Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


13 Fevereiro 2011

Poucos Regressos A Êxitos Passados são tentativas de retoma tão transparentes como Tron: Legacy e tão confusas na avaliação do resultado. Se por um lado é um filme bastante experiente no uso da animação virtual, por outro está perfeitamente consciente de que foi produzido numa era pós-Matrix e pós-Avatar e não se crê capaz de inovar em tantas áreas como o primeiro; possivelmente, fazê-lo implicaria mais tempo e dinheiro do que esteve à disposição do projecto, e sem dúvida necessitaria de uma narrativa mais ambiciosa. Ora, ambição narrativa não foi sequer o que distinguiu o filme original. A história seguia os ditames de qualquer bom jogo arcade dos anos 80, em que a meta a atingir é simples e clara, e os obstáculos perfeitamente definidos e ultrapassáveis com certeza matemática: por muito espantoso e inovador que seja a virtualidade, no mundo real é que se está bem, e quem entrou nela por acidente nos primeiros vinte minutos do filme faz de tudo para ter saido ao final de hora e meia. Se assim era na versão de 1982, ainda mais nítido se verifica na actual. Isto para afirmar que, se desconsiderarmos o lapso temporal e as inevitáveis alterações culturais e tecnológicas entre os dois filmes, Legacy acaba por ser, nem melhor nem pior, que o Tron original. As falhas do primeiro estão patentes no segundo, e em certos casos evidenciadas, como o patético enredo de enquadramento no mundo real que transmite uma sensação de inutilidade e enfado semelhante às conversas preliminares dos filmes pornográficos...

Enquanto que Tron era impelido por uma vontade de vanguardismo, Legacy é um regresso confortável a um percurso já percorrido, apenas mais requintado a nível estético. É espantosa a resistência em apresentar novidades: os transportadores bipedais estão lá, como seria de esperar, mas também está o jogo de frisbees, as motas de cauda letal, o comboio de feixe luminoso, o céu vazio de pormenores, a falta de cor. Estes eram os constrangimentos técnicos da capacidade de processamento da época, mas ainda assim, os arcades não se limitavam a estas opções de jogo, e entre 1982 e 1990, ano do suposto desaparecimento de Flynn (contando com o tempo de encontrar namorada, engravidá-la e celebrar o sétimo aniversário do filho), aconteceram suficientes avanços que teriam melhorado o universo de Tron - como o Commodore Amiga, o Spectrum, o processador 286. Os jogos já tinham uma animação mais capaz. Pensem: se efectivamente Flynn procurou melhorar e actualizar aquele universo, não teria incluido uma versão do Tetris?

Se Tron é um filme concebido por gente nova e ambiciosa, Legacy é um filme de gente velha e complacente, para quem o rejuvenescimento facial de Jeff Bridges, que se impõe insistentemente ao espectador, é uma forma de catarse. Não é um grito de alerta para as possibilidades do futuro mas uma (última) chamada de atenção para uma glória que não se gostaria de ver esquecida. Também aqui estivemos, dizem eles, antes dos ditos Avatar e Matrix. Mas não ficámos ricos. Por favor, lembrem-se de nós, ao menos.

Eis o problema dos pioneiros: vão demasiado à frente dos mercados.

O que não significa que haja uma ausência de momentos de encantamento. Ainda que o 3D não acrescente muito à experiência (e aqui, mais do que em outros filmes, a redução de luminosidade provocada pelos óculos é notória), acabou por resultar em determinadas cenas. E sem dúvida que a forte banda sonora ajudou a manter a atenção desperta, mesmo quando Bridges soltava mais uma das idiotas falas Lebowskianas...

