Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

22 Outubro 2008

Intermináveis Horas de Trabalho grassam as páginas dos volumosos manuscritos com que os autores nos honraram no decorrer da participação nesta primeira edição do prémio Bang! de Literatura Fantástica. Palavras intrépidas percorrem os ficheiros das submissões à antologia de pulp fiction (a caminho da centena!). Inúmeros parágrafos após parágrafos enchem as participações a este sítio web, a outras iniciativas e antologias, a solicitações voluntárias de apreciação. No decorrer dos últimos anos tenho tido a oportunidade de contactar directa e indirectamente com a produção em bruto de literatura luso-brasileira na área do fantástico. Tenho visto material nos mais diferentes níveis de qualidade, do mais elevado ao mais baixo. Escrita exemplarmente cuidada ou criminosamente desleixada. Enredos vincados ou enredos ausentes. Personagens credíveis e personagens que, a bem dizer, é melhor não. E as diversas cambiantes pelo meio.

Há de tudo. Há, também, erros, alguns óbvios, outros menos óbvios. Diferentes participantes têm diferentes posicionamentos na grelha de partida – alguns estão tão atrás e tão às escuras que se chegarem à meta é uma sorte. Outros parecem ter nascido para a coisa e surgem como o Michael Phelps da escrita. Como falamos de literatura, não acredito que seja genético. Não creio que haja uma aptidão natural para contar e lidar com as palavras. Creio, isso sim, num problema de desinteresse e ingenuidade. O bom escritor está atento aos comentários dos outros escritores, aprendem com os exemplos, observam com atenção o mundo editorial, lêem as novidades e os clássicos. Os escritores menores estão distraídos, ou pensam que basta fazer uma pirueta e já está, ou copiam material desta fonte e personagens da outra julgando, como qualquer puto de escola, que o editor não os apanha a copiar.

Como em tudo na vida, o respeito com que tratamos o nosso trabalho (e por conseguinte, o respeito com que nos tratamos a nós próprios) reflecte-se no próprio trabalho e por sua vez convida ao respeito dos outros. A falta de respeito segue a mesma regra.

Eis algumas observações, não exaustivas, para aspirantes a escritor:

Aprendam a gramática. Parece óbvio. Um condutor profissional deve ter primeiramente tirar uma licença de condução. Um médico deve fazer um curso e uma especialização. Um advogado precisa de credenciais e referências de estágio. E todos precisam de experiência. É assim, inadmissível, que um autor não tenha igual cuidado nos manuscritos que envia. Em época de validação automática de caligrafia e de regras gramaticais, continuam a surgir manuscritos nos quais os géneros das frases não concordam, ou o plural dança desarticulado com o singular, ou as frases encadeiam-se umas nas outras com ausência de pontuação (ou, excesso, de, vírgulas,e,pontos;e;vírgulas;), ou, pior dos crimes, «há» confunde-se com «à» e vice-versa. As palavras são o instrumento do autor, os parágrafos os edifícios com que constrói o edifício. Erros todos cometemos, mas quando se é confrontado constantemente com a preposição «á» durante 200 páginas, é natural que a irritação fermente…

Enviem de acordo com o espírito do género. De uma vez por todas, um concurso de literatura fantástica não é um concurso de romance de cordel. Histórias para um prémio de literatura policial é bom que incluam detectives ou polícias ou criminosos ou mortos, à descrição ou às pazadas, mas não que os omitam, nem que os ignorem, nem que se preocupem em explicar porque não se encontram lá. Romance histórico deve estar muito bem demarcado no tempo e no espaço. Se vão participar num género, leiam o género, percebam as regras, as expectativas, e já agora, é bom que gostem do tema, ou que seja excelentes a esconder o desprezo. Tudo o demais é perder oportunidades e tempo – ao autor e aos editores. E se porventura o motivo porque cometem este pecado seja o desespero – enviaram o manuscrito a várias editoras, não receberam resposta e pensam que ao menos o prémio vai obrigar alguém a passar-lhe a vista por cima -, apenas dois comentários: primeiro, se o editor quisesse encontrar livros fora daquele género, não tinha anunciado um prémio dessa natureza; e, segundo, se o manuscrito já deu várias voltas e continua a ser rejeitado, talvez seja a hora de aceitar a possibilidade de que seja efectivamente mau.

Não vendam gato por lebre. Uma história intimista de escolha entre um amor e outro não se torna fantástica só porque ao invés de Lisboa nos encontramos em Xorpetes, por exemplo, ou chamamos Tribo ao país, ou ao invés de presidente temos o Ancião, e Todos os Lugares e Nomes Existem em Iniciais Maiúsculas. Também não vale entregar um ceptro mágico ao protagonista para resolver situações difíceis, mas apenas estas e não outras mais básicas, como por exemplo, perceber onde está (o ceptro nem sequer tem uma função de GPS?). E o uso de um ceptro mágico deve ter um custo associado, como por exemplo, reduzir tempo de vida a quem o usa – céus, até usar um telemóvel gasta bateria. Regra de ouro: se não há motivo válido para que a história seja fantasia, não escrevam fantasia. Escrevam mainstream, policial, thriller. Não é uma desonra.

Sejam constantemente interessantes. Não demorem sete capítulos e trezentas e vinte páginas a chegar à parte entusiasmante. Em particular, se todas essas páginas forem gastas a contar uma história exactamente igual à que se pode encontrar no Tolkien, no Jordan, numa série televisiva, num livro infantil. Uma história que logo à primeira página podemos adivinhar com rigor todos os acontecimentos das centenas seguintes. Não há nada mais sonolento. Perderam vocês dias a labutar entre frases e falas, e o leitor limita-se a passar os olhos pelo texto e avançar rapidamente de página para página para página, até chegar a algum ponto interessante, e nem cinco minutos gasta.

Releiam várias vezes o material. Escreve-se um romance como se devora um elefante (às fatias), e é natural que surjam inconsistências e distracções. Por isso, é necessário reler, e reler com atenção, o que implica deixar o livro assentar durante semanas ou meses e voltar a ele com novos olhos. Assim se percebe que o personagem é António no capítulo três e Alberto no sete. Que a Maria se torna em Manuel sem alteração corporal (coisas que acontecem...). Que a paz dura há cinquenta, trinta, vinte e sete e seiscentos anos (a paz é volátil, pois então). Assim se evita situações embaraçosas de ter uma espécie alienígena que começa por ser descrita como reclusa e ameaçadora para qualquer ser humano, para logo se comentar que afinal tinha uma fisionomia débil e diminuta, e revelar-se logo a seguir que era perseguida pelos caçadores das aldeias - tudo isto na mesma página. Por favor, decidam-se...

[Link Permanente

22 Outubro 2008

Fica Aqui um Pequeno Vídeo promocional de Brandon Sanderson, o jovem autor escolhido para terminar a saga da Roda do Tempo (em publicação pela Bertrand) aquando do falecimento prematuro de Robert Jordan. Creio que a reacção mais relevante a retirar dos comentários será: em que medida é que se trata de um enredo original e inovador aquele no qual o senhor do mal e a nobreza conseguem impedir o ataque de um punhado de camponeses? Nenhum destes autores pegou num livro de história? Não vêem as notícias? Céus, em que estado se encontra a fantasia épica!...

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal