Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

14 Março 2011

Tem Um Encanto Tão Irresistível quanto a sensação de oportunidade perdida, o discreto Mulher e Arma com Guitarra Espanhola. Foi esta a minha primeira exposição à escrita de McShade – um Machado mal disfarçado, de chapéu inclinado e gabardina, à Bogart, mas ostentando uma expressão divertida e acolhedora, como quem sabe que a vida é uma brincadeira e não passamos de crianças com rugas. «O género policial pede uma nova fonte: a grande realidade geral, que nada recusa, nem mesmo a fábula», diz o editor Dinis do autor Dennis. Reza o povo que os autores são os piores editores de si mesmos, e este caso não é excepção. Ao apresentar-se, Machado desculpa McShade, que por sua vez justifica a escolha de Machado. Tudo é uma grande brincadeira, pois a verdade da vida são as rugas. Maynard é o nome da voz que percorre as divisões deste livro – divisões de uma casa que está em festa, em que nada é totalmente sério, em que abunda bebida e boa disposição e ocasionais figurinos. Existe Maynard, já o dissemos, um homem supostamente implacável mas que não vemos fazer mal a uma mosca, nem às metafóricas; um homem de um requinte cultural como não acreditaríamos encontrar nas ruas de Nova Iorque, em quem enfrenta os durões que aguardam debaixo de chuva com um colt na algibeira. Eis o detective poeta, não o Marlowe das ruas e das noites, mas o Maynard das galerias de arte e do café As Vinhas da Ira, ao qual muitas páginas são dedicadas e cujos clientes, entre gangsters e acompanhantes, se fazem apresentar com o nome de autores famosos e Baudelaire discursa sobre as flores do mal. Existe efectivamente uma mulher, ou várias, todas educadas e bem tratadas; existe uma arma que nunca dispara; existe uma guitarra tocada num disco da preferência do perigoso chefe, que se derrete pela música espanhola. Saltamos de divisão em divisão, conversando com os participantes da festa, e, inebriados, nem sabemos bem o que estamos à procura. Ocasionalmente, despertamos do torpor e olhamos em volta, a perguntar direcções. Avançou-se? Estou a andar num sentido? É quando a prosa nos aborda.

Os lábios de Olga tocaram suavemente na minha sobrancelha esquerda, e aquele movimento oferecia sempre a sensação de barco que navega. E eu era água.

E, sorrindo, descontraímos. Não há perigo. Estamos em boas mãos.

É impossível resistir ao encanto deste anfitrião. É complicado apontar-lhe falhas, pois ele esforça-se por nos acolher e demonstrar que o mundo também pertence às almas sensíveis e à Primavera. Quem consegue discordar? E contudo, contudo: no final, aquela sensação de pontas atadas à pressa, de respostas que se apresentam a perguntas que não nos inquietavam, de um fechar de embrulho amarrotado. Ou talvez o presente seja outro.

Nada poderia ser mais contrário à tradição do noir em que supostamente o editor Machado pretende inserir McShade, e nada poderia ter sido mais revolucionário. Se ao menos a seriedade emergisse de vez em quando. Se esta poesia fosse adornada de uma história, de um verdadeiro enredo, de uma intenção de retrato, e no retrato o mundo, e no mundo a eternidade do legado humano. Se Chandler tivesse distraido o ubíquo Vian, de modo que Hammett pudesse ter uma conversinha a sós com Maynard... estaríamos na presença de uma obra ímpar na pulp fiction internacional – não só na portuguesa. Única em termos de sensibilidade e estilo. Um grande e inesperado momento da literatura nacional, teria este sido.

A música toca, mas ninguém dança. A alvorada encerra, como é sua natureza, a última página das festas, e voltamos para casa com a mesma bagagem que trouxemos. Nada ganho, nada perdido, excepto momentos que ficarão na memória e uma companhia temporária de bebida e tabaco.

No fim, as frases, estas maravilhosas frases a que é impossível resistir.

Saí como quem sai de um conto de ficção científica: eram aquelas malditas portas mecânicas.

Lemo-as e sabemos: estamos em casa.

[Link Permanente

05 Março 2011

Preferia Interromper O Silêncio com artigos de opinião ou notícias mais interessantes do que uma auto-promoção, mas este agradecimento já tardava: a Afonso Luiz Pereira, pelo destaque (e re-publicação) de dois dos meus textos: A Importância do Conto, introdução do Futuro à Janela, e A Vida da Minha História, inédito na Web, que em Portugal constou da antologia Ficções Científicas e Fantásticas.

O maior destaque vai, contudo, para o sítio Contos Fantásticos, cuja proposta editorial não podia ser mais imprescindível: a divulgação de textos em língua portuguesa relacionados com o Fantástico, a Ficção Científica, o Terror e a Fantasia. Com particular, mas não exclusivo, carinho por quem enceta os primeiros passos e agradece reconhecimento e crítica pelos pares, este sítio Web reconhece que, mais importante do que falar sobre FC, é ler e escrever o género, e enriquecer a massa crítica literária. Com um visual muito apelativo e uma selecção variada, é também um veículo de divulgação dos autores brasileiros - cuja obra, de dífícil acesso aquém-mar, nem sempre se encontra disponível online.

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal