Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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16 Abril 2009

Talvez Não Seja A Mais Interessante entrevista com um dos grão-mestres da Ficção Científica, mas é um testemunho raro - e ao qual possivelmente jamais teríamos acesso se o nosso único divulgador audiovisual fosse a televisão. Isaac Asimov atravessava aqui o período final da sua carreira, no qual tentou unir, com sucesso questionável, a saga da Fundação (quase toda editada pela Livros do Brasil nos anos 90) com a dos investigadores R. Daneel Olivaw e Elijah Baley (apenas editados: As Cavernas de AçoAmeaça dos Robots, também pela Livros do Brasil, nos anos 60).

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14 Abril 2009

E No Princípio Eram Os Clássicos, sem os quais não existe o agora da literatura. Por um lado, Philip K. Dick e Beyond Lies the Wub. Por outro, um tratamento muito diferente: «The Man Who Lost The Sea», talvez a primeira das inúmeras ficções que detalham uma primeira incursão ao planeta vermelho que termina em desastre, aqui trabalhada com uma tal maestria da linguagem e propósito que a tragédia se transforma em arte e não num mero acaso de enredo. Eis a diferença entre literatura popular e literatura. Sturgeon ter-se-ia possivelmente estragado num outro tempo, num outro género. Felizmente, escolheu escrever FC. (E já agora, dêem graças todos os dias pela existência da internet e de tudo vos estar assim facilitado; como todos os que viveram na esquecida Idade Offline, amarguei até, por mera coincidência, encontrar uma cópia em n-ésima mão de uma antiga antologia de contos de FC num alfarrabista, na qual se escondia timidamente este conto). 


Digamos que eras aquele miudo: digamos, no entanto, por fim, que és o homem doente, uma vez que são a mesma pessoa; serás certamente capaz de entender o motivo pelo qual, embora desfeito, em estado de choque, a sofrer de radiação calculada (à partida) radiação computada (à chegada) e radiação além do suportável (prostrado junto aos destroços da Delta), irias recordar o mar. Pois não há lavrador que manuseie a terra com amor e sabedoria, não há poeta que sobre ela cante, não há artista, construtor, engenheiro, nem sequer uma criança em pranto ante a impossível beleza de um campo de narcisos - nenhum destes indivíduos terá uma relação tão íntima com a Terra quanto os que vivem, habitam, respiram e erram nos mares. Eis os pensamentos que te devem ocupar; os pensamentos que te vão distraindo até te sentires menos doente e seres capaz de enfrentar a verdade.

A verdade, então, é que o satélite que ao fundo se desvanece é Fobos, que as pegadas são as tuas, que não há nenhum mar por perto, que te despenhaste e te deixaste matar e em breve estarás morto. A gélida mão que aperta e detém o teu coração não é a da anoxia nem sequer a do medo, mas apenas a da morte. Logo, se houver algo mais importante do que isto, eis chegado o momento de se revelar.

O homem doente encara a sequência das pegadas que ele próprio fez, testemunhas do seu completo isolamento, e os destroços mais ao fundo, que afirmam não haver retorno, e para o branco leste e o difuso oeste e o satélite pálido e tremelucente no alto. O som das ondas ecoa nos ouvidos. Escuta-lhes o pulsar. Ouve o que resta da sua respiração. O frio cinge o abraço e envolve-o para lá da sensação, para lá dos limites.

Fala, então, berra: que em glória levará o triunfo para o outro lado da morte, como se levasse um peixe grande, como se completasse uma tarefa hercúlea, recuperando o equilíbrio no final de um salto ousado e heróico; e como antigamente diria «apanhámos um peixe» não se refere a si mesmo:

«Deus», berra, enquanto morre em Marte, «Deus, conseguimos chegar!»

 

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