Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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21 Novembro 2008

O Fim da Byblos, Também Aqui. Um facto desconhecido no remoínho de vento provocado pela queda de um gigante que era mais ar que substância: estava prevista a realização de uma grande sessão de escrita criativa no dia 6 de Dezembro, totalmente enfocada sobre o género fantástico. Seria organizada por mim e com participação de alguns dos mais importantes autores publicados do meio, das várias gerações. Perguntam e bem: é possível ensinar alguém a escrever no género fantástico numa única sessão? Obviamente que é impossível, mas a intenção seria de abordar as principais diferenças e desafios inerentes ao género, e identificar as preocupações e atitudes que os autores deverão em ter em consideração ao pensarem iniciar qualquer projecto desta natureza.

A sessão encontrava-se a ser preparada desde o final do Fórum Fantástico. Contudo, a falta de notícias por parte dos responsáveis pela livraria a partir de determinada data conduziu a suspeitas da minha parte de que algo não andaria bem, e teve de ser a comunicação social a dar o coup-de-grâce à iniciativa (não, ninguém me comunicou sequer o cancelamento).

Lamento pela iniciativa, pela livraria e pelo fim de um projecto que à partida tinha uma visão interessante mas cuja concretização ficou muito aquém. Como aqui disse em tempos, para alguém que fica sem respiração em livrarias de bairro que se podem encontrar nos EUA (mega-espaços livreiros, com milhares e milhares de títulos até ao horizonte, verdadeiros templos do livro, que nada na nossa praça consegue minimamente igualar), o projecto sempre me pareceu sem alma, e mais importante, passe a declaração surpreendente, sem livros. (Embora como ponto positivo conseguissem distinguir a nível de prateleiras a Ficção Científica do Fantástico...)

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17 Novembro 2008

25 Dias de Pulp. «King, like any good pulp writer, is concerned not to let a single reader walk away puzzled. Ambivalence means failure. Sometimes this produces less a short story than a short narrative, told without compression in strict chronological order except for the odd flashback imported in the service of believable motivation, and worked out in such plain sight that it constantly second-guesses the reader's emotional intelligence and intuition.» M. John Harrison a respeito do mais recente livro de Stephen King, a colectânea Just After Sunset).


Wurst não queria acreditar no que via. Drücker, Günter, Timm, Jan, Niklas, toda a equipa da Contabilidade, aguardavam-nos de armas empunhadas do outro lado do hangar, cada um a bloquear a respectiva portinhola de saída. Todos, sem excepção, envergando uma farda de soldado raso da Deustch Wehrmacht com a suástica ao ombro.


Todos, sem excepção, com um olhar alucinado no rosto. Timm, o gorducho e bonacheirão Timm, tremia que nem varas verdes e suava debaixo do pesado capacete. Mas a arma continuava empunhada.


Apontadas a eles, aqui deste lado.


«Isto é uma loucura», pensou Wurst, sabendo que escolha o esperava. Sabendo o que estavam a pensar cada um dos dez homens naquele apertado espaço. Sentindo o calor da fornalha aumentar nas costas. Dizendo-lhe que a decisão não poderia demorar.


Limpou a testa com a manga. O suor já escorria, também nele, para lhe fechar os olhos.


- Isto não tem de acabar assim! - berrou, para se ouvir por cima da fogueira infernal. - Podemos trabalhar em conjunto!


Niklas engatilhou a arma. O som foi declaração suficiente. Mas ele ainda acrescentou:


- Deves pensar que isto ainda faz parte do team-building... As regras foram bem claras. Por cada um de vocês que escapar, um de nós morre.


- Temos as chaves de saída - Wurst ergueu um bloco articulado de metal. - Podemos escapar todos!


Lindd agarrou-lhe a mão bruscamente.


- És louco? Estás a dar-lhes mais motivos para acabarem connosco? - sussurrou.


- Mas... podemos escapar todos... juntos... - balbuciou Wurst.


- Isso não acontecerrá, senhorrr Wurrst - soou uma voz fininha, efeminada, nos altifalantes do hangar. - Ou julga que eu não terria pensado nisso?


Olharam em conjunto para cima, para uma redoma de vidro junto ao tecto que protegia um palanque de observação. Neste, sentava-se uma figura vestida de branco, rodeada de microfones, de contornos indistintos ante a distância. Na mão segurava um instrumento indefinido.


- A chave funciona só uma vez. Cada porrtinhola se fecha após um homem passarrr. Um homem e não mais. Quem ficarrr aqui morre assado... como frrrango!


E iniciou uma tirada de gargalhadas loucas.


Wurst não se conteve e apontou a espingarda para a redoma, mas os dois únicos tiros que conseguiu soltar foram ineficazes. Depois disso a arma apenas produzia cliques em vazio.


- Senhorrr Wurrst, acabou de gastarrr a sua munição! Veja se os seus camarradas foram assim tão idiotas...


Wurst sentiu um arrepio como nunca experimentara. Uma sensação de ameaça completa. Os antigos colegas de departamento, do outro lado da barreira, encaravam-no com uma satisfação animal. Pensando em como seria fácil retirar-lhe a chave da mão.


Apertou-a com força. Pela primeira vez, sentia o que os outros já tinham percebido. Havia apenas uma força de sair dali vivo.


Ainda que fosse à custa de...


- Basta de demorrras! Vamos darr início à festa! - e do alto empunhou o instrumento que trazia na mão, que se definiu e permitiu a Wurst perceber finalmente do que se tratava: uma pequena câmara de filmar de 8 mm.


O baque-baque ritmado do motor da câmara soou nos altifalantes. Por detrás deles, no cimo do plano inclinado, a fornalha inclinou-se e começou a despejar metal em brasa.


- ACÇÃO! - gritou o louco.

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