Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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11 Setembro 2011

Os Prémios Hugo de ficção científica foram atribuídos no dia 20 de Agosto em Reno, Nevada, EUA, durante a Worldcon, que é como quem diz, encontros mundiais de ficção científica. A selecção bastante desanimadora de finalistas deu lugar a uma escolha ainda mais desinspirada, a de Blackout/All-Clear, um extenso livro dividido e vendido em duas partes na qual Connie Willis repisa o trilho já gasto da sua premiada (e mais interessante) novela «Fire Watch» de há umas décadas. Reviver o Blitz em plena Inglaterra da Segunda Guerra tem sido um fascínio desta autora, mas quem já leu o livro ficou desanimado pela escrita pesadona e pelas incongruências histórias. Por cá, reservamos a opinião até termos oportunidade e paciência em abri-lo. Outras selecções desinspiradas atribuem a vitória de um episódio do Dr. Who na categoria de obras visuais dramáticas curtas - a mesma que equiparava Shaun Tan à brincadeira de uma cantora que nunca devia ter passado de brincadeira. O triste desta evidência é perceber o quanto este prémio, que devia defender um padrão de qualidade e uma exigência crescente a nível literário, se afastou do propósito. Obviamente que não ajuda o facto de as escolhas surgirem por votação pública, mas se antigamente havia uma equiparação entre gostos e obras que se tornaram clássicas, actualmente essa utopia encontra-se cada vez mais longínqua de acontecer. Ou os gostos dos leitores mudaram ou há cada vez menos leitores. Não deixo de pensar que Willis, que tem uma presença divertida em palco, foi escolhida, pelo núcleo duro que participa nestes encontros, mais pela sua personalidade do que pela sua escrita. Se a tendência permanecer, talvez seja oportuno tornar a designação do Hugo no «prémio atribuído pela malta da Worldcon aos livros que interessam a esta malta».Link: Assistir em diferido à cerimónia de entrega dos prémios.

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31 Agosto 2011

Lançada no Brasil em início de 2011, a antologia Assembleia Estelar: Histórias de Ficção Científica Política constitui uma recolha de contos sobre o futuro ou as alternativas da política em ambientes de Literatura Fantástica. Organizada por Marcello Simão Branco, jornalista, autor e cientista político, com edição da Devir Brasil (na magnífica colecção Pulsar, dirigida por Roberto de Sousa Cauzo, que se tem esmerado por apresentar o melhor da FC brasileira e internacional), é a primeira antologia da história da literatura em língua portuguesa que versa exclusivamente sobre este tema.

 

De entre a selecção de textos (pertencentes na maioria a autores brasileiros de renome) podem destacar-se os conceituados autores norte-americanos Orson Scott Card, Ursula Le Guin e Bruce Sterling.

Participo nesta antologia com «A Queda de Roma, Antes da Telenovela», que pode ser lido online e permanece inédito (em formato papel) em Portugal.

Mais pormenores sobre o conteúdo, do qual destaco a informativa introdução de história literária do próprio editor, no site da editora, no qual se pode encomendar o livro. Alternativamente, pode recorrer-se às livrarias online brasileiras.

A antologia conseguiu entretanto obter algumas palavras de apreciação dos críticos, as quais inventario a seguir, com destaque para as palavras relativas ao meu conto:

António Luiz M. C. Costa, na Carta Capital

O primeiro conto, “A Queda de Roma, Antes da Telenovela”, é do escritor português Luís Filipe Silva. O tema é um futuro sistema de governo por meio de debates públicos e plebiscitos eletrônicos. Os eleitores escolhem entre propostas elaboradas por especialistas e acompanhadas de estudos sobre viabilidade econômica, impacto social e ecológico e assim por diante.

