Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

16 Maio 2009

O Requiem Pelos Autores Despercebidos deste fim-de-semana é atribuído a R. A. Lafferty, autor norte-americano já falecido que poucos (honrosamente) conhecem. Qual segredo bem conservado (mais bem conservado que o próprio Segredo, imagine-se), o prazer da sua descoberta fica na memória. Embora não seja fácil a leitura - muitos dirão que é mais propriamente um autor que só outros autores poderão apreciar devidamente, sendo a sua perspectiva e ironia e erudição de elevado calibre, à semelhança dos (ligeiramente) mais conhecidos Howard Waldrop e Avram Davidson. Como na história pela qual, em meados dos anos 60, antecipou, e satirizou, de forma tão perfeita o mundo globalizado, irrequieto, adolescente deste novo século XXI. Dele, em português, só conhecemos três contos em edições de alfarrabista. Felizmente temos a internet para nos presentar com bibliografia e referências e terminar este requiem com uma nota alegre de um futuro talvez promissor...

[Link Permanente

16 Maio 2009

A Vida Assombrosa (Também Breve) de Oscar Wao (Junot Díaz, Prémio Pulitzer 2008, Porto Editora) melhora progressivamente à medida que nos adentramos na história da família e abandonamos o nerd (inglês para «cromo» na opinião do tradutor) gordo com interesse pela ficção científica aventureira (o puto só gosta de Tolkien e Gordon Dickson e Doc Smith e Moorcock na fase de espadas&feitiçaria, e até ora não emitiu uma única opinião a respeito dos livros mais maduros de Simmons e Benford e Bear e outros tantos que estariam mais próximos da época da sua suposta adolescência), atingindo um ponto particularmente elevado quando descreve a história da mãe de família hispânica numa República Dominicana dos anos cinquenta/sessenta ainda dominada pela bota de Trujillo.

Aos treze anos, a Beli acreditava no amor tal qual uma viúva de setenta anos abandonada pela família, pelo marido, pelos filhos e pela sorte acredita em Deus.

(que não deixa de ser pungente, apesar de, depois de «abandonada pelo marido», o factor «viúva» seja pouco relevante...)

Como a maior parte dos Homúnculos, [Balaguer - ditador que sucedeu a Trujillo numa nova R.D. supostamente democrática, apelidado de Ladrão das Eleições ou Homúnculo] não casou e não deixou herdeiros.

(que produz ecos do nosso homúnculo de trazer por casa que a classe imberbe desta minúscula nação votou como o Maior Português de Sempre)

Dizer à Beli para não fazer gala daquelas curvas [ela que acabara de despontar gloriosamente para a adolescência] teria sido tal qual pedir àquele miúdo gordo, perseguido, para não fazer uso das suas recentemente descobertas capacidades de mutação. Com um poder maior chega uma maior responsabilidade... tretas. A nossa rapariga correu para o futuro que o seu novo corpo representava e nem olhou para trás.

(o que é uma forma interessante de salpicar um texto corriqueiro sobre o quotidiano com elementos e referências do género fantástico e dar-lhe um sabor inovador - suficientemente inovador, aliás, para conquistar um Pulitzer.)

Relativamente à tradução (de Victor Cabral), como se pode apreciar nos exemplos acima, produz uma sensação semelhante a ouvir uma peça executada com profissionalismo (embora com modesta paixão) num piano ligeiramente desafinado: ao nos deixarmos embalar pela música e pelo ritmo, surge aquela maldita tecla esganiçada de um termo ou expressão desnecessariamente mal traduzidos que nos faz saltar na cadeira...

Uma recomendação para os últimos dias de Feira do Livro.

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal