Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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23 Agosto 2010

Uma Das Melhores Histórias do ano. Notem como a estrutura em actos, e a abordagem distanciada do narrador ao início (como se dissesse ao leitor, «considerem a seguinte hipótese»), contribuem para nos aproximar da situação apresentada, e efectivamente ponderá-la enquanto cenário social. É sempre difícil encontrar o devido equilíbrio quando se escreve sobre o abuso físico e social das crianças - quase sem se aperceber, o autor pode incluir uma frase ou uma imagem chocante capaz de induzir ao repúdio imediato ou à lágrimazinha pungente, estragando o efeito do todo. A criança deve ser entendida, para efeitos literários, como um ser integral, com ideias e aspirações e hábitos e sentimentos, e não projecto em gestação de um futuro adulto. O que a história torna convincente, de uma forma inovadora, é encarar a criança como mais um recurso para uso social por que, para todos os efeitos, os verdadeiros senhores do mundo nunca chegaram a nascer. O estádio da criança, os passos do crescimento, são-lhe então alienígenas, e não têm lugar na definição vigente de moralidade.

Uma nota final sobre o conto: decorre num daqueles futuros, tão próprios da década de 2000, em que a humanidade se instrumentalizou a si mesma, de preferência pelo recurso à engenharia genética; os indivíduos são apresentados com capacidades físicas e cognitivas ampliadas e potenciadas para atingir níveis que não seriam alcançados pela mera evolução natural (lembre-se que a evolução está condicionada pelas exigências do meio ambiente e não pela vontade humana), existem várias facções/sub-espécies de seres humanos, e estão normalmente subordinados a uma consciência colectiva semelhante à internet. Aparte o facto de já ter escrito sobre este tipo de futuro, há um ponto em que, até certa medida, se tornam pouco convincentes: quando se pressupõe que a nova Humanidade requer concepção e parto assistido por tecnologia para vingar. Ora, se a Humanidade chegou ao ponto em que se encontra, é precisamente por que a reprodução é um mecanismo totalmente autónomo da vontade consciente - um mecanismo complexo mas relativamente fiável, pois acerta mais vezes do que falha, e que não requer a assistência de tecnologia externa à do próprio corpo para funcionar. Tão condicionados estamos pela insistência da reprodução que a única etapa que depende da nossa vontade consciente - a cópula - é algo a que dedicamos grande atenção durante as nossas vidas, que a nível individual quer colectivo. Interromper este processo e fazê-lo depender de tecnologia é, a meu ver, um passo para a extinção. A tecnologia humana é frágil, de vida curta e requer permanente assistência para funcionar - e quanto mais complexa ou delicada a tarefa, maior a probabilidade de erro. Apresentar um futuro em que a reprodução dependa, não apenas de um homem, de uma mulher e de quinze minutos, mas de uma equipa de técnicos e de maquinaria, e tentar torná-la sustentável, é, a meu ver, um futuro mal explicado, incompleto ou tendencioso.

Ainda assim, que esta perspectiva não vos estrague a leitura do excelente «Arvies».

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22 Agosto 2010

Eis Quando Se Sabe ter obtido o estatuto de «autor de culto»... O único problema neste vídeo é que o bom do Ray não é, nem nunca foi, um autor de genuína FC, mas não deixemos pormenores estragar a festa.

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