Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


22 Abril 2010

É Como Se Nesta Era guardar memória fosse um hábito decadente e o passado, algo de que nos envergonhamos. Refiro-me à atitude da nossa civilização a tudo o que cheire a bolor, que fique no báu demasiado tempo. Nesta era, aos livros não se permite a dignidade de se desfazerem em folhas soltas de lombada partida, fruto do manuseamento e testemunho do Tempo, as margens não amarelecem, as capas não se apagam lentamente ante a exposição prolongada ao sol numa montra que nunca muda, qual polaroid às avessas. Nesta era, os livros não são como o vinho, não repousam nas livrarias a aguardar que o leitor nasça e cresça e finalmente os descubra, vinte anos depois, arrumados num canto - não acontecerá esta história de descoberta, esta vivência do amor de dois seres que estavam destinados.

Nesta era, os livros são transformados em polpa por causa do número que aparece numa linha própria de um outro livro feito de números. Todos sabemos que as palavras são esguias, enquanto que os números são disciplinados. As palavras vivem das sombras e das curvas, os números vão directos à questão.  Um livro feito de palavras não é páreo para um livro feito de números. As palavras podem cantar, mas os números berram e fazem-se ouvir. A beleza que existe nos números não é a beleza estética das palavras; se num mundo justo ambos poderiam brilhar, neste mundo tortuoso e complicado travam um combate desigual. Em particular se a pessoa que os avalia tem também números a pesar-lhe na alma.

Que os livros não esperem por nós, é um incumprimento da natureza do livro. Que nos seja negada, pelas circunstâncias da nossa civilização, a oportunidade de descobri-los como antigamente, é uma perda na nossa vida. E depois esta sensação de algo irrecuperável que vemos afastar-se, como se lançado à forte corrente. O que se afasta somos nós. Aquilo que fomos. Aquilo que fizemos.

Quando esta descoberta não acontece, a experiência de vida não acontece. A ausência de memória torna-se na memória da ausência. Se o livro não está na prateleira, não o compramos. Se não o compramos, não o lemos. Lemos o próximo, lemos o livro ao lado, mas não lemos aquele. E porque o livro não volta, nesta época que rejeita a figura da coisa antiga, lentamente desaparece, desvanesce-se, nunca se ouviu falar. Não se escreve sobre. E por isso, não existiu.

Entende-se que a tendência do esquecimento tenha influenciado as escolhas limitadas. Que o ritmo diário e a pressa de responder tenham abreviado a reflexão. Ninguém é infalível, leituras são subjectivas e gostos não se discutem. Talvez se desconheça inclusive até que ponto outras obras preencheriam os requisitos adicionais de destaque na imprensa (o que se entende por destaque e qual a imprensa em causa?) e de best-seller (como medir best-sellers em diferentes épocas?). Em particular se as recomendações que acabaram sendo apresentadas são irrepreensíveis, todas as duas.

Mas depois não se entende - o destino é falar de clássicos, e clássicos, em eras de antanho, costumavam abranger décadas que não a presente. O truísmo de que há pouca FC em Portugal não deixa de ser incompleto, ao não informar que na década anterior, e nas décadas antes dessa, o fantástico que havia era quase exclusivamente FC. A ausência de informação vai tornar-se na informação da ausência. 

Ao ombrear com listas que remotam ao início do século XX e ostentam inúmeros galardões literários (ainda que, se formos esmiuçar as recomendações estrangeiras, possamos chegar à conclusão que a recomendação nacional terá sido, correctamente, mais exigente no cumprimento dos critérios pedidos), resta uma inadvertida mas infeliz sensação de pobreza de exemplos, de uma cultura figurativamente menos expressiva.

A esta sensação mistura-se um certo desconforto pessoal - estará na suspeita de quem lê e não faz sentido negá-lo. Ainda que não tenham sido pedradas no charco - longe disso -, há obras do próprio que mereceriam ser incluídas, pois aconteceram na aridez que sempre caracterizou o género neste país. 

