Conceito de Luís Filipe Silva

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A Festa de Baco
Comentários Sobre um Movimento Associativista em Final de Milénio

Luís Filipe Silva -  Crítica |  18 Abr 2006

Numa procura (desesperada?) de inspiração para este artigo, encontro num dicionário de sinónimos (o único tipo de dicionários que, por várias razões, se encontra neste momento ao meu dispor) as palavras que podem acompanhar de braço dado, em conversa, o termo mais precioso Tertúlia; são elas: assembleia, cavaco, embriaguez. Passando por cima da terrivelmente óbvia conotação política, o termo mais interessante é sem dúvida o último. Embriaguez efectuando uma re-interpretação semântica sobre o passado, olhando para trás em perspectiva, considerando a cena em que o grupo se encontra reunido e a câmara, imersa na acção, começa a abrir o plano, a afastar-se, a separar-se do acontecimento, tornando-se em reflexão e futuro, mostrando que o narrador é, afinal, mais velho do que nos tinham feito crer, que é tudo memória e saudade, que a banda sonora se ergue acima das vozes e fala do outrora em lamentos de violino perdão, a frase já vai longa. O que pretendo dizer é que, pensando bem no assunto, embriaguez é uma definição tão mordaz quanto certeira, e consegue aquele efeito que os ingleses tão bem definem de hits too close to home.

Considerem: estamos no final do milénio. Esquecendo as tretas dos convencionismos académicos, é no ano 2000 que o futuro acontece, sendo 31 de Dezembro de 1999 a data final de um século que viu parir a dita civilização-como-hoje-a-conhecemos. No 31 de Dezembro de 2999 (se ainda existir esta convenção para datas, o que duvido muito), tudo será diferente, de uma forma que nem 10 gramas de ácido lisérgico puro conseguem fazer adivinhar. Neste final de milénio, vivemos para o vazio. Situamo-nos eternamente numa praia, à beira de água; a tarde está a caír, e a maré a encher: apressamo-nos a construír os nossos castelos de areia. Ficam sempre incompletos, tamanha é a nossa pressa. São tão imponentes e magníficos, e no entanto, vejam como tombam ante a mínima brisa; como se encolhem perante o beijo suave das ondas. Nesta analogia veraneante, o mar é obviamente o tempo: ubíquo, teimoso, deixando apenas a descoberto os primeiros quilómetros da sua infinita extensão. E nós, no final deste século, somos insectos assustados com o caír da noite, bichinhos que aprenderam finalmente como funciona o mecanismo do próprio corpo (e se aperceberam que as ervinhas dos curandeiros afinal não faziam lá muito efeito…), que se convenceram de que podem mudar o processo do mundo que os faz nascer e os faz morrer; estes insectos renegaram a religião, o sagrado, o filosófico, a paciência, a doutrina, a antiguidade, a herança, o exemplo do passado tudo pela promessa de serem imortais através da tecnologia. Porquê perder tempo com poesias se a próxima hora passada em laboratório nos aproxima mais um pouco do Grande Objectivo? É tudo terrificamente lógico em termos evolutivos. E eis onde isto nos trouxe:

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Luís Filipe Silva