Como afirmei, não pretende ser mais do que anunciara ser, não mais do que um reviver breve de um outro momento breve de há trinta anos. A geração a que pertenço começa a apreciar as suas injecções de memória. Mas Tron surgiu na nossa infância, e tudo é mais colorido aos 12 anos. A verdade é que, se não fosse pelo primeiro filme, Legacy conseguiria suster-se nas próprias pernas. Não seria aclamado como uma obra-prima, mas a estética visual talvez o tornasse num filme de culto, e com algumas alterações narrativas para destacar o aspecto «retro» dos videojogos, poderia ser entendido como uma representação impressionista do espaço mental dos primeiros jogos electrónicos - antes do World of Warcraft, antes do Second Life, quando era apenas jogo, apenas objectivo, sem nada mais a atrapalhar. Duas barras opostas comandadas por botão rotativo, que procuravam rebater uma bola sobre um ecrã negro sem outros adornos, era o suficiente para nos viciar. Daqui podemos concluir que é bastante ingrato o papel das histórias que continuam outras.

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09 Fevereiro 2011

Divulgo O Comunicado De Imprensa recebido do editor da colecção Pulsar, uma das mais interessantes do mercado brasileiro, pois combina o melhor dos vários mundos: traduções de livros de grande qualidade com edição de autores nacionais (brasileiros) e recuperação da história da FC daquele país. Não é à toa que se encontra nas hábeis mãos de Roberto de Sousa Causo, alcançando agora o seu 10º aniversário e atingindo com êxito os objectivos a que nós também nos propusemos no passado, na colecção irmã, tendo ficado pela proposta. Na versão original, sem ortografizações lusitaneiras.

DEDICADO À FICÇÃO CIENTÍFICA, O SELO PULSAR,
DA DEVIR, ALCANÇA A MARCA DE 10 TÍTULOS


Com a publicação do romance Angela entre dois Mundos, de Jorge Luiz Calife, em dezembro de 2010, o selo Pulsar da Devir chega à marca de dez livros publicados. É um reforço substancial à publicação de ficção científica no Brasil, com títulos particularmente significativos, como os multipremiados romances de Orson Scott Card, O Jogo do Exterminador e Orador dos Mortos; o quarto livro de contos de André Carneiro, Confissões do Inexplicável, a mais volumosa coletânea de FC brasileira já editada; Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, a primeira antologia retrospectiva da história do gênero no Brasil, e um sucesso de vendas; Tempo Fechado, do escritor cyberpunk Bruce Sterling, romance que antecipou as mudanças climáticas globais; Trilogia Padrões de Contato, de Jorge Luiz Calife, reunindo pela primeira vez três romances clássicos da FC brasileira em um único volume; Anjos, Mutantes e Dragões, o primeiro livro de contos do destacado autor brasileiro de FC e fantasia, Ivanir Calado; e o quarto romance de Calife, Angela entre dois Mundos.

Os Dez Títulos da Pulsar:

1. O Jogo do Exterminador (Ender’s Game ), Orson Scott Card
2. Confissões do Inexplicável, André Carneiro
3. Orador dos Mortos (Speaker for the Dead ), Orson Scott Card
4. Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, Roberto de Sousa Causo, ed.
5. Tempo Fechado (Heavy Weather), Bruce Sterling
6. Trilogia Padrões de Contato, Jorge Luiz Calife
7. Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras, Roberto de Sousa Causo, ed.
8. Xenocídio (Xenocide), Orson Scott Card
9. Anjos, Mutantes e Dragões, Ivanir Calado
10. Angela entre dois Mundos, Jorge Luiz Calife

Os títulos da Pulsar contam com traduções de especialistas em ficção científica como Carlos Angelo e Sylvio Monteiro Deutsch, e artes de capa de artistas talentosos como Vagner Vargas e Felipe Campos. Para o futuro imediato, a Pulsar promete manter o alto nível e a ousadia editorial que a tem caracterizado até aqui.

Alguns dos Próximos Lançamentos do selo Pulsar:

O Último Teorema (The Last Theorem), de Arthur C. Clarke & Frederik Pohl. Um complexo romance de primeiro contato com inteligências alienígenas e de política internacional, é o último livro escrito por Clarke, o grande mestre da ficção científica, morto em 2008.

Os Filhos da Mente (Children of the Mind), de Orson Scott Card. Romance que fecha o primeiro ciclo de aventuras de Ender Wiggin, iniciado com o multipremiado (Prêmios Hugo e Nebula) O Jogo do Exterminador (Ender’s Game), um best-seller com mais de dois milhões de exemplares vendidos no mundo.