E muito antes destas, mandando devidamente o próprio à fava, ainda que não se quisesse incluir o tal calhamaço de referência a quatro mãos, existiriam uma Pedra de Lúcifer, um Limites de Rudzky, um Veleiros do Tempo Cósmico... 

Perguntarão: quer-se assim dizer que tem de haver uma lista mandatória de obras a mencionar em todas as ocasiões, e se não for cumprida comentários como este vão imediatamente surgir, qual prima-dona apupada em palco? A resposta imediata é não. 

Excepto talvez no caso em que a resposta imediata é sim. Em que somos embaixadores da História do país no palco das Histórias de muitos países. Lágrimas de Luz (para falar do concreto e do conhecido) é um livro cheio de falhas que marcou a geração de 1980 em Espanha. Temos equivalente? Diria: Os Caminhos Nunca Acabam. Cheiinho de falhas, é verdade, mas é nosso, é um marco, merece destaque, e precisamos de aceitá-lo. E como a este, outros.

Não pretende isto ser mais do que um comentário cordial, que, antes da publicitação do feito, talvez surgisse em conversa privada. É algo que está longe de ser importante, perante a vontade partilhada de desenvolver o Fantástico nacional - e reconheça-se neste âmbito a tal incrível e muito admirável capacidade em reunir e incluir as mais diversas franjas do Fantástico nacional, inclusive contra trabalhosas e inesperadas resistências do dentro do próprio meio. Mas ainda assim é um comentário que não podia deixar de acontecer. 

Talvez o que valha a pena seja perceber questões mais profundas. Existem clássicos do Fantástico português? Temos todos consciência dos mesmos? Variam por pessoa, por faixa etária, por preferência de género, por experiência de leitura? É fácil definir um «clássico»? E será exequível apontar sem falhas o que se considera por Fantástico nacional? Fica o desafio à reflexão.

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19 Abril 2010

Mais Do Que Todas as políticas de protecção do livro, mais do que uma reviravolta na eficiência da indústria livreira, mais do que fusões e aquisições destinadas a reduzir o custo de produção e obter economias de escala para colocar exemplares em mais pontos de venda a melhor preço, mais do que um aumento brutal da qualidade das traduções, mais do que uma estratégia bem sucedida do livro de bolso, mais do que livrarias com cafés e música para atrair clientes, mais do que capas inovadoras com relevo e prateados, mais do que expositores altos ostentando personagens enigmáticas, mais do que promoções e pacotes de descontos, mais do que reportagens na imprensa e espaço nobre no telejornal, mais do que passar palavra em blogues, mais do que criar booktrailers, mais do que falsear polémicas para chamar a atenção, mais do que inventar dias de festa temática e feiras locais, mais do que andar a vender de porta em porta e à entrada do metro, mais do que qualquer esforço nacional, o Eyjafjallajökull será, com grande probabilidade, o principal contribuidor para o crescimento que este ano se irá verificar na procura de livros de edição portuguesa, pelo simples facto de impedir que as habituais edições estrangeiras, encomendadas por particulares ou pelas distribuidoras, cheguem por via aérea ao nosso país, retidas na origem ou nos hubs europeus de distribuição do correio internacional situados na Holanda e Alemanha. A par do que já contribuiu para a redução das emissões de carbono e do consumo de petróleo graças a todos os vôos não realizados.

Há duas formas pelas quais podemos inscrever o nosso nome no grande mecanismo do progresso: sermos excepcionalmente eficientes e criativos para que se desenvolva e cresça de forma inédita, ou sermos abismalmente obtusos e «empatas» quando chega a nossa vez de contribuir de modo que nada avance até que nos venham pedir (e oferecer) favores. A Islândia, sem prever, terá encontrado o seu lugar na História.

Actualização: surgiram dúvidas perfeitamente razoáveis de que os meus comentários poderiam estar a referir-se a um recente debate sobre a natureza da edição da FC em Portugal, agora e no passado. Nada poderia estar mais longe da verdade, inclusive porque, por afazeres pessoais, não dediquei o tempo necessário a ler e ponderar os extensos argumentos apresentados e logo nem sequer o tinha em mente quando escrevi isto. O referido acima aborda o mercado livreiro nacional como um todo de forma generalista, e não a FC ou posturas e opiniões pessoais. Apenas queria deixar aqui este esclarecimento.

