Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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28 Janeiro 2009

Isto e Marte. Isto é uma citação de Michael Anissimov, trans-humanista: «2200 will never come. Our brains will be accelerated by a factor of millions before 2100. 2200 won’t be for millions of years.» Pessoalmente tenho as minhas reservas acerca da humanidade se reinventar por completo por intermédio apenas da tecnologia, em particular porque a tecnologia precisa ela mesma primeiramente de evoluir e tornar-se autónoma (em termos de reprodução e reparação - imaginem se dependessemos de uma outra espécie para sararmos a mais pequena das feridas ou fazermos bebés), mas afirmações e visões como esta são excelentes para a criação de futuros e de ficções sobre estes futuros... a essência da Ficção Científica, ou neste caso particular, da Tecnofantasia (uma forma de existência só possível através da tecnologia).

Marte é... bem, Marte. Mas outro. Terraformado. Que é o equivalente planetário de uma operação plástica. Mas daquelas que resolvem um problema físico para um fim útil e não enquanto exercício de vaidade e de desconforto emocional com a inevitabilidade da morte.

   

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24 Janeiro 2009

O «Guardian», Eminente Periódico Britânico, tem uma secção literária dedicada à Ficção Científica, Fantasia e Terror. (Chocante!) Convida nomes da praça para contribuir com artigos de opinião e crítica, e depois recolhe-os online e deixa-os assim expostos, para qualquer um consultar, de graça. (Que desavergonhados!) E recentemente decidiram compilar uma lista dos 1000 livros mandatórios para qualquer leitor, de entre todos os géneros e feitios. (Imagine-se esta manipulação descarada do público!) Entre os quais se encontram, precisamente, obras do Fantástico. (Não há ninguém que páre esta gente?!) Recomendações que se encontram aqui, aqui e aqui. (Ó da guarda!) Concordando-se com umas, discordando-se de outras, são obras que marcaram a nossa cultura recente. (O que sabem eles, se vivem numa ilha?) Até Saramago foi incluído. (Tirem lá as patorras do nosso iconezinho cultural, que não temos assim tantos... temos?) Como não podia deixar de ser, algumas destas obras acabaram por surgir em Portugal. (Também há cá disto?) Tiveram a sua expressão na nossa humilde expressão deste género literário e acompanharam a minha juventude, bem como a de tantos outros que iam espreitando as prateleiras das livrarias à procura do próximo tesouro escondido. (Ai sim? Nunca me enganaste...) Por isso pensei deixar aqui uma pequena selecção pessoal da selecção maior, um texto inicial que pretendo continuar nos próximos dias, em jeito de apresentação resumida de edições que tiveram vida curta. (Mas estás para aqui a insinuar coisas a respeito da imprensa nacional? Páginas na internet? Sítios de referência? Estás doido? Fazes ideia do custo monumental desse projecto? Não venhas com ideias...)

 

Uma Boleia Para A Galáxia - Douglas Adams

O primeiro contacto com esta série do Douglas Adams acabou, por um acaso, por ser O Restaurante no Fim do Universo, o segundo livro da série, e só depois procuraria o primeiro. Estamos a falar da edição da Distri Editora, dos anos 80, com tradução da Maria Nóvoa (e do marido, se não me engano), uma colecção singela que durou poucos números e que surgiu na que se poderia designar vaga editorial portuguesa, que consistiu num par de anos algures nessa época em que meia dúzia de editoras iniciaram colecções de FC em simultâneo, sem razão aparente, apenas para terminarem ao fim de quatro ou cinco livros.

Nesta obra, um grupo bizarro de companheiros impelidos pelas desgraças da burocracia galática, num enredo convuloto que se mantém intacto pelo virtuosismo do humor. Se a história não fica na memória como um organismo inteiro, determinadas vinhetas, pelo contrário, são absolutamente inesquecíveis. Para sempre veremos o número 42 com outros olhos, pensaremos em vacas que se virão apresentar e falar connosco à mesa do restaurante para que as escolhemos como prato do dia («obrigado por me preferirem», dizia ela, «vou já ali dentro pedi ao cozinheiro para me matar»), elevadores deprimidos por passarem a vida a subir e descer com desejos de poderem andar na horizontal, ratinhos-cobaia que são uma manifestação no nosso plano universal dos seres mais inteligentes do universo («os ratinhos deixavam-se ser usados para experiências no vosso planeta?! Ná, olha que estavam a gozar convosco»), e o imperdível Marvin, o Andróide Paranóico, com uma visão tão derrotista da vida que a consegue transformar em arma e salvar o grupo de amigos: perto dele, não há inimigo que não fique deprimido e se suicide de imediato.

