Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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18 Junho 2011

Como Qualquer Propriedade Quântica que se preze, o tempo é igualmente absoluto e relativo. Parece que, ontem, 17 de Junho, se celebraram os vinte anos da tarde em que recebi o telefonema do Belmiro Guimarães a notificar-me que tinha ganho o prémio Caminho de Ficção Cientifica desse ano. O primeiro livro publicado! Nesses tempos de edição restritiva, poucas editoras, nenhuma aposta nos livros portugueses do género e absoluta falta de divulgação que não fosse custeada em anúncios nos meios de comunicação, era um passo imprescindível para uma contribuição mais efectiva para o género. Quem vive hoje no jardim actual tem dificuldade em perceber como nos movíamos nesse quintal a que então chamávamos jardim. Depois de uma passagem pela existência física, com duas edições distintas (das quais, relembro, só a do Círculo de Leitores tem o texto correcto e integral, sem as gralhas da edição da Caminho), decidi há uns anos dar-lhe fôlego virtual, para o socorrer da obscuridade e por que sim, por que surgiram efectivamente estas pequenas janelas electrónicas de bolso e de bolsa que nos dão passagem para um universo paralelo ao nosso, feito apenas de informação, um universo da mente, uma tecnofantasia.

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05 Junho 2011

Por Muito Que Gostasse, ainda não consigo ver, no final do dia de hoje, o sinal da entrada deste país no futuro. Não me refiro aos obstáculos económicos da presente conjuntura, que, qual doença prolongada, nos custará muito a sarar, mas a uma mudança radical de atitude perante o mundo da actualidade e do nosso contributo nele. Não vejo ainda este país com coragem para sair de casa e abandonar o ninho. Para tentar voar, arriscando-se a ficar esmagado lá em baixo. A desfazer-se daquele pânico do desamparo, qual virgem ansiosa. A rejeitar por fim a necessidade exagerada de apoio do Estado e de imobilidade profissional. A não precisar de paizinho público nem mãezinha grande-empresa e conseguir subsistir por si mesmo. A cancelar subsídios públicos a sectores irrelevantes, orientando-os, sim, para a investigação científica. A premiar fiscalmente a pequena iniciativa privada, a empresa familiar, dinamizando o auto-emprego e incentivando a criatividade individual. A considerar a privatização do funcionalismo público como solução mais original e humana que a alternativa injusta do mero despedimento. A deixar, por fim, de ser medricas. Eis um país que se emancipou em 1974 mas que permaneceu na casa dos pais, qual Cinderela despeitada que, agora que a madrinha malvada tinha sido corrida a pontapé, exigia o tratamento condigno a que fora negada. O Estado que pague a renda. O Estado que nos faça o jantar. Se o 25 de Abril ofereceu numa mão a liberdade, na outra deixou-nos este aborto de legado - um legado de proteccionismo que já vinha do passado, embora com destinatários diferentes. Quarenta anos depois, apresentam-nos a conta.

A pior situação é a dos precários. Não deve ser nada fácil ser-se jovem e cair num mercado de trabalho avariado. Em particular por que não lhes tinha sido prometido isso. O emprego é como o casamento, filho, é para toda a vida - ter-lhes-à sido dito, como foi dito à minha geração. O que para nós já não foi bem verdade, para a nova geração é um engano desmesurado. Assim temos vivido neste mundo perfeito, em que o maná escorre dos céus e amanhã será como hoje. Mais do que ninguém, a nova geração constituirá a mudança - por que se estão a ver forçados a abrir os olhos e nadar -, e passarão a mensagem correcta aos filhos. O emprego é uma situação na tua vida. Tu decides a tua carreira. Tu lutas pelas oportunidades. E se não conseguires, é por que não querias com a força suficiente.

A liberdade não exige apenas responsabilidade - exige actuação. Actuação individual. Há quarenta anos abrimos a porta da gaiola e degolámos o dono. Mas depois percebemos que o mundo lá fora não era fácil de dominar. E depois havia aqueles senhores a quererem encher-nos o bebedouro e injectar-nos vitaminas na forma de acordos de comércio e empréstimos internacionais. Que necessidade tínhamos de sair para o mundo e arriscar-nos a partir uma asa? Que vontade havia de sair da gaiola?

Está longe de ser uma postura dogmática, e muito menos partidária - apenas o pragmatismo de olhar para os outros países. Olhar, e perceber que também falharam onde nós falhámos. Estamos na arca deste mundo, desta sociedade tecnocrática que construimos, juntos.

Claro que o verdadeiro remédio será eliminar o dinheiro e a ilusão da economia e o fascínio do instante, e construir uma sociedade a longo prazo com uma gestão racional dos recursos, apoiada nas teorias científicas e comportamentais sobre o verdadeiro significado da felicidade - lá chegaremos quando as Inteligências Artificiais começarem a dominar tudo isto.

Mas, como dizia, o dia de hoje pouco ou nada representa. Esta não foi a vontade que determinou a mudança partidária. Ninguém se preocupa com o futuro, tal como ninguém lhe apetece ler ficção científica. A mudança virá com o empurrão da necessidade imperiosa, e essa será independente da liderança do momento. Vai custar mais, vai obrigar a sacrifícios, vamos ter de viver debaixo da ponte, ao relento. No entanto, como bons portugueses, vamos desenrascar-nos. Pois se já o fazemos há quase mil anos...

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