Conceito de Luís Filipe Silva

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A Festa de Baco
Comentários Sobre um Movimento Associativista em Final de Milénio

Luís Filipe Silva -  Crítica |  18 Abr 2006

AS TERTÚLIAS! Peço desculpa, quase me ia esquecendo. As sextas à noite, em que nos reunimos em família. Interessantes e animadas. Uma excelente iniciativa. Recomendo sempre que posso aos amigos, embora eles nunca queiram ir. Devem ser continuadas, reforçadas e cada vez mais animadas. Pronto. Posso ir-me embora?

Mais?

O que vou dizer mais? Que o céu é azul?

Sim, o céu é azul, julgo que estamos a ficar cansados de falar para nós próprios e de rodarmos à mesa, julgo que devíamos escrever as apresentações e editá-las em livro.

Algo menos óbvio? Devia retirar uma brilhante conclusão deste discurso interminável?

Vou ter então de recorrer à FC, e apresentar um presente alternativo.

Nesse presente alternativo, a Simetria estende-se a inúmeras partes do país, ligada a clubes e sócios cujas iniciativas apoia e divulga. Os Segundos Encontros foram um grande sucesso, de tal forma que o financiamento passou a ser privado, e acordou-se um protocolo com uma instituição bancária nacional. A Associação ocupa uma loja térrea numa praceta discreta mas acolhedora, que é frequentada por entusiastas fanáticos, que vão jogar Magic, ver um filme novo ou ler o último livro que entrou na biblioteca. Há sempre fãs e sócios nos espaços de lazer da loja, a discutir e à espera, ansiosos, que surja um dos escritores portugueses. São fãs muito jovens, que se entusiasmam facilmente, mas é agradável sentir tanto interesse e carinho pelas palavras que muito custou aos autores colocar no papel. Sorvem as palavras destes como se fossem ensinamentos. Conhecem bem a FC, pelo que é preciso ter-se muita atenção para não incorrer em erro e provocar discussões. Ante tamanha expectativa, os autores sentem uma responsabilidade adicional sobre as costas. Têm mais cuidado quando escrevem. Escrevem, pois sabem que serão lidos. As paredes da loja onde reside a Simetria estão cobertas de peças de arte feitas pelos fãs: o mapa da Inglaterra alternativa do Tércio, a partitura da sonata de cristal, um gráfico ostentando o ciclo de maturação e reprodução dos vulpis, uma gravura dos samaritanos que habitavam no quarto planeta, a representação da festa dionísica do Palácio dos Prazeres, a família dos Marretas (em bonecos) armada com artilharia pesada, e a capa do último livro da Maria de Céu o terceiro volume da saga dos vampiros.

Esta Simetria arde ainda numa lareira que se vai apagando, nas brasas de carvão que ainda aquecem mas já não cortam o frio da noite… (metáfora pirosa! Vou recomeçar o parágrafo) Nesta realidade em que vivemos, o dono está caído no sofá. A garrafa pende-lhe das mãos. Cheira a vomitado, e saliva escorre-lhe lentamente pelos cantos da boca. Está tão bêbado que não percebe que deixou a porta aberta, e a chuva torrencial entra pela casa dentro, estraga os quadros, mancha as paredes. Dos lábios, sai-lhe uma cantilena. Pelo menos, está contente. Fala à vez, como outrora falou nos jantares. Discute consigo mesmo, embora agora seja mais formal, haja uma secretária a separá-lo dos ouvintes e o jantar já esteja no estômago. Também está mais bem documentado e organizado. Ninguém o ouve, mas está contente. Foi a Aveiro. Publicou uns livros. Falou com malta estrangeira. Aconteceu.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Luís Filipe Silva