston Smith em 1984, passa a amar aquela sociedade monótona. Serling, no seu sermão de encerramento, passa completamente ao lado da mensagem, e não se refere sequer à malícia de um estado dissimuladamente fascista (como seria a sua América de então). Infelizmente, não consegui ainda redescobrir esse episódio.

Não deixa de ser uma grande coincidência que, após relembrar a importância de Bráulio Tavares para a nossa FC dos anos 80/90, me vá encontrar, pela primeira vez, publicado a seu lado - e de outros nomes sonantes da FC brasileira, como Fábio Fernandes, Guilia Moon, Lúcio Manfredi, Max Mallmann, Miguel Carqueija, Octávio Aragão, para mencionar os mais conhecidos.

Se moras desse lado (sul-americano) do Atlântico, o lançamento acontecerá no dia 31 de Outubro, às 15h00, na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509, São Paulo. Não faltes.

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Curiosidades encontradas na internet (aviso: segue-se um conjunto de links que vos poderá retirar tempo a outras leituras):

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26 Setembro 2009

Algum Bem Nasce Dos Meus Comentários anódinos: o Roberto Mendes, he of Dagon fame e não só, lançou um desafio de escrita aos autores de língua portuguesa para imaginarem futuros de Portugal e seus habitantes. Como autor, creio que o vosso desafio será abrir os olhos para o papel que o nosso país tem no mundo - não só a nível económico, mas também a nível cultural e histórico - e fugir à tentação de ingenuidades fantasiosas ou nacionalistas; essencialmente será a vossa oportunidade de perceber o que significa pertencer-se a uma cultura e a uma nação numa época de globalização crescente. Como português, desconfio que o primeiro obstáculo que devem ultrapassar será o da descrença - escrever sobre o futuro de Portugal, para quê? Portugual merece de facto um futuro? Temos alguma ideia para onde rumamos?

Só vocês saberão (e poderão partilhar connosco) a resposta.

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Poucos Entenderão o que representou a escolha de A Espinha Dorsal da Memória para vencedor da edição de 1989 do prémio Caminho de FC. A ficção científica em língua portuguesa que então se publicava tinha a chancela da Caminho (cf. este meu texto sobre o percurso da FC nacional e o papel das editoras no seu desenvolvimento - ou falta deste). João Aniceto, vencedor em 1985, fazia a sua aparição regular com edições de vários milhares de exemplares patrocinados pela Sagres - romances inspirados em temas batidos no género, com alguma ambição literária embora por vezes lhe faltasse mão no material (lembro-me em particular da tentativa de descrever uma mesma cena sob o ponto de vista de quatro personagens em O Quarto Planeta - este tipo de truque quase cinematográfico só resulta quando cada novo recontar do mesmo evento oferece ao leitor novas informações ou uma apreciação completamente diferente, senão resulta maçudo) e uma peculiar falta de ouvido para o diálogo (lembro-me da discussão de um casal em A Lenda e de pensar se o autor nunca teria tido discussões conjugais na vida), eram contudo obras divertidas e com um enredo subjacente, inspiradas na ficção científica e que tentavam de facto fazer juz ao género.

Surgiriam, no entanto duas outras obras peculiares, cuja classificação como «ficção científica» era no mínimo questionável. Universo Limitada, de Isabel Cristina Pires, vencedora do prémio em 1987, ficaria na memória, a esta distância, como uma colectânea de contos muito curtos em que havia breves aparições de temas da FC - robôs, extraterrestres - mas com pouca intenção de enredo ou sequer de ilustrar situações ou estados de alma. Três Lágrimas Paralelas, de Artur Portela, seguia-lhe na esteira, embora deste recorde um conto que tentava apresentar uma Lisboa subordinada a uma invasão japonesa (se era uma invasão concreta ou apenas cultural, não consigo lembrar-me). Entendam que encontrar estas narrativas na colecção da Caminho foi um brusco choque de expectativas para o jovem de então, habituado aos sólidos contos americanos com enredos e percursos emocionais sustentados e extrapolação científica fundamentada. Talvez hoje a apreciação resultasse diferente, mas nessa época pouco contribuiu para sentir que haveria na língua portuguesa uma capacidade de fazer e escrever ficção científica como se fazia lá fora...

