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Análise a uma Narrativa de Theodora Goss
Marcas de crítica política em «The Rapid Advance of Sorrow»?

Tiago Gama -  Crítica |  25 Abr 2006

Pretende-se, com este texto, analisar unicamente marcas de crítica política ou com ela relacionadas em detrimento de outros elementos ricos no texto.

Jovem autora húngara, Theodora Goss tem um livro publicado, The Rose in Twelve Petals & Other Stories (Small Beer Press), e para o ano estará disponível um segundo, In the Forest of Forgetting (Prime Books); tem também trabalhos disponíveis online, como é o caso deste, publicado no Fantastic Metropolis. Viu, ainda neste ano, o seu bom trabalho reconhecido com uma nomeação para o World Fantasy Award (na categoria Short Fiction).

Em "The Rapid Advance of Sorrow" a autora entrelaça duas histórias sombrias, num tom calmo e através de um narrador resignado, recordando acontecimentos passados e procurando perpetuar uma sua memória. É mais do que aconselhável uma leitura do conto antes da crítica, para que o primeiro possa ser apreciado da melhor forma.

As duas histórias são analisadas separadamente convergindo na conclusão, em conformidade com o conto.

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Após uma breve descrição, situando o leitor no conto, Theodora Goss introduz Ilona: rapariga do campo recém-chegada a Budapeste. É uma personagem de potencial indiscutível para a autora fazer passar a sua crítica: a sua ânsia de se tornar mais culta, carregando sempre livros consigo («...for reading her textbooks, preparing for her examinations...She persisted, telling me that she had discovered art, that she wanted to become cultured...»), conjuga-se com a sua inocência/inexperiência na vida numa grande cidade, sendo facilmente iludida e «corrompida» pelos vícios e ideias falaciosas aí emboscadas.

Enquanto se parece opôr a sentimentos generalizados «intellectual apathy was in fashion... I berated her for reading her textbooks, preparing for her examinations...», por outro lado já se deixou conquistar por alguns dos vícios acima referidos: «...she would go to cafés, drink espressos, smoke cigarettes...».

A crítica começa a tomar forma pouco depois, ganhando força com a evolução da personagem: «"Communism is irrelevant," she said, lighting a cigarette»; a alteração de Ilona é já patente no seu aspecto físico e a afirmação é peremptória e segura. De seguida defende a criação de um novo manifesto baseado unicamente na estética, deixando de lado o aspecto económico e político, nada semelhante ao antigo.

Convém evocar de novo a condição da personagem. Poder-se-ia admirar a beleza das ideias desta rapariga, na sua vontade de alterar o manifesto comunista tornando-o em algo perfeitamente inofensivo quando aplicado, mas será que isto corresponde à realidade? Parece-me perfeitamente plausível defender que o que ela pensava serem reformulações, não passava de fachada para uma mesma ideia.

De um modo muito simples, o comunismo pressupõe igualdade dos elementos da sociedade e algumas marcas dessa ideia são identificáveis evocando as diferenças entre a Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. Nesta última, sob «supervisão» da URSS, as cidades e vilas têm um aspecto tristonho, com construção uniformizada e de aspecto degradado.

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(c) Autor do Texto, (c) Luís Filipe Silva, 2003/2007. Não é permitida a reprodução não autorizada dos conteúdos.

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Referências e Textos Relacionados

Autor:
Tiago Gama

Na Web:
The Rapid Advance of Sorrow, de Theodora Goss
Site oficial de Theodora Goss