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18 Abril 2010

Uma Colecção de Referências e acontecimentos dos últimos quinze dias:
  • Descobrir Novos Autores é uma exposição que decorre até ao final de Abril na Associação Académica da Amadora, Portugal, dedicada à apresentação de vários jovens autores do Fantástico nacional, com organização de Rafael Loureiro;
  • Safaa Dib apresenta-nos um George Martin do antigamente e relembra-nos um dos melhores contos de Shirley Jackson, e logo a seguir comenta com pertinência sobre a evolução da indústria livreira em Portugal
  • Breve comentário sobre FC no Diário de Notícias
  • O novo formato da Bang! é mencionado no Diário de Notícias, logo seguido de novidades por João Seixas
  • Coincidente com o lançamento de Se Acordar Antes de Morrer, de João Barreiros, nova publicação online pela Livros de Areia da noveleta «Disney no Céu Entre os Dumbos», inicialmente publicada pela E-nigma.
  • Os livros da semana por Cristina Alves, que também critica a colectânea de Barreiros acima mencionada (parte I e II).
  • O Evangelho do Enforcado está a dar que falar; eis uma entrevista ao autor, David Soares.
  • Dino Buzatti no JL, jornal que este mês dedicou bastante tempo de antena à Ficção Científica.
  • Terão os Apple In Stereo efectivamente tempero de Ficção Científica? A Sound + Vision pensa que sim.
  • A Tor, editora norte-americana de FC com algum relevo, merece destaque num artigo do Economist publicado pelo Expresso sobre edições electrónicas
  • Alguns dos melhores romances de 2009 na nossa vizinha Espanha; confiram também a lista de contos

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14 Abril 2010

Não Se Trata De Destaque o facto de colocar aqui excepcionalmente um apontamento para a tristeza anónima do primeiro da sequência de comentários (e efectivamente, se é para alvitrar tristezas em público, então que sejam anónimas) mas aproveitar a ocasião e o exemplo (pois com tanto anonimato escreveu-se precisamente onde se queria lido) e mostrar-vos que também no meio irrisório e patético da FC nacional se encontra este tipo de triste gente. E se bem triste é esta triste gente, tanto mais triste se torna por nutrir invejas ou ressentimentos no patético e irrisório meio da FC nacional.

Este meio não vai habitualmente à televisão, não entra nas Correntes de Escritas nem Literaturas em Viagem, não faz telenovelas nem é convidado a escrever colunas insossas para os semanário da praça ao preço do diamante; e se integra colunas de revistas ou jornais nacionais é no papel do totó da aldeia, que vem falar de totozices para os demais totós, que é para não se sentirem excluidos da compra dos ditos jornais e revistas. Alguma vez o totó  participa no debate do que Realmente Interessa à gente da Literatura? Alguma vez o totó opina sobre os Bolaños de ocasião e ajuda a encher os bolsos e egos de todos os penduras locais das modas ditadas por Nova Iorque? Até diz que não quer, que não precisa, agarrado a uma pretensa marginalidade de um género que torna milionária muita boa gente lá fora.

Mas depois depara-se com a triste gente e vira rei. Afinal, só um rei tem seguidores e ressabiados. E se os seguidores podem ser mais ou menos fieis, a verdade é que os ressabiados são do público mais atento que existe. Escutam todas as palavras, decifram os significados escondidos de cada semântica, vão aos dicionários conferir ortografia e aos compêndios validar a gramática. À procura daquela falha, desta escorregadela, dessa incongruência. São o público dedicado que o país não tem, que a cultura não permite. É imaginá-los horas e anos e vida e energia dedicados a esta senda. É imaginá-los a fumegar ante afirmações certeiras, quais caniches de Pavlov - dá-se-lhes um choque eléctrico e saltitam no ar, a latir, irritadiços, com a cauda curta chamuscada, daquela forma pequenina e divertida que lhes é tão própria. Auf, auf, auf!

