Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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27 Setembro 2011

Eurocon 2011: Discurso de Ian McDonald em Estocolmo, em Junho passado, sobre os aspectos positivos da Ficção Científica. Algumas mensagens importantes: que perdemos o futuro, perdemos a noção consensual do rumo enquanto civilização, perdemos o mercado feminino (no sentido em que a FC parece ser uma «coisa de gajos», ainda que o género esteja repleto de bons exemplos de autoras que também praticam ciência). Também descobrimos que cada apreciador tem a sua noção de «FC dura», do mesmo modo que cada crente tem a sua ideia sobre Deus. E mesmo assim, a FC é capaz de nos descrever o mundo tal como se encontra. Ou devia, se não fosse o preconceito e miopia que altera a percepção de quem vive no presente e dificulta uma opinião isenta, distante - algo que esta mensagem, quando vinculada, normalmente desconsidera. Pois, infelizmente, a FC ainda requer autores, pessoas do presente, para nascer. Talvez por isso o mundo continue perdido, apesar de interjeições tão simpáticas como esta. Um mundo que sabemos já não tem futuro, e se tem, não inclui Portugal. Gravado por um canal de televisão sueco. A espreitar aqui.

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11 Setembro 2011

Destaque Para Dois Artigos Sobre a Influência Mútua entre ficção popular e realidade, como início de um debate mais extenso nestas páginas (por motivos que em breve se tornarão evidentes). O primeiro é «The Subversive Ability of Popular Culture: Superhero Movies Post 9/11».

Se somos uma espécie única por vários motivos, celebrar aniversários figura sem dúvida perto do topo da lista. Passamos a gerações futuras uma chamada de atenção para certo evento que a actual considera importante. Mas até a importância se desvanesce no tempo, mistura-se com outras celebrações (veja-se o caso do Natal) e pode inclusive perder significado. Na nossa luta por manter uma memória colectiva, honramos tradições, mesmo quando já perderam a aplicabilidade. A História tem a sua própria inércia e como Leiber bem nos mostrava em The Big Time, as explosões sociais do passado propagam-se para o futuro como ondas de choque. 

Algo que celebrar aniversários nos permite é definir períodos de análise. A realidade é uma telenovela infinita que dificilmente se sumariza - daí a necessidade de estabelecer fronteiras temporais e excluir tudo o que possa ter dado origem a, ou ter derivado de, um movimento artístico, por muito que a cultura seja contínua e não discreta, e os criadores sejam tão influenciados pelas tendências da juventude como pelo discurso da actualidade. Dito por outras palavras, o princípio de uma história é sempre o fim de outra. Considerar, como o faz o autor do artigo, que a reconquistada popularidade do superherói nas salas de cinema traça um paralelo com o choque pós-traumático de uma América ferida não deixa de ser pertinente e adequado, mas ignora o fenómeno de fascínio da nova tecnologia audiovisual em apresentar-nos de forma convincente novos mundos ou transformações realistas do existente - roubando à FC a extrema verosimilhança (e logo, a audiência) que sempre se lhe exigiu. Ignora que se dirige a uma faixa etária pouco preocupada com o passado, mergulhada no presente e atenta ao futuro, que vai desconsiderar muitas das referências apresentadas se não for confrontadas com elas, diariamente, nos telejornais. Ser-se convincente, neste contexto, implica ser-se actual, reflectir as preocupações do jornal da véspera e das entradas mais recentes dos blogues: a ficção popular envelhece quase tão rapidamente quanto as notícias, e como elas, em breve se encontra no lixo. Por isto, é difícil encontrar nela reflexões ponderadas - não representa diligência argumentativa - não se preocupa com a justiça nem com a objectividade. Se o trauma ainda está fresco, e para não dar a parecer que alguém pretende lucrar publicamente com ele (já bastam os políticos e os anunciantes), a abordagem passa pel discurso conservador, aceite comumente pela sociedade, pela crítica fácil e pelas anedotas de ocasião. O que resulta em que estas histórias sejam encaradas como espelhos para efeitos de história literária: fórmulas concentradas de crenças e receios na sua forma pura (expurgada de acontecimentos, desapropriada de personagens, universal), recolhidos enquanto o trauma está vivo.

Só a ficção popular - escrita para se vender hoje, para consumir já, para se esquecer amanhã - tem verdadeiramente esta capacidade.

Talvez o fenómeno mais interessante seja o descrito no artigo seguinte, «Trauma, Morality & Conformity: American (Super)Heroes After 9/11». Os criadores dos superheróis viram-se, talvez, com o ataque mais feroz à sua arte, desde sempre. Que se tenham sentido obrigados a reagir ao mundo real e a incorporar nas histórias uma evocação do ataque às Torres, é testemunho do sentido de comunidade do género e do nível de sofisticação que conseguiu atingir - no sentido de confiar nos leitores, no veículo de comunicação e na maturidade da história. Também, talvez, um apelo à sobrevivência - não na mera questão comercial, mas no sentido de legitimar a impotência dos ditos superheróis em prever e precaver o desenlace. Na sua pequenez, os artistas gostam de pensar que contribuem para melhorar o mundo.

«Se os clássicos são eternos, a ficção popular identifica uma geração.»

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