Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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16 Abril 2007

REVISITANDO UM TEXTO INFORMATIVO sobre as Colecções de FC portuguesas, na antiga Trilha. Desde 2004, eis o que aconteceu:
  • Argonauta - praticamente inexistente, há meses que não sai um número novo. Interrompeu-se assim (definitivamente?) o ritmo mensal da mais antiga colecção de FC em português (faria este ano o seu 50º aniversário)
  • Europa-América - da colecção Nébula saiu num volume pesadão a primeira - e lamentavelmente, de vários comentários e críticas temos fortes razões para crer que a única - parte da saga de Cátia Palha, no que parece ter sido uma tentativa demasiado evidente e mal concebida de ganhar terreno na fantasia juvenil; após o inevitável fracasso (pela experiência do mercado, o livro é demasiado caro e de fraca qualidade e nem sequer apoiado de forma promocional para poder ganhar o necessário terreno que mostrasse à editora a validade de apostar neste tipo de estratégia), aguardamos para ver qual será a estratégia da editora para a colecção, sendo que já experimentou no passado recente a publicação de obras de reputada qualidade (Walter Miller, Connie Willis), sem desta resultar igualmente o sucesso experado (a nossa afirmação deriva do senso-comum: se não fosse assim, teriam continuado nesta senda). Há muito tempo que se aguardava que uma das mais representativas colecções de FC nacionais (englobando os livros de bolso, que cessaram por completo há vários anos), a única que durante quase duas décadas conseguiu ombrear com a Argonauta e ir mantendo-se viva, considerasse válida a inclusão de um autor de língua portuguesa; mas D. Sebastião chegou tarde de mais, quando já não havia prestígio mas apenas oblívio em tal publicação, e surgiu sem armas nem capacidade de lutar.
  • Viajantes no Tempo - Neil Asher foi publicado, Richard Morgan ainda não, embora a respectiva tradução tenha sido entregue há anos (palavras do tradutor).
  • Via Láctea - foi recentemente editado Os Guardiãos da Noite, numa tradução directa do russo, o que indicia que a colecção continua a mexer-se e a saír da extrema identificação com o público adolescente; se foi um caso pontual ou a inauguração de uma tendência, os próximos capítulos dirão.
  • Portal FC - esta já não publica mais.

Entretanto, no meio deste cenário lúgubre, novas esperanças:

  • Gaialivro - tem publicado fantasia juvenil, na maioria por autores nacionais, com algum sucesso comercial; a diminuição do ritmo e a recente tendência para escolher autores estrangeiros indicia que o estratagema se está a esgotar.
  • Bang! - colecção de Fantástico da Saída de Emergência, já publicou Robert Howard, Michael Moorcock, Dan Simmons e autores nacionais; é a colecção mais activa do momento, embora as tendências sigam a fantasia mais do que a FC propriamente dita.
  • Chimpanzé Intelectual - não uma colecção mas uma editora, que se inaugurou quase exclusivamente com propostas no ramo da FC em língua portuguesa, sem dúvida uma aventura inédita e corajosa (já tive oportunidade de dizer isto pessoalmente ao editor).
  • Livros de Areia - outra pequena editora cuja proposta se centra quase exclusivamente na área do fantástico, embora com uma selecção de obras mais eclética e alternativa que o comum anglo-saxónico das editoras acima, que, a continuar, poderá vir a fazer por este género o que a Caminho de Bolso fez pela FC nos anos 80; também já incluiu um autor nacional.

