Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

04 Novembro 2009

O Paradigma Do Brasil no mercado português é o paradigma dos universos alternativos intransponíveis. Eis um panorama editorial extremamente activo, no qual (como demonstrado no vídeo abaixo) exitem as edições completas da trilogia Sprawl de William Gibson (em Portugal ficámo-nos pelo primeiro livro da saga, Neuromante), Anno Dracula de Kim Newman (um dos melhores autores sobre o tema do vampiro - por cá completamente ignorado, não obstante o frenesi editorial sobre os dilemas dos sugadores de sangue) e até uma caixinha agradável com os primeiros livros da Fundação do Asimov; uma passagem pelas montras virtuais das livrarias brasileiras vai revelar outros títulos. São obras vertidas em português - poderá não ser a versão da língua a que estamos habituados, mas serão sem dúvida traduções literárias desprovidas de regionalismos que poderiam confundir ou afastar os leitores deste lado da poça atlântica. E contudo, não existem. Para nós, é como se nunca tivessem sido editadas, como se a língua portuguesa não tivesse sido enriquecida por estas traduções, chegando aos extremos de uma anunciada reedição do clássico Duna de Frank Herbert praticamente simultânea nos dois países: pela editora Aleph no Brasil e pela Saída de Emergência em Portugal. Há questões de direitos de autor, sem dúvida, mas o não aproveitamento global do grande mercado da língua portuguesa diminui a capacidade das editoras e reduz a possibilidade de promoção do autor (limitada a umas quantas celebridades mediáticas). O facto de um grupo como a Leya necessitar de posicionar-se em ambos os mercados realizando investimentos em activos locais demonstra como é difícil ultrapassar a barreira cultural, política e económica dos dois países. Talvez de facto o pouco que nos una seja a língua e um passado.

A situação é pior deste lado que do outro, pois as antigas colecções da Caminho e da Argonauta costumavam chegar às livrarias do Rio e S. Paulo (ignoro se ainda acontece), ainda que a preços inflaccionados pela política de importação do Brasil. Mais grave é obviamente o absoluto desconhecimento da ficção científica brasileira - por cá, apenas se conseguem encontrar a colecção da Devir, e ainda assim, em livrarias especializadas de Lisboa e só um pequeno punhado de exemplares (os Padrões de Contato do Calife continua invisível). Que dizer do Futuro Presente, dos Paradigmas, da Ficção de Polpa, do Imaginários, da Galeria do Sobrenatural e das outras imensas antologias que a ritmo alucinante vão surgindo naquele mercado? Quem esteja interessado em conhecê-las terá de recorrer às livrarias online ou entrar num sistema de trocas pessoais.

(Por outro lado, e para sermos justos, foi em Portugal que se procurou efectuar conscientemente a união destas duas literaturas, emparelhando autores portugueses e brasileiros em igual participação nas antologias O Atlântico Tem Duas Margens e Por Universos Nunca Dantes Navegados. Não obstante os antologistas brasileiros estarem normalmente receptivos a autores portugueses, ainda não surgiu, do meu conhecimento, um projecto igualmente unificador do outro lado).

Para nós, entusiastas de um género precário constantemente à beira da crise, é uma oportunidade desperdiçada de alguma estabilidade e crescimento. Escreve-se pouca ficção científica no Brasil e quase nenhuma em Portugal - mas em conjunto, talvez se escreva o suficiente para motivar outros autores e impor algum dinamismo a novas histórias e projectos. Neste admirável mundo de impressão-a-pedido (ou por-demanda), portes baixos, livros electrónicos e comunicação electrónica, a única desculpa que resta é afinal a que costuma estar na base da maioria das intenções não concretizadas: a grande falta de vontade. E contra essa não há tecnologia que ganhe.

[Link Permanente

25 Outubro 2009

A Pergunta: porque não aproveitas a actual onda de vampiros e, enquanto autor de fantástico, escreves qualquer coisa sobre isso?

A resposta: porque o sucesso por associação é imerecido, e o repúdio por cansaço injusto. Aguardo até virarem as costas.

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal