Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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07 Outubro 2010

Como Nos Viam: na introdução a The Best From The Rest of the World: European Science Fiction, edição da Doubleday de 1976, o organizador Donald A. Wollheim, procurando traçar um breve e (assumidamente) pouco informado percurso da evolução da Ficção Científica na Europa Ocidental durante o século XX, consegue, apesar das dificuldades, identificar e comparar os autores e tendências da França, Itália, Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda, Espanha e inclusive diferenciar as duas Bélgicas (a flamenga e a francesa) - apresentando, no geral, uma fotografia positiva, entre vontade e dinamismo.

Depois chega a vez de Portugal:

Of Portugal I can say nothing. I do know that translations appear regularly in Portuguese, but it has always been my impression that they emanate mainly from Brazil, and it may be that Portugal is little more than an outlet for its giant South American offspring's productions.

Palavras para quê?

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23 Setembro 2010

Sic Transit Gloria Mundi. Ou: passados vinte anos. Vinte anos. Que número tão redondo e insolente. E passou-se em Setembro, o mais arrogante dos meses. Ali, ao lado da seguradora (Bonança? Império? Foi antes do Tempo das Fusões, essa mítica era da qual pouco de fala nas obras de fantasia). Um lançamento discreto, mas com tantos autores que se poderia hoje comparar com aqueles concursos de vanity press que publicam os 1000 melhores contos de entre os 1001 participantes. Aqui também havia vanity, e em fartura, mas creio que se pode dizer saudável e merecida - havia, afinal, um critério de selecção que procurava alguma excelência literária, e concordando-se ou não com ele, nem o crivo era baixo nem todos o passavam.

Como as mencionadas iniciativas, a distribuição foi reduzida, não criou qualquer impacto, ninguém procura o livro em alfarrabistas, não aparece nos saldos das Feiras do Livro, e rapidamente desapareceu de memória. Ao contrário delas, ajudou a cimentar um espírito de comunidade, que tanto mais forte era quanto escassas e inesperadas as oportunidades de convivio. Se as ferramentas sociais da internet nos trouxeram o diálogo e a proximidade, também nos negaram o silêncio e a ausência - factores indispensáveis para podermos compenetrar-nos do que realmente tem valor na nossa vida.

O livro em questão chamava-se Antologia DN Jovem. Um livro gordo, de capa dura, da Editorial Notícias, que recolhia uma selecção generosa das contribuições do suplemento do Diário de Notícias ao longo de quase dez anos (o suplemento teve início de 1983). O organizador, Manuel Dias, também mentor da iniciativa, teria consciência que só os livros são eternos - quem mais consutará as edições originais do matutino em que saiam os nossos textos? Quis fazer dali uma obra de testemunho, e conseguiu. O livro tem qualidade, bom papel, bem organizado, paginado e impresso a preceito. Revisto decentemente.

Tendo iniciado a colaboração meros dois anos antes, entrei quase de fininho, e, devo dizê-lo, não com um dos textos que mais aprecie - estes viriam depois, a par da publicação do Futuro à Janela e da GalxMente. O Manuel Dias considerou que eu devia ser representado pela minha Ficção Científica, uma vez que isso me distinguia. Incluiu o conto «As Aventuras de Leia e Herbi no Desumano Mundo dos Humanos». Que não era um título da minha lavra. Que jamais seria um título de que me orgulhasse. A minha submissão inicial tinha a designação, pensava eu, mais poética de «As Águas Amargas do Desespero» (eis o angst juvenil ali em toda a sua pujança), uma peça em três actos sobre a injustiça de um pogrom anti-robôs. Era demasiado grande para o suplemento, e o Manuel Dias, tendo-o apreciado, preferiu retirar o primeiro acto, o mais fraco, acrescentar uma introdução justificativa e de enquadramento, e manter o segundo e terceiro actos inalterados. Numa correcta atitude de editor, alterou o título, pois já não se tratava da obra inicialmente submetida. Infelizmente não me perguntou a opinião, mas na verdade não faz mal, nunca me importei verdadeiramente. Pelo contrário. Conhecia os queixumes exasperados dos autores estrangeiros sobre os editores que lhes mudavam titulos e alteravam passagens - exemplo do Horace Gold. Ao passar pela mesma situação, ainda que irrisória, ao ter uma história semelhante para contar, ajudou a sentir-me autor.

Acompanham-me muitos outros colegas, neste livro, e todos melhores do que eu. Alguns que permaneceram (Joaquim Cardoso Dias, Venda, Agualusa, Direitinho), outros que andam um pouco calados. Merecem um comentário mais profundo do que sou capaz de fazer nesta nota apressada.

De destacar, no entanto, a outra colaboração de Ficção Científica, que só vim a descobrir neste livro e a encontrar nessa data do lançamento: o Ricardo Loureiro. Hoje em dia ajuda a dinamizar os fóruns sobre o género e a divulgar bons livros. Também já foi editor do Hiperdrivezine e da Nova, revistas literárias nas quais se estreou, entre outros, o Telmo Marçal, recentemente publicado em livro. Mas então era o meu compadre na ficção. Nos tempos em que era difícil e inglório escrever neste género, e as editoras, ao contrário de hoje, nos franziam o nariz ante o fedor de tal categoria.

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