No final, o que fica? A validação de um estrelato, o orgulho de pertencer à douta companhia dos demais mencionados no fôlego, e o divertimento secreto de notar que, com tanto anonimato apregoado, esqueceram-se que a forma pessoal da escrita, meus caros, é cá uma linguaruda...

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07 Abril 2010

Em Tempos Que Já Lá Vão, a simpática Sarah Adamopoulos publicava no jornal Independente uma referência a um comentário meu na revista Ler, em que eu mencionava a possibilidade de (citação obtida de memória, não será textualmente exacta) «(...) o livro electrónico substituir o livro impresso e outras parvoíces, que se perdoam quando se lê O Futuro à Janela.» Obviamente que chegámos a 2010, quase vinte anos passados,e o livro tradicional não só não foi substituido, como a facilidade de produção artesanal com elevada qualidade, através do print-on-demand e desktop publishing, elevou a edição a níveis incomportáveis para a apreciação individual. Chegará o dia em que haverá livros editados sem terem um único comprador nem um único leitor, levados na enxurrada como pirilampos de vida breve...

Mas se o objecto livro não corre riscos de ser ultrapassado para já - enquanto se acertam e desacertam os aparelhómetros de leitura electrónica -, o que acontecerá à criatividade perante a evolução das redes sociais, das tecnologias colaborativas e da própria capacidade de interpretação sintática e sintagmática dos programas informáticos, à medida que estes se tornam aptos a descodificar e analisar as regras da linguagem natural?

Eis o desafio que a jornalista Maria Leonor Nunes me colocou há semanas, no decorrer da preparação de um artigo sobre a influência da tecnologia no processo artístico. Para complementar a visão científica com a do escritor. E devo dizer que foi o mais interessante desafio jornalístico dos últimos tempos.

O dossier foi publicado hoje no JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias e recomendo a todos, pela excelência do tema e da escrita. Um dossier como há muito não encontrava, recordando-me os textos extensos de opinião do suplemento literário do Público dos meus vinte e poucos anos, em que o João Barreiros e o José Manuel Morais iam apresentando os temas actuais e clássicos da FC. A acompanhar este dossier (do qual está publicado online apenas uma amostra), encontrarão um mini-conto inédito meu (era suposto ser apenas um par de frases em jeito de introdução ao tema, mas cresceu...) e outro do João Ramalho Santos, sobre possibilidades do futuro. O meu foi escrito a pensar em grande medida no público do jornal, pelo que apresenta um escritor a sentir na pele os efeitos imediatos de um Grande Irmão de secretária (que para qualquer escritor, será naturalmente o crítico literário) - se para o público em geral será um conto inócuo e divertido, desconfio que para os escritores tradicionais, protectores das suas palavras e decisões literárias, verão nele um terror com grande probabilidade de acontecer...

Uma nota final sobre a representação da Ficção Científica neste artigo, que não poderia ser mais positiva. Fala-se de futuro e possibilidades, de mudança face ao presente, consideram-se as tendências actuais na equação do devir. Em suma, vê-se a Ficção Científica em acção, a fazer o que sempre fez de melhor: recorrer as técnicas de extrapolação e colocar-nos numa realidade que, não sendo a nossa, não é de todo impossível de suceder. Mais do que apresentar autores em traços gerais e não os livros que escreveram, mais do que reproduzir desilusões e apatias e deixar uma memória vaga em quem lê de algo desinteressante e acabado, afirmaria que este é sem dúvida o melhor artigo sobre a apresentação das potencialidades da FC publicado num jornal nacional nos últimos anos. E sem dúvida que para isso contribuiu a entrevista e inclusão de cientistas, quiçá mais apostados num futuro glorioso que (pasme-se!) os defensores da FC cá da casa, em que me incluo. Uma lição para todos aprendermos.

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04 Abril 2010

Ficções Gratuitas. O género fantástico vai, semana a semana, sendo enriquecido com textos disponibilizados na internet pelos autores lusófonos. Destaque para as últimas contribuições de que tive conhecimento. Quem quiser participar, deverá anunciar-se no Twitter com a etiqueta #contosfc. Só serão considerados textos integrais em blogues e revistas online (fóruns não contam, e publicações em série apenas quando cada parte se apresentar completa).