The Windup Girl (ainda sem título em português), de Paolo Bacigalupi. O romance ganhador dos Prêmios Hugo, Nebula e Locus de 2009, é um dos mais premiados livros de estréia de um autor de ficção científica, comparável apenas a Neuromancer (1984), de William Gibson.

A Cidade e as Estrelas (The City and the Stars), de Arthur C. Clarke, marcará o retorno às livrarias brasileiras deste que é o principal romance da melhor fase do mestre inglês da ficção científica, um dos grandes nomes do gênero no século 20 e autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço.

As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica, antologia organizada por Roberto de Sousa Causo, com novelas e noveletas clássicas da ficção científica nacional: “Zanzalá” (1928), de Afonso Schmidt; “A Escuridão” (1963), de André Carneiro; “O 31.º Peregrino” (1993), de Rubens Teixeira Scavone; e “A nós o Vosso Reino” (1998), de Finisia Fideli.

Trilhas do Tempo, de Jorge Luiz Calife. O segundo livro de contos de Calife, autor da Trilogia Padrões de Contato, o grande clássico da ficção científica hard brasileira.

Um particular (e pessoal) destaque à Assembleia Estelar, na qual participo com um pequeno conto que aguardava há anos na gaveta. Espero que gostem.

Assembléia Estelar: Histórias de Ficção Científica Política , organizada pelo jornalista e cientista político Marcello Simão Branco, é a primeira antologia internacional com esse tema montada no Brasil. Com histórias de André Carneiro, Ataíde Tartari, Bruce Sterling (EUA), Carlos Orsi, Daniel Fresnot, Fernando Bonassi, Flávio Medeiros, Henrique Flory, Luís Filipe Silva (Portugal), Miguel Carqueija, Orson Scott Card (EUA), Roberto de Sousa Causo, Roberval Barcellos e Ursula K. Le Guin (EUA).

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31 Janeiro 2011

A Entrevista Enquanto Realidade Alternativa. Eis um conceito invulgar, iniciado e posto em prática por Tibor Moricz, autor e antologista brasileiro, que começou a ter forma no seu blogue De Bar Em Bar e acabou por expandir-se a uma vertente internacional, no sítio gémeo From Bar To Bar - Dangerous Interviews. Editores, autores e outras personalidades de destaque no género fantástico vêem-se confrontados com um interrogatório acérrimo enquanto procuram fugir de alienígenas e outras situações de grande risco para a vida e reputação, como convém a qualquer bom criador de Ficção Científica. Quase sempre escapam ilesas - quase sempre...

As perguntas são preparadas num espírito colaborativo de várias pessoas, convidadas pelo Tibor, que depois se encarrega de as envolver num quadro ficcional. A aceitação no mundo de língua inglesa tem sido muito favorável, aparte tropeções ocasionais com certos autores (e que constituem uma história completamente paralela). Tenho a honra de fazer parte deste painel de entrevistadores.

Entre as personalidades entrevistadas, encontram-se o Roberto de Sousa Causo, Jeff VanderMeer, Charles Stross, Ekaterina Sedia, e outros, com muitos mais em lista de espera.

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01 Janeiro 2011

Efemérides de 2010 (III). Surpreendendo pela forma como se tornaria em objecto de interesse internacional, o projecto de escrita de noveletas steampunk ambientadas em cenários históricos luso-brasileiros que veio a constituir a antologia Vaporpunk começou de uma forma relativamente discreta.

A iniciativa partiu do Gerson Lodi-Ribeiro, conhecido autor, editor e antologista brasileiro, que tivera oportunidade de discorrer sobre o género steampunk com bastante detalhe no seu ebook Ensaios de História Alternativa. Aparentemente, tendo surgido a oportunidade conjunta de publicar-se pela primeira vez uma antologia de contos steampunk brasileiros, surgiu uma diferença de opiniões entre os participantes, sendo que o Gerson defendia que o steampunk é irmão do ramo da história alternativa, e logo apenas o formato noveleta, com a maior capacidade de elaboração, lhe poderia fazer justiça - poder pintar-se numa tela mais vasta, por assim dizer, do que na imagem concentrada, de postal, do conto.

