Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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31 Março 2013

E Passaram-se, tão silenciosamente, dez anos.

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19 Novembro 2012

Há Talvez Um Padrão Migratório nas festividades recorrentes, que fale de ciclos e marés, de estações e retornos. A circularidade está-nos nos ossos, fruto do desenvolvimento e maturidade num planeta de um sistema unisolar cuja órbita regular e previsível (calculável, inclusive) nos encanta com ideais de tradição, permanência e rotina - algo a que o universo é totalmente alheio. Enfiados neste pequeno e frágil oásis, vivemos na ilusão de que o futuro é infinito e o passado se resume a uma lenta caminhada para este presente glorioso. Não foi há muitos séculos que se encarava esta narrativa como uma queda de glória, com pouco ou nenhum pensamento virado para o dia de amanhã: o Renascimento inspirava-se nos modelos clássicos para minimizar todos os feitos culturais da grande noite da Idade Média, que nem foi tão média nem tão escura assim.

Não foi há muito tempo que um evento tão singelo e óbvio como a junção periódica dos amantes do Fantástico para celebrar a inclinação (natural ou anti-natural, decidam por vós) temática colectivamente era um anseio de terras distantes, apenas possível para quem vivesse nas Américas ou entre os Bretões. Ser-se entusiasta português da Ficção Científica (género predominante nos anos 80) era viver-se em isolamento, aparte os grupos de bairro que se fossem juntando para trocar livros. Uma solidão só quebrada pela peregrinação à livraria e ao filme ocasional, acompanhada das respectivas críticas (ainda presentes) nos jornais. Não existia sequer a noção de autor de FC português, antes da aventureira iniciativa da Editorial Caminho ter começado a dar-lhe corpo, identidade e um sopro de vida.

Agora temos tudo isto. Temos autores e entusiastas, grupos e reuniões, debates e opiniões, e regularidade. Regularidade, acima de tudo. Provou-se que é possível fazer - e bem - encontros de Fantástico em português e em Portugal. Respondeu-se à justa crítica do excesso de centralização na capital e repetiu-se no Porto. Desmultiplicou-se em temas e abordagens. E acima de tudo, promoveu-se a inclusividade, o que expôs o panorama fantástico luso como um prisma complexo de intenções diferenciadas - nas quais, é óbvio, não faltarão as confusas ou imberbes - com permanente conluio entre quem se encontra mais no centro do discurso e quem está na periferia. Este efeito conjunto tem ajudado a edificar o que não se conseguiu nas primeiras tentativas da década de 90: uma narrativa do género com evidências de que existe, desenvolve-se, aprende com o passado e quer melhorar. É importante honrar o que se tem, por ser importante e frágil. Não temos assim tanto que nos seja permitido abrir mão. Não há muitos grupos e encontros regulares distribuidos pelo país. Não há muitas editoras dedicadas exclusivamente ao Fantástico. A grande crise que se avizinha - a crise da fé numa semi-imposta irmandade europeia - vai ser particularmente dura para nós, e não me refiro à óbvia questão financeira: há-de ser uma crise de orgulho, auto-confiança e valor intrínseco da nossa cultura. Se sempre abracei a FC, foi por se posicionar numa perspectiva superior à mesquinhez irredutível do presente e conseguir descrever a ondulação das montanhas - olhar para o processo da História e para a imensidão do universo e relativizar a individualidade do minuto no contexto do eterno. Não há motivos para comprometermos isto.

Chegados a este período do ano, algo acontece no mundo do Fantástico na Europa Ocidental, talvez comparável à rentré mainstream. Acontece em Espanha e França e Inglaterra. Acontecerá noutros países, sem dúvida, se me dignar a procurá-los na internet. Na possibilidade de um ano, é entre Setembro e Dezembro que as festividades (literárias) se acumulam. Em Portugal, começámos cedo, desta vez, em finais de Setembro, com a participação portuguesa na EuroSteamCon, o primeiro (pseudo) congresso (pseudo) europeu de vaporpunk - um agradável sucesso de boa disposição e ambiente. Mas é com o aproximar dos finais de Novembro, que dois acontecimentos em sucessão imediata irão marcar o género - o Fórum Fantástico, na sua sétima edição, e o colóquio Mensageiros das Estrelas, na segunda edição. Longe de se esgotarem, complementam-se, pois se o primeiro é informal e sintético, o segundo é académico e discursivo. Nada mal para um país de reduzida produção literária e quase inexistente audio-visual...

Além dos habituais painéis e papers apresentados em cada um dos congressos, uma nota particular o facto de que ambos, pela primeira vez, se fazerem acompanhar por edições próprias, concebidas pelos respectivos organizadores: o primeiro número da revista Trëma, do Rogério Ribeiro e João Campos e a antologia Mensageiros das Estrelas, de Octávio dos Santos, Adelaide Serras e Duarte Patarra. Mais uma prova da maturidade dos eventos e consciência de que a melhor forma de vincar uma mensagem é deixá-la escrita.

Em termos de presenças internacionais, os nomes a reter são Dan Wells (autor de Não Sou um Serial Killer), Jonathan Stroud e Adam Roberts. Wells irá também participar numa sessão da oficina de escrita do Fantástico a inaugurar durante o Fórum. Em termos dos lançamentos que acompanham estes eventos, destaque para o primeiro número da revista Lusitânia, que tem por árdua missão definir/encontrar «uma literatura especulativa genuinamente portuguesa», e para a mega-antologia Lisboa no Ano 2000: Antologia Assombrosa sobre uma Cidade que Nunca Existiu, concebida e organizada por João Barreiros, sobre um Portugal retro-futurista que, com mais ou menos tropeções na História, bem podia ter acontecido... E também se falarão de fantasmas, de heróis de fantasia (haverá outros?), de banda desenhada e animação... Fiquem-se com os programas respectivos e devidas notas para uma melhor informação que estas mínimas palavras.

E apareçam, sobretudo! (Bem, o sobretudo é opcional...)

 

Fórum Fantástico

 

Mensageiros das Estrelas

 

Capa da antologia comemorativa do evento

 

Capa da Trëma

 

Capa da revista Lusitânia

 

Capa da antologia

 

Cartaz da iniciativa Oficina de Escrita Fantástica

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