Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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08 Novembro 2008

Mais Que Martirizante Do Corpo, o ortomixovírus é um sacaninha que rouba capacidade de processamento, razão pela qual não vos pude entregar as devidas e prometidas amostras de pulp fiction dos últimos dias (is there anybody out there?). Tentarei recuperar no fim-de-semana, ainda que nos próximos dias venha a ocorrer um segundo desafio contra a regularidade, pois em princípio estarei presente neste evento (preferia sinceramente num local mais quente; resta-me o consolo de ser a cidade com a melhor livraria de FC da Europa). Entretanto, para não vos deixar à míngua, e para retomar a zona «morta» deste site, pretendo ir actualizando as secções de contos e artigos do TecnoFantasia com algura regularidade. Começo hoje com o meu recente «Ionesco à Solta», numa versão revista face aos primeiros rascunhos que em tempos divulguei. Trata-se d eum conto-experiência no qual o desafio foi de escalpelar uma narrativa à sua essência, procurar contar uma história (épica de preferência) apenas com um punhado de frases (cada frase poderia representar um capítulo inteiro). Ficam as interrogações: é possível transmitir a sensação de imensidão narrativa com uma frase precisa e exacta? Existirá em cada livro, em cada tomo ou capítulo ou secção uma frase que o resume, serão todas as demais palavras revestimento desnecessário? Virginia Woolf defendia que uma frase é apenas um punhado de palavras, e só no parágrafo é que começa a prosa. Uma das respostas que encontrei concretizou-se neste conto, pontapé de arranque para outras experiências mais bem-sucedidas. Quanto muito, constitui um saudável exercício de escrita. O TecnoFantasia encontra-se disponível para as vossas experiências, também, vejam no site principal o contacto.

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06 Novembro 2008

Num Simpático Despique Connosco, o excelente e informativo blogue do crítico João Seixas tem acompanhado a nossa iniciativa 30 Dias de Pulp com uma abordagem muito própria e extremamente importante: apresentar, ao ritmo de um por dia, livros de uma época «bizarra» nas publicações portuguesas (anos 70, 80), e recuperar do fundo de um oceano de profundo esquecimento (porcerto, semelhante ao esquecimento a que votámos durante tanto tempo acontecimentos traumáticos da nossa história, como o Estado Novo e a Guerra Colonial, e que só agora começam a surgir em formato ficção) livros cujos últimos exemplares sobreviventes passam despercebidos por estantes de alfarrabistas, a aguardar que o tempo e o degredo os consumirem de vez. Livros de pequena distribuição, obras únicas, colecções que fôlego curto... eis uma recolha imprescindível para a nossa memória enquanto entusiastas do género e enquanto portugueses - embora, como já tive oportunidade de desenvolver em outro lugar, esta nossa memória ande a precisar de boas vitaminas. Atrevo-me mesmo a dizer que, de tudo o que o João já produziu, esta iniciativa é uma das suas contribuições mais importantes, e espero que não se quede pelo número trinta. São textos assim, ainda que pequenos e a deixar água na boca, que irão ajudar a construir (finalmente) uma história nossa do género, criar dos retalhos e das peças de difícil encaixe uma proposta de puzzle e imagem de conjunto, e acima de tudo, honrar os esforços (a maioria derivados de amor à arte, nobres e fúteis como o são todos os actos românticos) dos pioneiros que nos antecederam e que não gozavam da oportunidade do print-on-demand, do dinamismo do mercado e da apetência para o fantástico que hoje conhecemos. Vivemos em tempos interessantes, sem sombra de dúvida.

Mas quero ser ainda mais contundente, e perguntar porque não se encontram estes textos nas consideradas importantes revistas do meio editorial português. Porque têm de estar relegados a um blogue, um entre tantos, sem a visibilidade que merecem. Sim, porque não se encontram na LER ou n'Os Meus Livros? Porque terá o João sentido (e isto é especulação minha) a necessidade de auto-publicação, antes de indagar junto das mesmas se estariam interessadas? Atrevo-me a pensar que não seria aceite, ou que teria de enfrentar duras «censuras» editoriais. O que é natural, porque material desta natureza não se encontra presentemente nestas revistas, não se apresentam enquanto estandarte e missão de artigos de opinião profunda e informada.

Isto conduz-me, finalmente, a uma frustração particular com o facilitismo editorial que encontro neste tipo de publicações no nosso país.

Não será - ou deveria ser - função destas revistas explorar o nosso meio editorial em todas as suas vertentes? Não deviam ser também elas a defender o que da nossa literatura não se encontra nas livrarias, os ecos do passado, promover viagens aos arquivos das bibliotecas e reconhecer que, se a literatura é eterna, por vezes é preciso desenterrá-la de debaixo de camadas de sedimentação? Não deveriam educar e informar o leitor para lá da mera resenção do livro recém-publicado?

Sejamos ainda mais honestos, e afirmemos que há muito nestas revistas que é perfeitamente banal, pobre e mal informado, de uma qualidade semelhante à de entradas em blogues ou na wikipedia. Há inclusive colunas de opinião nas revistas acima mencionadas que me fazem levar as mãos à cabeça em espanto. Como é possível ser-se tão desinteressante? (Minha cara, que me interessa a sua bendita viagem ao Brazil?) Onde estão os livros? Onde está a sabedoria? Onde está a informação e a capacidade única de análise que deveria caracterizar quem se encontra na vossa nobre função de oradores? Por céus, onde está a caneta vermelha do editor? Entendo que seja difícil rejeitar textos de amigos, mas até as mensagens difíceis podem ser passadas com um educado «Pá, sei que és capaz de muito melhor, refaz lá isso com a qualidade que toda a gente espera de ti». Que valor real têm então revistas dessa natureza? Porque haveremos de pagar por informação que poderemos ter de graça em  maior qualidade e quantidade? Idos vão os tempos em que o Público ostentava cadernos semanais de profundo conhecimento temático (princípios dos anos 90), com artigos extensos e informados. Esses cadernos seriam coleccionáveis hoje, e poderiam (e deveriam) ser recolhidos e antologiados em livro, se alguém se desse ao trabalho.

Duvido que vejamos melhorias. Pelo menos, temos a internet, e esperemos que o João continue a lembrar-nos de uma memória, por dia, que desconhecíamos.

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