Essa diferença tornar-se-ia irreconciliável e logo Gerson abandonaria amigavelmente o projecto inicial (que resultaria mais tarde em Steampunk - Histórias de um Passado Extraordinário, organizado por Gianpaolo Celli e publicado pela Tarja Editorial), para dar início a uma outra iniciativa - que não só pretendia oferecer aos autores a dimensão necessária para construirem universos paralelos, como a possibilidade «de receber trabalhos steampunks cujos enredos dissessem respeito, directa ou indirectamente, às culturas brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto social do avanço tecnológico precoce na história dessa(s) cultura(s). Vaporpunks, por assim dizer. [...] Em resumo, [...] enredos que mostrem o impacto social do emprego amplo e precoce de avanços tecnológicos nas culturas portuguesa e/ou brasileira. Tais enredos podem se constituir em passados alternativos ou em presentes alternativos.»

Complementarmente, a intenção do Gerson era de abrir convite às participações portuguesas, precisando para tal de um coordenador além-Atlântico. Foi aí que me envolvi no projecto.

A intenção inicial, acordada entre nós, foi de convidar e desafiar directamente autores de cada mercado que tivessem já dado provas ou inclinações de conseguirem combinar elementos fantásticos e históricos, mas como isso em Portugal não se verificou frutífero, pela falta de respostas suficientes obtidas, acabei por abrir, apenas do lado lusitano, as submissões à participação livre - infelizmente, também com pouco interesse. (Por uma inclinação natural, e agora que reescrevo estas palavras, noto que nenhum de nós teve o pendor de considerar autores de puro romance histórico, e sim de incluir de imediato autores familiarizados com a Ficção Científica e respectivas técnicas narrativas, para os quais as exigências do steampunk não fossem de todo alienígenas.) Esta abordagem de convite directo não existia sem os seus riscos, pois, numa ausência quase absoluta de tradição steampunk nas duas literaturas, para a qual o projecto era pioneiro, e armados com o punhado de referências estrangeiras sem o discurso extra-literatura essencial para fertilizar qualquer género, poderíamos estar a colocar uma meta quase impraticável de cumprir no prazo apresentado. Foi assim com enorme satisfação que se veio a verificar que, não só os autores assumiram as dificuldades do projecto, como as ultrapassaram de forma excepcional e bastante surpreendente, em alguns casos.

Contudo, o efeito secundário mais importante acabaria por ser (a meu ver) a descoberta que a designação vaporpunk não representaria apenas um aportuguesamento de brincadeira do termo inglês, mas uma categorização séria, independente, um verdadeiro sabor local. Pois, ao contrário da interrogação que constantemente se coloca sobre a Ficção Científica, neste género foi possível encontrar-se uma abordagem portuguesa e brasileira distintas e bastante próprias dos temas abordados pelo mercado anglo-saxónico - distintas, inclusive, entre si, possivelmente devido, em parte, pela forma como a História de cada país é encarada internamente, e em parte, sem dúvida, pela relativamente menor representatividade dos autores portugueses (3 contra 5) face aos brasileiros.

É uma observação ainda incipiente e que requer mais produção literária, mais incentivos, obviamente, para se consolidar. Mas é já suficientemente notória para que o crítico norte-americano Larry Nolen, que também lê em português, tenha afirmado recentemente:

In mid-October, I received a copy of the Luso-Brazilian steampunk anthology, Vaporpunk, edited by Gerson Lodi-Ribeiro and Luis Filipe Silva.  Along with Fábio Fernandes, I helped translate the opening paragraphs to the eight stories in this original anthology.  Consisting almost entirely of stories that would be novelettes or novellas, Vaporpunk was both a joy to read and an absolute bitch to translate due to several authors writing in an nineteenth century idiom that is far more florid than what twenty-first century readers may be accustomed to reading.  For the most part, these stylistic choices added to the narratives and the emphasis on the alt-history aspects, particularly surrounding the Kingdom of Portugal and the Brazilian Empire of the 19th century, made this anthology stand out from the majority of steampunk novels and collections that I have read in recent years.

