26 Setembro 2009
Nestes Tempos Que Nos Querem Fazer Crer são de Bolaño, eis um movimento que passará certamente ao lado de muitos leitores, como bem diz a Safaa. Como alguns, soçobrei ao calhamaço da versão inglesa muito antes da edição da Quetzal, mas repousa algures na minha biblioteca, à espera, enquanto lhe passaram à frente outros tijolos, como Drood e O Nome do Vento. De todos os comentários lidos (e este, de Jonatham Lethem, que como bom ex-autor de FC, não resiste a fazer comparações com os grandes do nosso género), o do David Soares será sem dúvida o mais provocatório: «(...) acho fantástico que livros como o "2666" sejam publicados nestes tempos do sintético e do instantâneo. Talvez uma forma de influenciar as pessoas a lê-los seja dizer-lhes que são anuários da Twitter: assim, se elas observarem os milhares de páginas como sendo uma sucessão de vários "quanta" de 140 caracteres ainda serão capazes de se esforçar e retirar algum prazer do acto da leitura.» Resta-nos a consolação de que, apesar de o impacto ecológico desta obra se poder comparar ao do último Dan Brown, estamos a sacrificar árvores por algo melhor.(Este tencionava ser um post inspirado sobre os poetas da auto-destruição e como são patéticos, ao descobrir que a doença hepática que vitimou o autor se deveu ao consumo da heroína. Percebem, se efectivamente os marginais, os pobres, os assolados pelo mundo serão os nossos melhores comentadores, se de facto é preciso sair da sociedade para poder tecer considerações sobre a natureza desta, ou se esta visão poética é na sua essência ridícula, pois a exclusão é feita e imposta pelo próprio, ninguém o afasta, ninguém o condena, e o que pareceria poesia é na verdade cobardia, fracasso e fraqueza. E se nesta óptima, Bolaño merecerá a conotação de grande autor quando parecia ser uma pessoa tão pequena. Era para ser um post destes, mas depois descobri que talvez houvesse dúvidas sobre o uso da heroína, que a doença tivesse causas naturais, e a argumentação retraiu-se, aguardando outra ocasião. Quem sabe, talvez um dia escreva um post sobre o Jorge Palma.)