Apenas uma nota de esclarecimento relativamente à minha posição quanto aos jovens autores de fantasia cujas obras foram apressadamente tomadas e levadas a público, com maior ou menor discernimento editorial: a questão não está aqui em discutir a qualidade nem a escolha literária das obras que estes autores decidiram trazer a público; também não será de emitir juízos de opinião sobre o que aparenta ser uma atitude oportunista de mercado das editoras (que têm de sobreviver num mercado pequeno e difícil), embora com estas não consiga encontrar tantos motivos de perdão, pois, por muitas boas intenções que haja nas decisões tomadas, há um natural grau de liberdade e risco que se pode propor a um autor desconhecido e que um autor experiente ou com alguma presença no meio teria imensas reservas em seguir. Não é também uma questão de critérios literários: há um lugar para o Eragon e respectivos derivados, e se frequentemente criticamos a sua presença excessiva no mercado, é por reconhecermos que, a gostos virgens (onde se incluem obviamente os dos jovens leitores, mais propícios a procurar as novidades do que a descobrir clássicos empoeirados), um McDonald's será confundido com haute cuisine, e daí a necessidade de alertar para os possíveis efeitos secundários do produto (ao contrário da maioria dos bens de supermercado, os livros não trazem advertências ao consumo), sendo um dos mais perniciosos o de estragar o paladar e por conseguinte impedir o consumo de boa literatura, daquela que não entope as veias do pensamento e traz algum contributo à vida. Também não seria justo, nem sensato, tecer críticas formais sobre o que constitui o imaginário da juventude actualmente, exposta a um conjunto de influências, se não completamente diferentes da minha experiência passada, pelo menos o suficiente para que a produção literária desta geração seja distinta da geração de há quase duas décadas (não tecer críticas formais não significa que não tenha uma opinião e que não a apresente em outros fóruns; a diferença é que a opinião é formulada com base em gostos pessoais e critérios literários predilectos, enquanto que a crítica formal tenta ser isenta e reconhecer a existência de outros critérios, por muito que choquem com os primeiros). Não: a minha efectiva ressalva é, primeiro, de considerar que as obras produzidas careciam de maior trabalho editorial, de maior experiência do autor, e em certos casos, de uma extensa revisão do estilo e do português utilizado (ao contrário do inglês, a quem isso se perdoa, é comum na nossa língua escritores que, logo em tenra idade, revelam uma riqueza lírica forte e se destacam face aos demais), face ao grau de exposição ao público - que se sabia de antemão que seria elevado, no qual a mínima fragilidade destacar-se-ia negativamente sob a intensidade da ribalta - isto não é só uma desconsideração para com os autores, como para com o público alvo, pois denuncia a típica atitude de que os «putos papam qualquer coisa», o que não podia ser mais insultuoso e errado. E em segundo lugar, de suspeitar que, agora que o filão parece estar a acabar, não exista um plano de salvaguarda destes autores. E então, o que lhes sucederá, depois dos poucos anos de sucesso? Como enfrentarão o desânimo, como farão a transição para temas mais adultos? Sentir-se-ão desapoiados pela falta de crítica, ou incompreendidos pelas reacções demasiado negativas? Continuarão a escrever na área do fantástico, a ler esse tipo de obras? Lembrar-se-ão os autores da Presença e da Gaialivros, daqui a uns anos, que marcaram a sua presença no fantástico nacional? É algo que só o tempo dirá, e onde os próprios terão forte intervenção, se não desistirem da escrita nem da experiência da juventude, o que esperamos que aconteça, pois entre o conjunto havia algumas promessas interessantes. Suspeitamos que, a existir plano de salvaguarda, este terá de ter origem nos próprios, pois decerto que as editoras dificilmente o terão. O trabalho destas está feito, o mercado ordena, há que avançar. Infelizmente, esta é a realidade da vida. Não foi por acaso que o desaparecimento da colecção da Caminho e do prémio bienal fez dispersar os autores que nela publicavam ou podiam ter vindo a publicar. Já basta que sejam os maus rumos da História os que se repetem.

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12 Abril 2007

AND SO IT GOES que Kurt se foi deste mundo, depois de uma vida a batalhar pela ironia da vida e pela desclassificação da sua obra (consideravam-no como escrevendo Ficção Científica, o que supostamente renegava ou considerava limitativo). Em português, temos os excelentes Galápagos, Matadouro Cinco (ambos Caminho) e Barba-Azul (Difel). Em inglês está tudo. Façam a vossa escolha. E se quiserem conhecer melhor o homem, aparte o que encontrem no Google, eis desde já um documentário extenso. O que poucos comentam é que com Vonnegut foi também Kilgore Trout, e essa é outra grande perda para o género... («went into the house farting and tap-dancing to warn the owners the house was on fire, and the head of the house killed him with a golf stick» é talvez a melhor narrativa jamais inventada sobre o problema da comunicação com alienígenas...)

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