Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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21 Fevereiro 2012

A Ficção Cientifica Não Adivinha o futuro e os seus autores não são profetas. Quando os eventos do presente incorporam elementos de histórias famosas do género, não estamos sequer perante um fenómeno de estranha sincronicidade. A explicação é muito mais simples.

Acontece que a Realidade também lê (e aparentemente aprecia) Ficção Científica.

Se não fosse assim, jamais conseguiria explicar Duna como a história de uma família de origem grega (Atreides) a lutar pela independência económica/territorial (a exploração da especiaria mélange) que se encontra ameaçada por uma coligação de forças externas (Casa Harkonnen/Corte Imperial).

Ideias a reter em mente para quando nos encontrarmos para debate...

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19 Fevereiro 2012

Uma Afirmação Desencadeia uma avalanche (bem, é uma avalanche de meia dúzia de comentários, mas nestes tempos de crise, uma pessoa veste-se com o que há). Admito que a afirmação indicada levar a uma leitura enviesada, mas se a preocupação fosse justificar um conhecimento bibliográfico do meio teria incluido uma fotografia das minhas estantes. Sim, há os indies, sim, a DC e a Marvel começaram a abrir mercados paralelos quando havia dinheiro, sim, existiram o Watchmen e o Dark Night Returns, sim, o Grant Morrison escreveu o Supergods, sim, há temas adultos a serem debatidos nas séries de super-heróis (e a níveis absurdos), etc, etc, etc.

Isso não retira determinação ao que afirmei. Os artigos de excepção que são referidos nos comentários apenas confirmam a regra de que o mercado de banda desenhada é, nos Estados Unidos, dominado por narrativas que perpetuam o mito do ser sobrenatural ou com poderes extraordinários, como se pode observar nesta listagem de vendas do ano de 2011. O grosso consumido não se encontra nos trade paperbacks, onde residem as mais sofisticadas graphic novels, mas nos fascículos de edição periódica e contínua - e o que existe nestes em abundância? O mesmo de sempre: Batman, Superhomem, Homem de Ferro, Liga de Justiça da América. Etc, etc. etc. É como se nunca ter saído dos anos 80, época em que os comecei a ler.

Quem acompanhou a Crise nas Infinitas Terras e o fim do multiverso DC, que nem por isso trouxe grande estabilidade às narrativas subsequentes (embora também admita que sempre fui Marvel-biased), e agora assiste, muito, muito de longe, ao debate dos New 52, quem já viu o Superhomem morrer (com direito a capa no Público - grande jornal!) e obviamente ressuscitar, quem viu um Homem-Aranha debater-se com a sua sombra e um Hulk que retinha a inteligência e sabia falar, interroga-se - espero que com alguma justiça - se ainda resta, efectivamente, alguma justificação literária no corpo mumificado, zombificado, ressequido dos superheróis de outrora, aos quais são injectadas problemáticas à força para fazer mover membros onde há muito não bate um coração.

Sejamos honestos: a indústria mantém-se por motivos financeiros, ponto. Se retirarmos isso, o que fica? Se os superheróis - a começar pelos grandes, como o Batman - deixarem de dar dinheiro a sério, há justificação literária para continuar a produzi-los, além do ocasional álbum de memórias ou de subversão? Se de repente, e por milagre, perderem a importância e tiverem apenas lugar nas editoras indie, todos os autores que para eles contribuiram irão pegar-lhes? Ou irão procurar personagens, universos próprios, mais íntimos e inovadores?

Não é que esteja a misturar banda desenhada com franchising. Mas na mentalidade do leitor mediano estado-unidense não parece haver qualquer diferença. Entre-se numa livraria de comics em Nova Iorque e pergunte-se pela secção de BD europeia, ou mesmo pela secção britânica, e o resultado é, salvo raras excepções, um olhar vítreo. Aquele género tornou-se redutor, não pelo debate moral, ético e individual inerente ao übermensch (que é complexo e meritório), mas porque o sector editorial norte-americano assim o manteve, para que as gordas vacas pinguem leite até ao final dos tempos. Maltese morreu com Pratt, Tintin com Hergé, e não obstante os esforços de Uderzo, Astérix sem Goscinny nunca mais será o mesmo. Requiescat in pace. O público entende e reconhece. Acabe-se com a parafernália de super-protagonistas do passado, tenha-se a coragem de os deixar partir de vez, e dê-se espaço aos mitos do presente, que muito nos fazem falta. 

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