Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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25 Dezembro 2008

Um Dia de Natal à Moda da Boa e Velha FC, no qual se recorda um clássico e uma história que se tornará num clássico. «A Estrela», já publicada em português numa das colectâneas de Arthur C. Clarke editadas entre nós (possivelmente uma das da Argonauta, se a memória não me falha), é um conto pungente e racional sobre a estrela de Belém e que implicações teria em termos cósmicos (e morais, a bem ver), e uma das narrativas mais conhecidas do autor britânico recentemente falecido. Num registo oposto, mais duro e mordaz, encontra-se o já famoso «Noite de Paz» de João Barreiros, onde nos deparamos com um Pai Natal muito diferente do habitual... Infelizmente não consegui encontrar nenhuma cópia do texto online em português, mas como não queria deixar passar o destaque, fica aqui o link para a versão internacional do Infinity Plus.

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24 Dezembro 2008

Pulp no Natal. Feliz Época Festiva, pessoal de todas as crenças e descrenças! Obrigado por seguirem este canal de texto. Espero que continuem por cá.

James sabia que quando abrisse a porta, o pequeno Tim correria ao seu encontro, anunciando a chegada do homem da casa, contente e feliz como sempre pelo seu retorno do seu dia de trabalho, ainda que a perna esquerda defeituosa lhe atrassasse o entusiasmo e dificultasse os movimentos. «Devias livrar-te dele», dizia-lhe a nova esposa, mas James não seria capaz de entregar a outros aquele petiz a que já se habituara desde o dia em que o tinha encontrado perdido no meio do glaciar de metano, decerto abandonado por outro dono.

Oxalá tivesse melhores notícias para a família. Mas era a noite de Natal e vinha de mãos a abanar.

- Pai! Pai! - os gritos ecoaram pela casa logo que abriu o compartimento estanque, entrando no habitáculo diminuto nas roupas que costumava envergar sob o fato de vácuo. Os gémeos galgaram o progresso do autómato coxo e saltaram para os braços de James.

Não pensava que ainda estivessem acordados. Como tinham crescido desde a última vez que voltara para casa! Cresciam ao ritmo dos dias da Terra, da sua herança genética, completamente alienígenas ao progresso do mundo em que habitavam. Mas que criança, pensou ele, não era alienígena em qualquer mundo governado e ditado por adultos?

- Rapazes, rapazes, acalmem-se - pousou-os no chão, afagou-lhes o cabelo, deu uma pancadinha no pequeno Tim, e viu-os afastarem-se, aos pulos na baixa gravidade, ressaltando de parede em parede, de volta à sala.

- Estou a ver que já se ambientaram... - comentou de passagem a Laura, que o recebia com a frieza do costume. O beijo foi casto, quase como se fossem irmãos.

- Chegas tarde - comentou ela. - E de mãos vazias.

- Houve um problema com a aterragem do Solaris, trinta tripulantes...

- Ouvi dizer - encolheu os ombros. - Aos menos estás presente para as famílias dos outros.

Ele não respondeu. Não iria arranjar discussões naquela noite.

- Os miudos estão à espera do Pai Natal? Tive problemas com os presentes...

- O pequeno Tim vai ser o nosso Pai Natal este ano. As prendas vêm da vizinhança... A ti cabe-te a honra de armares a árvore.

- Temos uma árvore?

- Temos a antena avariada da comunidade. Basta-lhe afixar varetas verdes. Todos os miúdos da zona contribuiram.

James olhou para trás, para o ecrã que mostrava a paisagem. De facto, via-se a estrutura da antena, a pouca distância, e um monte de galhos pintados, de metal, a brilhar na luz reflectida de Saturno.

- Tenho de voltar lá fora?... Vou ser eu a pendurar aquilo?

- Fizémos uma votação - sorriu, finalmente, um sorriso frio como o metano que cobria aquela terra. - E tu ganhaste.

 

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