Conceito de Luís Filipe Silva

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O Futuro à Janela: Estudo da Obra e da Ficção Científica Portuguesa Actual

Miguel Valverde Juncal -  Crítica |  23 Mai 2005

4. O Futuro à Janela: Caracterização Geral

A obra objecto de estudo é uma série de 12 contos e uma pequena introdução na qual o autor realiza uma apaixonada defesa do conto como transmissão do género. Utiliza as palavras do crítico e escritor Gardner Dozois como apresentação da sua introdução. Depois destaca que os traços essenciais que identificam o conto servem de excelente base literária para a criação de relatos de ficção científica. Passa pela história do relato oral ao escrito, pela profissão dos escritores, pela revolucionária chegada da imprenta, pela perda de importância do conto e o seu ressurgimento, etc.

O conto permite ao escritor que certos estilos possam ser experimentados sem se tornarem cansativos e que se construa em torno de uma mensagem ou ideia central muito intensa não sempre compreensível ou que inclusivé pode ser absurda, provocante... O autor também topa problemas como sintetizar um mundo alheio em poucas palavras, descrever o funcionamento de tecnologia mais ou menos desconhecida e outros elementos socio-culturais desse mundo. Luís Filipe Silva crê que a solução está num ponto de vista especializado e estreito e na criação de sociedades com alterações muito básicas. Os contos são então, janelas pelas que espreitamos essa literatura indomável.

Luís Filipe Silva efectivamente vai experimentar nos seus contos essa variação estilística e temática nos seus 12 contos. Mas são 12 contos? Parece que não. O último «relato» («Ala anima») é uma mistura de poesia épica e mini-obra teatral condensada no espaço de um conto. Este não deixa de ser um dos melhores exemplos para demostrar a riqueza estilística desta obra, mas não será o único.

O Futuro à Janela ganhou o prémio de 1991 que a editorial Caminho outorga ao género da ficção científica em português cada ano. Mas, podem considerar-se todos estes contos do género da ficção científica? A resposta depende da perspectiva que se adopte à hora de definir o que é a ficção científica, por essa razão o capítulo dedicado à definição do género. Penso que, desde uma óptica estrita, há contos em que os elementos temáticos e outros recursos próprios dos da ficção científica só servem de marco para desenvolver uma literatura existencial, filosófica ou fantástica (sobretudo em «O Fernando Pessoa Electrónico», «La Nausée II», «Pequenos Prazeres Inconfessáveis», «Série Convergente» e «A Última Tarde»); os restantes, com mais ou menos dúvidas, poderiam considerar-se como relatos de ficção científica («Dois Estranhos, Um Encontro», «Também Há Natal em Ganímedes», «Embaixadores da Boa Vontade ou Contacto!», «O Jogo do Gato e do Rato» ou «Ala Anima», entre outros).

Mas há outro ponto de vista muito próximo ao que estudiosos como Barceló (1990:59) chegam a chamar «ficção científica soft» («suave»), em contraposição à «ficção científica hard» («dura»). E as obras que apresentam dúvidas podem ser explicadas desde esta perspectiva. Este tipo de ficção científica presta atenção aos aspectos psicológicos, sociais, históricos... Ademais, nestes relatos que eu considero duvidosos há um forte experimentalismo temático e uma importância relevante a aspectos estritamente narrativos como a trama («Pequenos Prazeres Inconfessáveis»), a estrutura narrativa («Série convergente»), a caracterização psicológica dos personagens («A Última Tarde»), etc.

Pode-se concluir que todos (ou quase todos) os relatos - e o poema - pertencem à ficção científica, mas na hora de estudar temas e motivos da ficção científica hão quedar-se em evidência as carências que os relatos em questão oferecem com respeito ao género.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Referências e Textos Relacionados

Autor:
Miguel Valverde Juncal

Textos:
Jorge Candeias fala de O Futuro à Janela, de Luís Filipe Silva
La Nausée II

Na Web:
O Futuro à Janela (Mediabooks)