17 Agosto 2006
WHAT'S HOT OUT THERE? Onde se mencionam tendências que estão a dar que falar, livros que todos andam a ler, e se perpertua indiscriminadamente o burburinho de entusiasmo pelas novidades que muitos engenheiros de marketing social (chamemo-lhes assim, já que eles próprios não o admitem) aproveitam para o acto religioso conhecimento por product placement (em português vernacular: enfiá-lo no sítio certo).E nesta primeira entrada, uma chamada de atenção para um artigo - em inglês - de John Joseph Adams de crítica a três livros distintos, dos quais destacamos dois (*): The Lies of Locke Lamora, de Scott Lynch (uma fantasia que não utiliza muitos elementos fantásticos - à semelhança da saga de George Martin, a qual, espantosamente, tem imensos seguidores no mercado de fantasia, vá-se lá compreender os leitores -, e é o primeiro volume de sete!, mas que, de acordo com os comentários, e incluindo o mencionado, lê-se bem e não causa indigestão), e Infoquake, de David Louis Edelman, uma tecnofantasia (**) que tenta aplicar os conceitos da sociedade da informação ao corpo humano (Brunner, agora é que eles começam a entender-te...); a confiar na parafernália de adendas (glossário, artigos, entre outros) ao livro e no material disponível da web do autor, parece-nos perigosamente próximo daquele estado de espírito apenas familiar a clarividentes e candidatos políticos em época de campanhas («confiem em mim, estou mesmo a ver o futuro!»), pelo que aconselhamos uma leitura desapegada e uma atitude levemente sarcástica para não se deixarem infectar por memes tão perigosos.
* Do terceiro não fazemos referência, pela nossa desconfiança da capacidade de Robert Sawyer, embora aqui no papel de editor, em distinguir boa literatura - a obra dele é da mais aborrecida e sonorífera da actual FC. Fica ao vosso critério.
** sob a luz do pós-modernismo, este texto aborda uma desconstrução do corpo humano e respectiva biologia, revista de acordo com critérios ligados à informática e à cibernética, que transformam o humano e íntimo em algo mecaniscista e impessoal; sem dúvida material para debater e explorar a noção de individuo e identidade face a uma alteração radical da ecologia tecnológica envolvente - o que automaticamente permite classificá-lo como uma tecnofantasia.