03 Fevereiro 2009
Não Se Pode Dizer Que A Associação seja imediata. Jane Austen e zombies?!Calibã poderia ser um zombie e caçar miolos para o mestre Prospero. Talvez Kurtz se tivesse refugiado nas profundezas do Congo para fugir a hordes de mortos-vivos (dando um novo significado a «o horror, o horror!»). E muito provavelmente um confronto entre Aquiles e aqueles seres cobertos por sangue pisado e carne putrefacta não daria muito trabalho ao guerreiro grego.
Mas pensar em Sr. Darcy e a menina Elizabeth a braços com hordas de zombies esfomeados?!
Aparentemente, é possível colaborar-se post-mortem. Sem a autorização da parte do «mortem», diga-se de passagem. Para esta mistura quase profana: Orgulho e Preconceito e Zombies. «Contém o texto original do exultado romance de Jane Austen com novas cenas de acção zombi de fazer estalar os ossos.» Ou algo parecido.
É tão fácil abraçar-se este tipo de iniciativas como é de vilipendiá-las. Existe o perigo de se reagir por reagir ao se defenderem questões de liberdade ou intocabilidade literária consoante o apreço individual. Mas ambas as atitudes estão erradas. O livro pode mesmo ser mau e isto não passar de um truque barato, ou pode ser mesmo inovador e resultar num estudo meta-literário em como se pode infectar, por assim dizer, o passado com a luz do presente (a minha aposta? Vai ficar a meio, e transformar-se numa oportunidade perdida).
Ainda assim, seria interessante se um editor português tivesse a coragem (loucura?) de o editar. Como reagiria o nosso mercado? A maioria do público leitor ainda é demasiado conservador para isto, ou já nos encontramos de facto numa fase mais receptiva do mercado, que apenas não se revela mais porque as edições nacionais são, regra geral, bem comportadinhas?
Só a capa vale metade da atracção. Espero que a mantenham. E que se avance, talvez, para A Cidade e as Serras e os Licantropos. A miudagem era bem capaz de gostar...