31 Janeiro 2009
E Daí Que Nem Sempre A Promoção do Livro Pelo Autor seja a melhor estratégia. Porque se o autor escolhesse promover, teria sido promotor. Depois cai-se na banalidade em que se fala de tudo, menos do livro, ou seja, do nada. É fácil cair nesta situação. Há bastantes anos, numa Fnac, em debate conjunto por ocasião do lançamento de uma antologia, acabámos, por mera inércia, por falar muito dos problemas da ficção científica e pouco do livro em questão. Atento, o editor notou que quase ninguém na audiência o quis comprar; não admira, comentei. Numa reprise do acontecimento, em que se prestou a devida reverência e se leram excertos, as coisas correram comercialmente melhor. O que o autor tinha a dizer já o disse no livro - o resto são normalmente questões logísticas e técnicas sobre o processo de fabrico, mais adequadas a uma oficina de escrita e não ao público em geral. Uma verdade comum a várias artes, visível, por exemplo, nos documentários de produção dos filmes. Quando o realizador passa o tempo a vangloriar-se do apoio logístico da Câmara, da montagem dos cenários, da coordenação de equipas em diferentes locais, da qualidade das câmaras, da complexidade da maquilhagem, algo está errado. Então, e a intenção? A história, o slice of life? O que contribui este filme ou este livro para a minha vida? Não pedes só o meu dinheiro, mas também o meu tempo. E que prescinda de ler ou conhecer algo que me faria mais feliz. António Guerreiro estava correcto em pedir um cordão sanitário entre o escritor e a obra. Eu teria pedido aqui um colete de forças e uma providência cautelar. Não pelo caso nem por se tratar de quem é, mas pelo infeliz tom do discurso. Sobre a natureza da escrita. Um livro não se faz de silêncios. Um livro é comunicação, e o silêncio é a recusa absoluta de comunicação - é a folha em branco, a cela vazia. A situação que não avança. O plano estático, lento, longo, inútil, dos filmes de Oliveira. A atitude letal promovida por um certo tipo de literatura. Uma postura afectada básica, um defeito inerente à natureza do criativo, mas que, como a defecação, devia ser feita com a porta fechada. Porque o problema não está em quem costuma dizê-lo, pois estes são normalmente mais sábios. O dano está nos jovens autores, que ouvem e ficam deslumbrados e vão para junto dos laptops com a ideia de escrever sobre o silêncio. Sobre o silêncio, antes de terem dito algo de jeito. Querem desenhar o touro antes de saberem segurar no pincel.Porque o silêncio na escrita não é nada. Mas a hesitação - a hesitação, essa sim, é bastante reveladora.