Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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30 Abril 2008

SINTAM-SE VINDICADAS, miúdas de 16 anos, pois o John Scalzi, que acaba de publicar um livro no qual uma protagonista tem a vossa idade, compreende que não é fácil compreender-vos. Mas isso decerto vocês já desconfiavam. Como afirmava uma das Virgens Suicidas ao médico, «o doutor sabe lá o que díficil que é ser rapariga e ter 13 anos» (citado de memória). Scalzi é um paz-de-alma do mundo online, que escreve ficção científica igualmente paz-de-alma com toques de humor. Nada de mal nisso. Doctorrow é um testa-de-ferro de uma corrente de opiniões que defende que a informação deve ser livre e que não devem existir sistemas de protecção de conteúdos, o que não o torna do agrado das corporações mediáticas (nem, a bem ver, da maioria dos autores com algum nome). Publicou um livro para adolescentes sobre o perigo eminente dos sistemas ubíquos de vigilância estatal e como conseguir subvertê-los recorrendo a meios técnicos ao dispor (num dos capítulos, o jovem protagonista utiliza uma X-box hackada para estes fins). Não tanto romance como panfleto de atitudes liberais que possivelmente nos transmite alguns bons conselhos. O vídeo serve também como exemplo de uma forma de auto-promoção que não se leva muito a sério (e logo incentiva a ser usada como marketing viral, como este próprio post comprova...)

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28 Abril 2008

EXISTEM AUTORES EUROPEUS? Decerto que existem autores nascidos na Europa, ou num território que se convencionou assim designar, desde os antigos gregos por via da mitologia fenícia, mau-grado as variações geo-políticas da questão ao longo dos tempos. Decerto que existirão movimentos artísticos ou abordagens comuns a eras e línguas, tão-somente porque o substrato da literatura é a palavra escrita. Contudo, em primeira análise, e enquanto autor nascido num canto remoto dessa tal designação, entendo que a diferenciação do conjunto se esbate quando visto em pormenor, não passa de ilusão, alimento da nossa necessidade primitiva de formar padrões e criar modelos de representação do real, mesmo a partir de simples traços. Para os norte-americanos, é todavia um conceito que se vende. A Europa é mais permissiva sexualmente - prova de que não vivem num vilarejo do interior de qualquer dos países deste Ocidente; a Europa é mais arrojada e artisticamente complexa - uma percepção enganadora emanada pela Nouvelle Vague de outrora como prova de que não reconhecem o quanto estamos mais próximos das tendências de fora que das do passado; a Europa da multiplicidade de línguas - como se no território do outro lado do oceano a língua franca não estivesse em concorrência permanente com as falas imigrantes. E contudo, se existe uma forma como o conceito Europa faz sentido em termos americanos é na promoção comercial e no empreendorismo corporativo. Se para um europeu faria pouco sentido apresentarem-lhe autores e contos representantes dos cinquenta e dois estados da União, para um norte-americano a ideia desta Comunidade como manta de retalhos cujas cores convivem ainda em situação conflituosa é demasiado apelativa para que não fiquem fascinados por ideias como a recente Gala Europeia da Sociedade Norte-Americana de Autores de Ficção Científica, talvez um dos piores títulos possíveis para uma antologia que meramente pretende apresentar exemplos de contos da ficção científica de alguns países da Europa (entre os quais Portugal, com a honrosa participação do João Barreiros e tradução do Luís Rodrigues). A divisão geográfica é o mais fácil dos critérios de selecção, embora neste caso represente fortuitamente quase na totalidade uma divisão linguística, e aquele mais imediatamente defensável para os organizadores, os editores e os compradores. De fora, fica-se com a ideia de um território único e unido por uma identidade comum, que o conteúdo não revela. Nós, que vivemos na floresta, sabemos que, tal como no outro lado do mundo, há ficção científica e há fantasia, há autores consagrados e há autores novos - mas acima de tudo, não há autores europeus, porque não existe nem uma língua europeia nem uma política de tradução mandatória entre os Estados-Membros. O principal objectivo da antologia fica assim comprometido, e resta-lhe ser apreciada por aquilo que verdadeiramente é, uma antologia de bons contos com bons autores aos quais foi oferecida a oportunidade de serem publicados em inglês e lidos pelo mundo. A entrevista que se segue foi feita por Jeff VanderMeer ao casal de editores - James e Kathrine Morrow - que tiveram a presente ideia no decurso das suas visitas frequentes ao festival anual de fantástico em Nantes.

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