 

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03 Abril 2010

DIAS DE POLPA (I). O número 72 de Tenebras apresentava já os sinais de decadência próprios de uma revista em vias de terminar: a periodicidade passara de semanal para quinzenal, o número de páginas reduzira-se e o conteúdo era quase completamente composto por material republicado ou reaproveitado da congénere espanhola (cuja banda desenhada inclusive chegaria a publicar no castelhano original).

Foi, como muitas outras, uma revista para rapazes que chegou e partiu sem grande furor, tendo no entanto conseguido o feito de apresentar ao público nacional pranchas do mítico  Tarzan, desenhadas por Foster e Hogarth - algo que, por sinal, acabaria em entrar em concorrência directa com o Diabrete, de mais saudosa e permanente memória, o qual se antecipara a incluir nas suas páginas as histórias desenhadas do herói de Burroughs. No entanto, o Tarzan de Tenebras acabaria por seguir os moldes da versão espanhola, algo que agradava à censura de então, pois tudo o que mostrasse um pedaço de pele a mais era devidamente coberto a mando dos censores franquistas, tão ou mais acérrimos que os nossos (embora não tão fundamentalistas quanto os italianos, que não permitiam sequer que o Tarzan mostrasse a peitaça...) - e, num aparte, como por vezes as histórias não chegavam a tempo à editora espanhola e esta via-se obrigada a recorrer a desenhadores da casa (Iranzo, Blasco, Alfonso Figueras), os leitores portugueses eram presenteados (em igual desconhecimento de causa que os leitores do país vizinho) com sequências de aventuras de que nem o público norte-americano tinha conhecimento...

O grau de amadorismo da publicação, comparada com os exemplos mais interessantes e populares do Diabrete e Mosquito, que alcançaram tiragens na ordem dos milhares,^acabaria por aliar-se a dificuldades na distribuição e afastar Tenebras do público potencial, vetando a revista ao fracasso.

Ainda assim, conseguiria assegurar a inclusão de autores nacionais, entre eles Fred Kartas (a ubíqua Anne Sophie von und zu Hadegg) com os primeiros contos do Espectro da Noite, e principalmente Tiago Rosa, o malogrado jornalista e escritor dos anos 20/30 cuja obra, hoje praticamente desaparecida, foi sendo salva esporadicamente do oblívio por republicações clandestinas, como a deste número de Tenebras.

No caso particular de o «Inconsciente», terá sido o editor-assistente, um certo jovem de nome Farias de Oliveira (de quem apenas sabemos que terá ingressado como moço de recados no Diário Popular aquando da inauguração deste em 1942, logo rapidamente solicitado para dar uma ajuda adicional às revistas populares da tipografia, não obstante a sua absoluta inexperiência editorial), a recuperar o texto de um exemplar da revista anti-Modernista O Sapo de Fraque que existia ainda na biblioteca do pai. Como do Sapo de Fraque não há mais memória (em particular da paródia negra ao Homem Invisível em terras lusas, também da autoria de Tiago Rosa), ficaria o «Inconsciente» para a posteridade como o primeiro exemplo das histórias tenebrosas que se tornariam no apanágio deste autor...

Existia na escura realidade de uma masmorra baixa e com arcos, qual inconsciente recalcado. E era precisamente esse o nome — o Inconsciente — com que os monges do convento o haviam estigmatizado. Mantinham-no em clausura constante e cega, desnutrindo-lhe o ser desde o dia em que foram dar com ele, pouco mais que recém-nascido, à porta do isolado convento. O facto de que mantinha sempre os olhos abertos, em olhar negro e penetrante, sem nunca se fecharem ou mesmo pestanejarem, foi o motivo que levou os monges a alimentar a crença de que o seu nascimento havia sido presidido pelo Diabo, de modo que se apressaram a considerá-lo uma criatura ínfera e que devia, por isso, ser mantida fechada e escondida abaixo do nível do solo.

...o qual poderá (re)ler n'Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, em breve numa banca perto de si.

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