Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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03 Abril 2010

DIAS DE POLPA (I). O número 72 de Tenebras apresentava já os sinais de decadência próprios de uma revista em vias de terminar: a periodicidade passara de semanal para quinzenal, o número de páginas reduzira-se e o conteúdo era quase completamente composto por material republicado ou reaproveitado da congénere espanhola (cuja banda desenhada inclusive chegaria a publicar no castelhano original).

Foi, como muitas outras, uma revista para rapazes que chegou e partiu sem grande furor, tendo no entanto conseguido o feito de apresentar ao público nacional pranchas do mítico  Tarzan, desenhadas por Foster e Hogarth - algo que, por sinal, acabaria em entrar em concorrência directa com o Diabrete, de mais saudosa e permanente memória, o qual se antecipara a incluir nas suas páginas as histórias desenhadas do herói de Burroughs. No entanto, o Tarzan de Tenebras acabaria por seguir os moldes da versão espanhola, algo que agradava à censura de então, pois tudo o que mostrasse um pedaço de pele a mais era devidamente coberto a mando dos censores franquistas, tão ou mais acérrimos que os nossos (embora não tão fundamentalistas quanto os italianos, que não permitiam sequer que o Tarzan mostrasse a peitaça...) - e, num aparte, como por vezes as histórias não chegavam a tempo à editora espanhola e esta via-se obrigada a recorrer a desenhadores da casa (Iranzo, Blasco, Alfonso Figueras), os leitores portugueses eram presenteados (em igual desconhecimento de causa que os leitores do país vizinho) com sequências de aventuras de que nem o público norte-americano tinha conhecimento...

O grau de amadorismo da publicação, comparada com os exemplos mais interessantes e populares do Diabrete e Mosquito, que alcançaram tiragens na ordem dos milhares,^acabaria por aliar-se a dificuldades na distribuição e afastar Tenebras do público potencial, vetando a revista ao fracasso.

Ainda assim, conseguiria assegurar a inclusão de autores nacionais, entre eles Fred Kartas (a ubíqua Anne Sophie von und zu Hadegg) com os primeiros contos do Espectro da Noite, e principalmente Tiago Rosa, o malogrado jornalista e escritor dos anos 20/30 cuja obra, hoje praticamente desaparecida, foi sendo salva esporadicamente do oblívio por republicações clandestinas, como a deste número de Tenebras.

No caso particular de o «Inconsciente», terá sido o editor-assistente, um certo jovem de nome Farias de Oliveira (de quem apenas sabemos que terá ingressado como moço de recados no Diário Popular aquando da inauguração deste em 1942, logo rapidamente solicitado para dar uma ajuda adicional às revistas populares da tipografia, não obstante a sua absoluta inexperiência editorial), a recuperar o texto de um exemplar da revista anti-Modernista O Sapo de Fraque que existia ainda na biblioteca do pai. Como do Sapo de Fraque não há mais memória (em particular da paródia negra ao Homem Invisível em terras lusas, também da autoria de Tiago Rosa), ficaria o «Inconsciente» para a posteridade como o primeiro exemplo das histórias tenebrosas que se tornariam no apanágio deste autor...

Existia na escura realidade de uma masmorra baixa e com arcos, qual inconsciente recalcado. E era precisamente esse o nome — o Inconsciente — com que os monges do convento o haviam estigmatizado. Mantinham-no em clausura constante e cega, desnutrindo-lhe o ser desde o dia em que foram dar com ele, pouco mais que recém-nascido, à porta do isolado convento. O facto de que mantinha sempre os olhos abertos, em olhar negro e penetrante, sem nunca se fecharem ou mesmo pestanejarem, foi o motivo que levou os monges a alimentar a crença de que o seu nascimento havia sido presidido pelo Diabo, de modo que se apressaram a considerá-lo uma criatura ínfera e que devia, por isso, ser mantida fechada e escondida abaixo do nível do solo.

...o qual poderá (re)ler n'Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, em breve numa banca perto de si.

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02 Abril 2010

Estes Bizarros Seres Com As Suas Bizarras Obsessões sobrevivem em condições miseráveis, dependentes das migalhas que o mundo lhes lança depois de se ter consumido numa orgia de moda, carros, sexo, dinheiro, conflitos e demagogias - situação que não é estranha aos escritores de Ficção Científica. Sim, o LHC pode ser um projecto esotérico e caro, mas há objectivo mais vital para a perpetuação da raça humana, no longo prazo, que o de entender como funciona o universo? É preciso mendigar por atenção? Esta semana fomos testemunhas de que conseguimos gerar energias e dar luz a partículas (e quem sabe, outros nano-universos) que só surgem, normalmente, em condições específicas e extremas do espaçotempo. Conseguimos entender o que isto significa? Infelizmente, os nossos cérebros reptilianos não conseguem evitar a reacção primitiva ao brilho das moissanitas da civilização - e o progresso científico, que requer funções mais elevadas da mente, fica assim para trás, o diamante em bruto de uma cultura que não existiria sem a sua contribuição. Ao menos existem uns seres que, em jeito de subversão, disseminam as histórias e os fantasmas associados a estes feitos...

Físicos no CERN

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