Bráulio Tavares foi uma espécie de redenção neste figurino. O conjunto de narrativas da Espinha Dorsal da Memória não só apresentam enredos de tronco inteiro como se encontravam escritos com um estilo sólido e profissional, literário, denunciando um autor que já se encontrava em actividade há algum tempo. Finalmente, contos que se podiam saborear. A FC brasileira afirmava-se assim, julgo que pela primeira vez, em terrenos lusos com qualidade e distinção. A fasquia da FC em língua portuguesa tinha sido elevada - e mais acima subiria, estou em crer, se a produção brasileira da época tivesse proliferado neste lado do oceano. 

Bráulio nunca participou nos encontros nacionais de FC. É possível que nos tenha visitado aquando da cerimónia de entrega do prémio pela Caminho. É possível que tenha sido entrevistado pelos jornais - desconheço. Fica aqui, no entanto, uma oportunidade de conhecer o autor, num debate a respeito de uma antologia de Edgar Allan Poe que se encontra a preparar para edição no Brasil.

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Passa Despercebida nos nossos noticiários uma singela descoberta que, se bem aproveitada, determinará o nosso futuro enquanto espécie. Existe mais água em Marte do que inicialmente pensado, e só não o percebemos por mero acaso (alguns centímetros) - eis uma situação de história alternativa, sem dúvida. Todos os motivos são importantes para incentivar o programa espacial e retomar a nossa colonização do sistema solar. Décadas de ficção científica avisaram-nos repetidamente que o sol não durará para sempre e que se queremos sobreviver precisamos de nos desmamar do planeta Terra e adaptarmo-nos às condições duras e insustentáveis do espaço profundo. Não será a espécie tal como a conhecemos que fará essa viagem, mas outra bem diferente, que resulte de séculos ou milénios de existência extra-terrestre e da resultante manipulação genética. A existência de água adicional em Marte facilitará a construção da primeira colónia - um pouco na senda dos nossos antepassados, à procura dos cursos de água para montar acampamento.

Passou despercebida, mas infelizmente não passam todas as verborreias insalubres dos nossos candidatos às presentes eleições. O triste rol de figuras que amanhã serão apontadas a dedo, num processo que não difere assim tanto da identificação do criminoso num line-up policial (igual necessidade de secretismo, vergonha e medo das consequências), para tomar os comandos deste navio-pedregulho, reflectem, creio, não o país, mas a descrença nacional perante cargos públicos e de liderança. Onde devíamos ter os melhores (melhores gestores, as figuras mais carismáticas, os pensadores mais articulados), resta somente uma panóplia de oportunistas e demagogos, de visão comezinha ou desligada da realidade. E nenhum, nenhum deles é capaz de tratar a Palavra com o respeito merecido. Alguns meses de Obama têm-nos demonstrado como os grandes discursos inspiradores ainda têm lugar nesta era cínica e descrente. Os discursos dos nossos são básicos e vazios de sentimentos e ideais. São a negação da capacidade da nossa língua enquanto veículo do pensamento elevado. Não há escritores decentes nas fileiras partidárias? Além do mais, todas as medidas são remendos. Todos os programas partidários se centram nesta e naquela desigualdade de um segmento da população, a decidir onde deve pousar o curto cobertor da nação, querendo destapar daqui para tapar dali, enquanto lentamente vamos, todos, ficando com mais frio e fome. Onde estão as visões estratégicas a 50 anos que salvaguardem o nosso contributo para a Europa e o mundo? Onde estão os planos para garantir a continuidade da língua portuguesa nos próximos séculos, perante a crescente importância de nos exprimirmos numa única língua nestes tempos de internacionalização efectiva? Vamos ser mais básicos: onde estão as medidas que nos ajudem a procriar?... Que portugueses, e que tipo de portugueses, e em que tipo de paradigma mundial, e a falar que língua, restarão ainda daqui a 100, 200 anos?

