Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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11 Junho 2008

DE TRÍPTICOS E OUTROS DEVIDOS. É sempre um risco apresentar publicamente projectos de natureza literária ainda não terminados. Alguns livros escrevem-se em três dias (Dr. Jeckyl e Mr. Hyde), outros numa noite prolífera (O Guardador de Rebanhos), outros resultam de uma teimosia de décadas (Jonathan Strange e Mr. Norrell). O problema pode ser incompreensível para quem nunca atravessou o deserto - nem sempre os livros obedecem à vontade do dono, ou mais honestamente, nem sempre o dono conhece a sua própria vontade. Longe de ser um capitão de fragata, torna-se ocasionalmente num Ahab louco (passe o pleonasmo) em busca da mancha branca no horizonte que está sempre a escapar-lhe. Perde dias e dezenas de páginas a seguir um beco sem saída para em seguida as rejeitar, desconfiando do rumo e da qualidade do texto, e voltar ao início. Partiu-se de uma doca com velas enfunadas em direcção a um mar acolhedor, mas sem ideia de destino, confiante no surgimento atempado do Novo Mundo, e vai-se navegando até que finalmente o escorbuto, a fome e uma tempestade lançam o golpe de misericórdia sobre o empreendimento. (Se recorro demasiado hoje a metáforas náuticas é consequência da crise dos combustíveis.) Obviamente que estas dores de parto apenas ocorrem a autores que não seguem uma carreira literária - os demais têm de cumprir prazos e satisfazer o editor, como qualquer mortal o seu patrão, o que implica traçar um plano inicial de enredo, apresentar propostas a editoras e seguir esse plano com ritmo e prazos pré-estabelecidos. Assim os que mais vendem são também os que mais produzem, e os restantes arrastam-se nos intervalos dos tempos livres. Divagação esta que surge a propósito de uma promessa efectuada no decurso do Fórum Fantástico do ano passado e que foi posteriormente comunicada à imprensa. Uma promessa que, embora de índole não estritamente profissional (nenhum dos envolvidos tem por principal - nem sequer por secundária - fonte de rendimento a escrita), não obstante tem merecido algumas interrogações por parte do pouco público, o que denuncia, acima de tudo, que os responsáveis têm andado um pouco distraídos na divulgação.

A promessa em questão referia-se ao primeiro tríptico da Ficção Científica portuguesa, ou seja, um conjunto de três histórias passadas num universo/enredo comum e partilhado, feitas por três autores distintos. Com o título genérico e bastante sugestivo de A Bondade dos Estranhos, contará com a participação de João Barreiros, João Seixas e moi même.

«O Projecto Candy-Man», pontapé de arranque da história, foi lançado em finais de 2007 pelas Edições Chimpanzé Intelectual (até ao final da semana no pavilhão dos pequenos editores da Feira do Livro de Lisboa), e serve como movimentada introdução (embora deva também ser lida como uma história completa em si mesma) a um futuro imediato no qual o nosso planeta é obrigado a lidar com a presença incómoda de três espécies extra-terrestres extremamente distintas entre si e não necessariamente amistáveis. Neste primeiro livro, o João Barreiros apresenta-nos Joana, uma jovem vitimada por uma experiência secreta do Governo que se vê a braços com uma tarefa que lhe pode custar a vida... A sequência deverá ser continuada por João Seixas, com o título bastante prometedor de «A Alma do Louva-a-Deus», ficando para mim reservada a terceira parte e acto de encerramento (ainda sem título).

E digo «será continuada» porque, se o primeiro livro aguardou alguns anos antes da publicação, os restantes continuam em fase de concepção, e estão a ser elaborados sequencialmente, razão pela qual não se podem apresentar datas firmes e seguras. A história tem crescido de forma peculiar e orgânica, da qual premissas anteriores conduzem a viragens de enredo inesperadas (qual cadáver esquisito semi-destapado), pelo que capítulos posteriores apenas irão assumindo a forma final à medida que os anteriores estiverem escritos e concretizados. O que é um desafio em si mesmo. Caso contrário, escrever não passará de encher carne num esqueleto, e se isso é adequado para escribas a metro, não iguala o prazer de ser-se leitor da própria obra em crescimento e logo desconhecedor da aventura no virar da página.

Futuramente vos trarei mais considerações sobre este universo, sobre os desafios da escrita em conjunto e sobre a possibilidade de comentário social ao nosso presente que a estrutura destas sociedades alienígenas permite. Fica aqui um relembrar da promessa e a indicação de que o projecto não está esquecido.

O Projecto Candy-Man, de João Barreiros, Capa de João Maia Pinto

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10 Junho 2008

UM CHEIRINHO DE FUTURO. Um pequeno vídeo inspirador sobre visões de computação ubíqua e móvel, na qual os dispositivos comunicam todos entre si numa linguagem comum. Para um engenheiro este é um desafio de décadas, para o leigo é uma preocupação bizarra - se afinal as máquinas são concebidas por nós e não surgem por geração espontânea, porque não se definiu à partida a tal linguagem comum, porque é isto um desafio? Na resposta a esta questão, encontra-se um modelo de como as sociedades humanas evoluem e da razão de falarmos centenas de linguagens e outros tantos dialectos: há sempre alguém que prefere fazer à sua maneira, isolado, e os outros que o sigam... Também neste vídeo um pressuposto sobre o futuro que em poucos anos o tornará datado: para interagir com a tecnologia móvel é necessário um outro dispositivo tecnológico, uma bengala de acesso, neste caso representado por um PDA vitaminado. E de que outra forma, perguntarão vocês? Eis uma pergunta que uns certos senhores começaram a colocar há cerca de vinte anos... [Via Artur]


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