Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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29 Abril 2011

O Conto Seguinte Apresenta-nos um Peter Pan activamente envolvido nas andanças políticas do Império Britânico, ao agir como espião ao serviço de Sua Majestade. No entanto, enquanto miúdo traquinas e imberbe que é, o seu comportamento deixa muito a desejar... junte-se a isto a trisneta de Wendy e um rol de gerações de mulheres apaixonadas pelo rapaz voador que não queria crescer, bem como um vilão perfeitamente inesperado mas lógico, e fica-se com algo semelhante a um cadáver esquisito, uma junção de várias peças, atrapalhadas no início (a prosa inclusive alterna, confusa, entre tempos verbais - desconhecendo o texto original, não me foi possível determinar se se trataria de uma homenagem propositada) mas, graças ao predomínio final de uma voz adulta e de uma opinião vincada sobre o personagem de Barrie, acaba por resultar. É a voz de uma criança ambiguamente desiludida por ter crescido mas também convencida que quem recusa crescer acabará por ficar com graves cicatrizes na alma - a voz de Sarah Reese Brennan em «The Spy Who Never Grew Up», e a sua melhor dádiva é lembrar-nos que, nos dias actuais, se quiserem ser aceites em sociedade, os contos de fadas são obrigados a crescer e vestir-se de pós-modernismo.

«The Aarne-thompson Classification Revue» de Holly Black é, também, uma abordagem moderna, desta feita sobre o tema do lobisomem, que desta feita é uma jovem mulher, e que, desta feita, procura sobreviver e adaptar-se e ter uma vida apagada, para que não se notem as diferenças. Acaba no cimo de um palco, na noite de estreia, a debater-se contra uma transformação que não controla. Pequeno, ainda que bem construido, tem dificuldade em manter-se na memória do leitor além do encerramento das páginas.

Por seu lado, «Under the Moons of Venus» de Damien Broderick é um texto pseudo-adventista sobre o Dia do Juízo Final, embora esta alusão nunca seja concretizada. Contudo, que outra leitura ter de uma situação em que Vénus é terraformado por uma espécie inteligente não-humana (atenção que não disse «extraterrestre» de propósito), e toda a gente do planeta é deslocada para nele habitar, exceptuando um conjunto de rejeitados? A explicação científica parece deslocada do tema, e, embora apresentando informações pouco conhecidas, não senti que contribuisse para a finalidade da história. Esta revela-se no final, em que se descobre, sem grande surpresa, que a verdadeira intenção do protagonista é de se juntar aos escolhidos.

Com «The Fool Jobs», Joe Abercrombie demonstra-nos, novamente e de forma compacta, o motivo pelo qual é considerado um dos autores de fantasia mais irreverentes e divertidos da nova geração. Um conjunto de mercenários é contratado para um serviço de treta, o «serviço» que só um «tolo» aceitaria: roubar um determinado objecto escondido numa aldeia na região que ninguém quereria percorrer. Que objecto é? Pois, quem os contrata afirma somente que, quando virem o objecto, saberão qual é. Cépticos como quaisquer bons mercenários que prezem a integridade das suas peles, isso não os reconforta. Junte-se a isto uma boa dose de cobardia e loucura, além de um excelente sentido de humor, e o resultado é imperdível.

(Continua...)

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25 Abril 2011

Chegou Aquela Etapa No Ano em que é preciso (realmente preciso) olhar para o ano transacto e definir fronteiras para o território das melhores histórias curtas publicadas durante esse período - falamos de FC e Fantasia, obviamente.

Um dos volumes anuais que compilam opiniões pessoais sobre estas histórias (os quais apresentam uma surpreendente elevada taxa de sobreposição entre si, o que acaba por reduzir as perspectivas sobre o género e sem dúvida empobrecê-lo) e que já se encontra em algumas das livrarias nacionais que contenham livros importados trata-se de The Best Science Fiction and Fantasy of the Year, Volume Five, organizado por Jonathan Strahan (pois, nem a nível dos títulos encontramos grande variedade. Imagine-se que um destes senhores antologias se propunha subtitular a edição do ano como «The Year Hard SF Came Back From the Dead»; tanto medo de se mostrarem parciais, e depois perguntam-se por que os leitores bocejam profundamente). Irei, como já fiz no passado, apresentar algumas opiniões pessoais sobre os contos seleccionados.

A abrir, «Elegy for a Young Elk», do finlandês Hannu Rajaniemi. Não fosse este o autor do divertidissimo The Quantum Thief, que já me encontrava a ler, e duvido que voltasse a dar-lhe uma oportunidade. Anódino, insubstancial e inconsequente, o distanciamento e o descuido da prosa tornam a história tão higiénica que lhe é impossível captar-nos a atenção. Uma sensação de profunda perda de tempo semelhante à que tive com o Tony Daniels, há muitos anos.

«The Truth is a Cave in the Black Mountains» é uma lufada de ar, com a habitual competência de Neil Gaiman. Uma viagem emocional cuja verdadeira natureza - como é, aliás, intuido no início - não é a que aparenta. Este seria o tipo de histórias próprio de um folclore moderno, se tal criatura existisse.

A seguir, «Seven Sexy Cowboy Robots» de Sandra McDonald é simplesmente... estranho. Uma mulher separa-se de um marido rico, criador dos andróides mais famosos e vendáveis da época, e que requer, como cláusula de divórcio, que este lhe entregue seis robôs com forma e pujança (sexual) de cowboys. A história trata do relacionamento desta com os robôs, e como lhe vão fazendo companhia ao longo dos anos, cada qual com a sua personalidade própria. O tratamento do tema é tão vincadamente feminino que me fez sentir que uma mulher seria capaz de apreciar o que, a mim, apenas me aborrecia - é rara a prosa que comporta uma voz tão marcante, e por esse motivo o conto merece destaque.

(Continua...)

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