O quê? «É daqui a muito tempo? O futuro não interessa?» Sem dúvida, esse pensamento tem-nos servido até agora. Quando os últimos membros da espécie humana tiverem fugido da Terra, logo veremos quem ficou para trás para fechar as luzes...

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Nestes Tempos Que Nos Querem Fazer Crer são de Bolaño, eis um movimento que passará certamente ao lado de muitos leitores, como bem diz a Safaa. Como alguns, soçobrei ao calhamaço da versão inglesa muito antes da edição da Quetzal, mas repousa algures na minha biblioteca, à espera, enquanto lhe passaram à frente outros tijolos, como Drood e O Nome do Vento. De todos os comentários lidos (e este, de Jonatham Lethem, que como bom ex-autor de FC, não resiste a fazer comparações com os grandes do nosso género), o do David Soares será sem dúvida o mais provocatório: «(...) acho fantástico que livros como o "2666" sejam publicados nestes tempos do sintético e do instantâneo. Talvez uma forma de influenciar as pessoas a lê-los seja dizer-lhes que são anuários da Twitter: assim, se elas observarem os milhares de páginas como sendo uma sucessão de vários "quanta" de 140 caracteres ainda serão capazes de se esforçar e retirar algum prazer do acto da leitura.» Resta-nos a consolação de que, apesar de o impacto ecológico desta obra se poder comparar ao do último Dan Brown, estamos a sacrificar árvores por algo melhor.

(Este tencionava ser um post inspirado sobre os poetas da auto-destruição e como são patéticos, ao descobrir que a doença hepática que vitimou o autor se deveu ao consumo da heroína. Percebem, se efectivamente os marginais, os pobres, os assolados pelo mundo serão os nossos melhores comentadores, se de facto é preciso sair da sociedade para poder tecer considerações sobre a natureza desta, ou se esta visão poética é na sua essência ridícula, pois a exclusão é feita e imposta pelo próprio, ninguém o afasta, ninguém o condena, e o que pareceria poesia é na verdade cobardia, fracasso e fraqueza. E se nesta óptima, Bolaño merecerá a conotação de grande autor quando parecia ser uma pessoa tão pequena. Era para ser um post destes, mas depois descobri que talvez houvesse dúvidas sobre o uso da heroína, que a doença tivesse causas naturais, e a argumentação retraiu-se, aguardando outra ocasião. Quem sabe, talvez um dia escreva um post sobre o Jorge Palma.)

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22 Setembro 2009

Um Anúncio Pelo Qual Aguardavam apresenta muito sumariamente os escolhidos para a antologia Pulp Fiction à Portuguesa - eis os escolhidos para participar na antologia, na ordem em que surgirão:
  • A Expedição dos Mortos (ex-Necronomicon)
  • A Ilha
  • Pena de Papagaio
  • O Tenebroso Mistério da Vila dos Pescadores
  • Horror em Sangue de Cristo
  • O Inconsciente
  • O Segundo Sol
  • Crónica de um Pirata por um Dia
  • Valente
  • O Lamento dos Mortos
  • Mundo Fatal
  • Noites Brancas
  • Pirâmide do Apocalipse

Nestes contos serão encaixados os textos dos autores convidados. A escolha de 13 contos de submissão livre, e não a dezena anunciada inicialmente, só foi possível devido à aposta numa antologia de substância (mas não excessiva) e à qualidade das ficções aqui apresentadas. E isto só teria sido possível numa editora como a Saída de Emergência, das poucas a apostar em projectos diferentes e de qualidade em língua portuguesa (e atenção que não me pagam para dizer isto...).

Agradecemos a todos a vossa disponibilidade e paciência para esta viagem. Agora só falta lançar o barco.

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