Ou seja, resumindo, a conclusão que penso se possa tirar é que, se não conseguimos até hoje edificar uma Ficção Científica assumidamente portuguesa, nem capacidade para a identificar que características a definiriam, existe uma forte probabilidade de desenvolvermos um Steampunk em língua portuguesa.

A isto não será obviamente alheio o nosso pendor cultural (dos dois países) para tudo o que sejam questões históricas.

Se tal não ocorrer atempadamente em Portugal, sem dúvida que o Brasil conseguirá. Não só o fenómeno steampunk tem sido seguido e debatido desde há uns anos (caso contrário não se teria chegado a uma sofisticação do debate literário que conduzisse à criação simultânea de duas antologias de inéditos) como tem estado a impor-se como movimento artístico, a par do interesse internacional, com o surgimento de eventos sociais subordinados à temática e à estética dos ditos «mecanismos de mola e óculos de aviador», e sítios Web como a Cidade Phantastica e o Conselho Steampunk com «lojas» em algumas cidades brasileiras - entre outros.

Sem falar na percepção que o meio internacional do Fantástico começou a ter da vertente steampunk brasileira, e para a qual Vaporpunk se apresentou como uma das principais contribuições. Conforme revelado acima, na citação de Nolen, este trabalhou em conjunto com Fábio Fernandes para traduzir os inícios de cada um dos contos e compilá-los numa espécie de carta de apresentação para editores estrangeiros, publicada na Beyond Victoriana com apoio da Tachyon Publications. Diga-se de passagem que o esforço poderá eventualmente trazer resultados positivos...

Uma nota final para o layout gráfico do livro, obra do editor Erick Santos, que assinou a capa e a composição interior, as quais contribuiram enormemente para o sucesso do livro enquanto objecto cultural, e que é a melhor vantagem competitiva para a pobre oferta possível actualmente nos e-books. É de uma perfeição quase absoluta dentro do género, como poderão comprovar (capa e versão completa):

Relativamente aos contos, aos contistas, às críticas granjeadas e ao significado do steampunk no quadro da FC, isso deixaremos para um futuro post... stay tuned. Para já, o livro encontra-se aqui.

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29 Dezembro 2010

Efemérides de 2010 (II). A segunda efeméride de 2010 é, obviamente, a preparação da antologia Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa. Depois de termos anunciado os vencedores, caimos num relativo silêncio - não obstante os contactos que foram sendo efectuados com os autores - do qual nem o eco saía, apenas cortado por uns teasers ocasionais no Fórum Bang!.

Quero deixar bem claro que a editora Saída de Emergência é absolutamente isenta de responsabilidade, e mais, tem continuamente incentivado e procurado alternativas para a conclusão do trabalho - o qual, se tem encontrado emperrado exclusivamente da minha parte, por motivos pessoais e não só. Apenas posso pedir desculpa e lamentar que as circunstâncias não sejam diferentes, e que não seja possível profissionalizarmo-nos neste mercado (significando para isso ter a possibilidade de dedicar tempo efectivamente produtivo - e não tempo roubado à família e às outras necessidades pessoais - sem quebra de rendimento). Aliás, é da consciência de todos os envolvidos que este projecto não fará dinheiro, tentando-se que não perca demasiado, o que torna todo o esforço inglório e injusto. Sim: inglório e injusto. Não é a roubar constantemente horas às noites e aos fins-de-semana que se sustenta uma literatura (pelo menos, uma que tente não se limitar a decalques de vampirada). Não é no torpor do período pós-laboral que se encontra a inspiração. Não é assim que se compete dignamente contra produtos internacionais realizados por gente focada no objectivo e devidamente remunerada.

Resta o alimento das palmadinhas nas costas, mas, como todos sabemos, apenas acontecerá se o resultado for excepcional (e depois de tanto tempo, não se quer menos do que isso); pelo contrário, e sem dúvida alguma, o pendor para a exigência desmesurada (como se o mercado nacional fosse daqueles a sério), para a inveja e frustração deslocada (sempre me surpreendeu quem vê assim tanta fama e glória na FC nacional) ou simplesmente para a inércia do costume alimentarão o habitual zumbido das críticas-varejeiras. A imprensa dar-lhe-á destaque mínimo ou inexistente, e haverá quem categorize a iniciativa como irrelevante ou um desperdiçar de oportunidade, pois não vão entender nem entrar na brincadeira. O ponto positivo é o do trabalho gráfico da editora, que, posso garantir-vos, está para lá de excelente e que por si só merece a aquisição.

