Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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14 Novembro 2009

Nestes Tempos De Reprodução do mito do vampiro (houvesse mais reinvenção e menos reprodução e encontraríamos outras pessoas a bordo) é saudável encontrar quem procure outras temáticas literárias para apreciar à luz do modernismo. Este Alice, cuja fonte de inspiração não é necessário explicar, em formato mini-série do canal SyFy a estrear em inícios de Dezembro, tem o potencial para constituir uma grande história, se os criadores não efectuarem demasiados compromissos com as «sensibilidades» do público.

Para mim, a melhor reinvenção da Alice continua a ser Dreamchild, o filme baseado na peça original de Dennis Potter, na qual uma Alice idosa se questiona sobre as suas memórias de Lewis Carroll e dos acontecimentos da sua infância. O texto é fabuloso e os episódios de flashback lançam a dúvida possível sobre a integridade moral do reverendo escritor e a ambiguidade que subsistiu na memória da rapariga. Visualmente é um filme datado (1985) e o trailer não lhe faz jus, embora os bonecos continuem a ser perturbantes.

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14 Novembro 2009

O Interesse Do Projecto brasileiro 2012-Onda Zero será inevitalmente por este representar a primeira tentativa de criar um projecto de ficção cinematográfica na web em língua portuguesa na área do fantástico (e a bem ver, de outras áreas).

Ser-se o primeiro implica uma responsabilidade acrescida - sem referências, sem modos de comparação, aceitando a liberdade e o peso inerente a poder escolher-se qualquer dos caminhos disponíveis, embora a maioria sejam errados. Ou melhor dizendo: implicaria essa responsabilidade, se não houvessem moldes estrangeiros a seguir, que variam entre o excelente e o medíocre, e cujo estudo ajuda a perceber que escolhas resultam melhor e quais estragam o propósito. Seguir o exemplo dos outros é uma inevitabilidade humana e que constantemente nos condena (enquanto praticantes locais de um género de apetência internacional) a sermos, nem originais nem isentos na nossa abordagem. O que igual a afirmar que o fantástico português, quando acontece, apenas se distingue pelo factor linguístico e não pelos temas, peculiaridades, estilos nem preocupações da própria cultura. Mas aqui, nada de novo.

Isto está bem patente no primeiro episódio desta série - e por todos os motivos errados. Os sete minutos de captação da audiência perdem-se num rompimento amoroso que não deixa nada à imaginação, numa ausência de definição dos personagens (o JP é um tipo que acaba com a namorada - e daí? Sabe-se porquê? Alguém se interessa?) e de conflito de qualquer espécie. Sombras, luzes que piscam a sugerir uma eminência de perigo e depois muita correria desapaixonada.

Não questionamos o amadorismo da produção, pois isso entende-se e desculpa-se, trazendo inclusive um ambiente de autenticidade ao resultado. O que se questiona e se critica abertamente é a absoluta falta de ambição - ambição a nível narrativo, compensando a ausência de efeitos com diálogos inteligentes; ambição a nível de história, definindo os personagens e estabelecendo conflitos dramáticos para prender os espectadores; e ambição a nível visual, pois além das duas ideias divertidas do primeiro episódio (descobrir quem está verdadeiramente a romper com quem, e as luzes intermitentes que representam a entrada do elemento fantástico) nada mais acontece. 

É possível que próximos episódios amadureçam a abordagem, mas para já ficaram sete minutos de filme perdidos (além de dois teasers perfeitamente banais). Por vezes, é preciso efectuar algumas pesquisas, apreciar os exemplos dos outros, perceber o que resulta e o que não resulta. Uma mera pesquisa no Google levou-me ao projecto Aidan 5. Eis um conceito bastante simples, abertamente amador, de um detective cujos clones andam a ser assassinados um por um. Esquecendo o grafismo visual (pois depende do orçamento disponível e poderia ser substituido por cenários naturais), a força do episódio assenta apenas no diálogo e na existência de um enredo (algo que não depende do orçamento, mas de criatividade e competência dos criadores, talvez os recursos mais difíceis de obter).

Subjacente a este tipo de projectos está normalmente uma incapacidade em procurar e aceitar críticas - em particular, as negativas. Ignoro se foi este o caso, mas é uma reacção demasiado comum. Não levar a peito quando vos mostram que o que seguram entre mãos é um monte de bosta quente e fumegante. Quem, numa situação normal, guardaria a bosta no bolso e se afastaria com o orgulho ferido de uma donzela repudiada? A atitude inteligente a tomar é pegar-lhe, sim, mas para enterrá-la no solo e servir de adubo a algo realmente apetecível.

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