Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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06 Novembro 2008

If You Guys Thought You Had It Bad for 8 Years, just consider this Alternate History scenario (President and his VP)...

As in: "Important life lesson: Rejoice with what you have. Things can always be worse than they are"

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05 Novembro 2008

26 Dias de Pulp. A fórmula denigre o pulp. A solução banal embaratece a nobreza da história. A prosa indiferenciada nega a grande capacidade da literatura de transmitir sensações exactas quando as palavras são usadas com a precisão e a delicadeza do escalpelo. Nem tudo é narrativa, ou melhor dizendo, a narrativa não é só o que acontece do lado de fora.

(imagem propriedade de EC Comics)

Os rapazes ainda se encontravam a debater o título apropriado – A Terra que o Tempo Esqueceu, o Vale Perdido, um Pedaço do Passado, Aventura na Ilha dos Dinossauros, ou Bramem os Vulcões Pendores de Realidade (a última, claro, só podia ser sugestão do Fred) – quando o Tiranossauro veio a correr na nossa direcção.

Ora, possivelmente já terão visto uma destas humildes bestas nos noticiários das sessões de cinema: um monte de massa, músculo e dentes do tamanho de uma torre, que pesa centenas de toneladas e que se trata de um dos mais ferozes predadores de sempre.

O que essas imagens não transmitem é a estonteante velocidade daqueles bichos.

Um segundo a um bom quilómetro de distância. No segundo seguinte cem metros mais próximo. Nove segundos depois, estaríamos na barriga do monstro.

E nós ali parados, de mapa na mão, com os carros a uma distância que, embora curta, de repente parecia impossivelmente longínqua.

O monstro galgou um monte e saltou no ar, assentando sobre a terra com um estrondo. Um fio de baba corria-lhe da boca aberta e brilhava com as cores do arco-íris. Escancarou a boca num berro ensurdecedor. Nem sequer estava preocupado em que nos pudesse afugentar. Estava a divertir-se.

Diógenes guinchou como uma adolescente, deu uns passos atrás e caiu de rabo numa poça de água. Num gesto igualmente inútil, Passos puxou da automática .45. Aquelas balas nem lhe fariam cócegas. Os restantes nem se mexeram.

Puxei do maço de cigarros. Era o último. Tinha de comprar mais.

Quando ergui os olhos, o bicho não estaria a mais de duzentos metros. Dois segundos.

Um zumbido estalou no ar. Senti todos os pelos dos braços e da cabeça a ficarem em pé.

O Tiranossauro cessou num instante a corrida.

Tinha ficado imóvel no ar. Só conseguia agitar as mandíbulas fechadas, numa tentativa de soltar-se de algo invisível. O zumbido persistiu.

- Bem, o campo de forças continua a funcionar em pleno – disse eu, com a maior das calmas. Na verdade, corria-me adrenalina nas veias, do susto deste encontro inesperado.

O outros eram dignos de se ver. De olhos esbugalhados, bocas semi-abertas, beicinho a tremer, cabelos em pé, e no caso de Diógenes, mergulhado na lama.

- Vai ser preciso trocar de calças, senhores? - disse de forma trocista. Eles que ficassem a pensar que os meus eram feitos de ferro.

Alguém soltou um gemido. Um gemido sério.

Fred dobrou-se subitamente, agarrado ao peito, e caiu no chão.

- Não consigo respirar…

Acorri sem pensar. Aquele não era o melhor sítio para ter um ataque cardíaco. O médico mais próximo estava a centenas de quilómetros de distância por terreno bravio.

- Fred, não me faças isto… - murmurei entre dentes. Afastei-lhe as mãos do peito e comecei a aplicar massagens. Era o único pronto-socorro que me ocorria. – Vejam no kit médico dele se tem alguma coisa para o coração!

Os outros reagiram por fim. Começaram a despejar-lhe a mochila. Entre peúgas e barras energéticas, três livros pesados embateram no solo.

Walt Whitman, Jack Kerouack, Hermann Melville.

Este era o nosso Fred. Só ele poderia visitar o último recôndito terrestre onde sobrevivia ainda uma ecologia pré-histórica, e arriscar-se a morrer de forma banal, sem qualquer pinta de originalidade.

 

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