Isto não é uma lamúria mas uma constatação. Como bem dizia o Heinlein - e nisto ele não perdoava -, «és parvo, esperavas que te agradecessem? Faz, mas é, o teu trabalho.» Ainda assim, diria eu com pena, há anos que este mercado não medra, mas um outro anagrama.

Para terminar, tomei conhecimento de comentários efectuados ao desbarato, anónimos ao que parece e tanto melhor, pelos quais se equacionava o presente atraso com a dedicação da minha pessoa a outras iniciativas entretanto concluídas. Ora, não só isto representa uma profunda ignorância de como funciona e se fecunda o espírito criativo (que não olha para o mundo com as palas dos asnos mas prolifera na diversidade), como esquece-se convenientemente de perguntar que tempo tem sido efectivamente dedicado a cada uma, e coloca-se, a meu ver, com igual inteligência - ou seja, estupidez - de quem apontaria o dedo a pais que, tendo um filho doente e hospitalizado, insistissem em alimentar e vestir, todos os dias, o irmão dele.

O bom sinal é que ainda continua a haver quem acredite e aguarde por um livro de qualidade. A essas pessoas, e aos autores - para lá de pacientes - e à própria editora, o nosso imenso agradecimento e apenas pedimos só mais um pouco de paciência. A parte mais difícil do caminho já ficou para trás.

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27 Dezembro 2010

Efemérides de 2010 (I). Ter descoberto que as palavras mais bonitas da língua portuguesa não são Amo-te nem É um menino nem sequer Vamos de viagem, mas simplesmente Não é maligno.

(Esta tem o condão de calar conversas. O respeitinho que temos por estas coisas...)

(Aconselho-vos entretanto o excelente livro abaixo, que apresenta uma nova - e a meu ver, extremamente acertada - visão sobre as interacções vírus-hospedeiros ao longo dos milénios, e como ainda estamos no início de entendermos a complexidade do nosso património genético. Repleto de boas ideias para o entusiasta de FC)

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26 Dezembro 2010

Noite De Consoada e o meu router fez-me o favor de se juntar aos anjinhos sem aviso prévio. Onde encontrar um novo router àquelas horas insanas? Quem, na urbe fria, daria abrigo a um pobre viciado em internet à procura do último twitter inútil? Como poderia ele manter contacto com os outros coitados sem vida real? Quantas milhas e nevões e casas na pradaria e corcéis velozes e saloons e copos de palheto percorreria o vingador cansado, até... aham. Pois, ainda tinha o modem. Resmungando pelo desconforto de ter de sentar-se num lugar fixo, ao invés de poder sentar-se na casa onde bem lhe apetecia. A privação tecnológica é uma coisa tramada. A idade, também.

Ainda se fala em cloud computing e descentralização dos dados. Sem uma cópia offline actualizada em tempo real, sempre queria ver quantos negócios se poderão manter vivos ante uma quebra generalizada das comunicações. O que implica custos, se não duplicados, no mínimo acrescidos, para manter, quer cópia quer original. Cheira-me que o cloud computing é mais uma bolha à espera de rebentar, e que alguns grandes negócios serão levados na enxurrada...

Por outro lado, escreve-se demasiada FC em que a tecnologia funciona sem falhas. Como se a nossa experiência não fosse outra. Falta uma visão de uma tecno-ecologia, de máquinas com auto-diagnóstico e auto-reparação, de uma forma tão básica e desapercebida que nunca notaríamos que tinham estado avariadas. E de tempos a tempos, uma quebra sistémica anunciaria a morte do mecanismo. Empregaríamos então os termos «doente», «obstipado», «falecido» aos nossos electrodomésticos com justificada legitimidade. Sentiríamos genuína pena e perda. Uma ponderação que deixo a todos vós, caros escritores.

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