A ideia de democracia informática direta é comum na ficção científica e em fóruns de internet e geralmente vista com otimismo, quando não como uma via expressa para a utopia. Mas neste conto, essa perspectiva leva apenas à mediocridade “tecnocrática” (e ao mesmo tempo, “democrática”), por esvaziar a política de emoção e de objetivos grandiosos. O protagonista é um político da velha guarda que em outros tempos teria sido um grande líder, mas nessa realidade é um velho decadente cujos discursos inspirados fracassam em motivar os cidadãos em torno de sua proposta de busca de vida extraterrestre.

Nesta curiosa ficção parece se fazer sentir o desencanto de muitos europeus com a tecnocracia de Bruxelas e a frieza distante do sistema político da União Europeia, que se supõe democrático, mas é tão mediado por representantes e burocracias e restringido por normas legais, técnicas e financeiras que faz o cidadão sentir-se irrelevante e impotente. O estranho é se associar o mal-estar não ao amplamente reconhecido “déficit democrático” de uma democracia excessivamente indireta, mas a uma forma de democracia direta jamais testada. Por outro lado, é uma das poucas tentativas nesta coletânea de realmente especular sobre o futuro da política, em vez de ambientar conflitos políticos do passado ou do presente em um cenário especulativo.

Prof.ª M. Elizabeth Ginway, da Universidade da Flórida

Redemocratização

Entre os tópicos abordados pelos autores brasileiros está a da redemocratização. No texto do autor português Luís Filipe Silva, "Queda de Roma, antes da Telenovela", o idealismo democrático e grandes metas políticas estão mortos. Sem memória da luta contra regimes ditatoriais, a televisão toma conta de tudo. Em "Trunfo de Campanha," Roberto de Sousa Causo lida com o problema ético de um herói de guerra pressionado para participar da política galáctica, enquanto em "Saara Gardens", Ataíde Tartari imagina uma eleição que determinará o futuro do deserto do Saara num contexto global. A corrupção ou manipulação política brasileira agora aparece num palco mais amplo. No caso de Causo, existe um fim menos cínico do que as histórias de Silva ou Tartari, mas todos questionam o futuro da política brasileira e sua possível expansão.

(resenha traduzida por Roberto de Sousa Cauzo)

Tibor Moricz, no É Só Outro Blogue

O que seria se cada votação de projeto de lei fosse transformada em espetáculo, transmitido em rede nacional de TV? Luis Filipe Silva fala de um futuro hipotético onde políticos perfeitamente integrados ao modus operandi da época lidam com um parlamentar cujas técnicas ainda obedecem às velhas fórmulas do século XX, nas quais os debates ainda se sobrepujam a mera análise estatística dos números. Não se trata de uma noveleta com ação e momentos de tirar o fôlego, trata-se de uma abordagem reflexiva que caminha paripasso para um final coerente. Se não arrebata, também não aborrece. MÉDIO

Gilberto Schoereder

[...] Variadas também são as abordagens fornecidas nos contos do livro, o primeiro deles, “A Queda de Roma, Antes da Telenovela”, escrito pelo português Luís Filipe Silva, já conhecido dos fãs de fc no Brasil, em particular pelos excelentes Galxmente e Terrarium (escrito com João Manuel Barreiros). Aqui, ele imaginou um futuro com um sistema de votação que se aproximasse da perfeição, exatamente por dispensar tanto os políticos quanto seus discursos vazios, centrando-se em resoluções baseadas na lógica e na real necessidade da nação e seus habitantes.

 

O conto foi entretanto escolhido como material de apoio didáctico (sobre aspectos de especulação de teoria política) na disciplina «Realidade Sócio-Económica e Política Brasileira», dos cursos de licenciatura em Administração, Ciências Contábeis, Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, a par dos de Miguel Carqueija e Carlos Orsi.

Esta página será actualizada consoante o surgimento de informação relevante.

 

Outras ligações:

Texto de Vagner Vargas, criador da ilustração da capa

Reportagem sobre o lançamento em São Paulo

Roberto de Sousa Cauzo entrevista Marcello Simão Branco

Capacitor Fantástico entrevista Marcello Simão Branco

 

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