Anos mais tarde encontraria em Londres um conjunto de cassettes com o programa de rádio, que também recomendo vivamente. Recentemente a Saída de Emergência voltou a editar o livro, por ocasião do filme, com o título À Boleia pela Galáxia. É interessante notar que nenhuma das editoras arriscou a tradução mais prosaica e exacta de O Guia Galáctico do Pendura.

 

Nave-Mundo – Brian Aldiss

Pois, a tradução estraga tudo. O título original, Non-Stop, também pode não ser dos mais charmosos, mas ao menos esconde a principal revelação do livro, que é o facto de a sociedade em causa existir dentro de uma nave espacial, revelação que apenas surge no fim do enredo como devido. Desta obra de Aldiss infelizmente recordo pouco, apenas uma sugestão de um enredo movimentado e interessante. Edição da Livros do Brasil, na colecção Argonauta, com tradução obrigatória do Eurico da Fonseca (a quem a FC em Portugal ainda não prestou a devida homenagem) algures nos anos 80 e na minha juventude. Ainda hoje penso que o tema foi melhor tratado pelo Fritz Leiber e a sua Nave das Sombras (também edição da Argonauta, uns aninhos mais tarde).

 

Fundação – Isaac Asimov

Asimov, que enquanto era vivo tornou-se num dos testa-de-ferro da FC mundial, o nome de referência a que os meios de comunicação aludiam quando o assunto «ficção científica» passava pela redacção, após a sua morte caiu praticamente no esquecimento, e se em tempos era um dos autores que as poucas colecções nacionais estavam sempre a editar (e bem poderiam continuar a editar por toda a eternidade, graças à produção superior a quinhentas obras nas quais o nome dele surgia com uma desculpa qualquer), um autor que ia vendendo, hoje em dia desconfio que será desconhecido dos jovens leitores de fantasia épica, excepto nos casos em que continua a existir na biblioteca dos pais. Era impossível evitar o Isaac, uma figura larger-than-life mesmo na escrita, e sempre muito cândido a respeito da sua própria vida (a sua autobiografia em três volumes creio que será a maior de qualquer autor internacional de FC). Contudo, parece não ter sobrevivido aos tempos, e não terá deixado as marcas e o culto de um Dick ou de um Herbert. Asimov sempre teve uma escrita cerebral, pouco emotiva, e a sua pertinência literária derivava da inteligência do enredo e do conhecimento da ciência. O que não é o mesmo que dizer que fosse um mau escritor - contra isto bastará procurar-se e ler-se The Gods Themselves (O Planeta dos Deuses, perdoem-me se detesto a escolha do título na versão portuguesa) para se encontrar um autor de FC no seu melhor.

Quanto à Fundação, teve uma primeira edição portuguesa pela Ulisseia nos anos 60 (e uma segunda pela Livros do Brasil há dez anos), que obviamente não se encontrava disponível quando das minhas visitas às livrarias, duas décadas mais tarde – o meu contacto com esta obra aconteceu através da edição brasileira da Hemus, que era distribuida (se não me engano) pela Dinalivro. A Hemus, aliás, publicaria a trilogia completa, seguida do quarto livro que na época era o grande retorno do Mestre e lhe granjeara um prémio Hugo, e um outro punhado de romances e colectâneas (entre eles O Fim da Eternidade, uma história de viagens no tempo e paradoxos espaciais ainda hoje considerada como uma das suas melhores obras). Se esta colecção era distribuída em Portugal, estou em crer que se devia principalmente ao relativo sucesso do nome Asimov. Fundação ajudaria bastante a sua fama, graças à noção de uma psico-história que conseguiria matematicamente prever, com modelos estocásticos, o comportamento da civilização galáctica no período entre a queda de um império e o nascimento de outro. O livro é na verdade uma série de contos interligados, que teriam saído nas revistas americanas, um após outro, nos anos 50. Para sempre Hari Seldon, o matemático que tornaria tudo isto possível e que se transformaria no herói intelectual do autor, revisitado no último livro que escreveu (Forward the Foundation); para sempre Trantor, a cidade-planeta localizada no centro (ou o mais humanamente perto do centro, como o autor mais tarde corrigiu) da galáxia.

 

(Os meus agradecimentos ao indispensável Bibliowiki e ao esforço do Jorge Candeias por facilitar o trabalho de pesquisa para a feitoria de artigos como este.)

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