Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

21 Setembro 2008

Nada É Mais Simples que o Conceito do Relógio e nada mais inútil. O relógio não produz, não transforma. Não influencia o tempo, não pode acelerá-lo nem torná-lo mais lento. Não é um metrónomo capaz de impor ritmos. O ritmo encontra-se em quem se deixa medir por ele. Em quem se impõe prazos e pressas. Inclusive não é absoluto. Um segundo é o que convencionámos que fosse. Não uma propriedade imutável do universo. Mesmo o dia é uma circunstância do planeta em que nos encontramos. Um planeta por si nada de especial, astro banal numa imensidão indiferente. O relógio é enganador. Finge saber o que desconhece - a hora, os minutos, os segundos que identificam este momento particular. Na verdade tudo o que sabe dizer-nos é o número de revoluções de cada uma das suas engrenagens desde que alguém lhes deu início. Depende totalmente das condições de arranque. Depende de acção externa verdadeira, de conhecimento preciso. Se este tiver falhado deixa de ser útil. Torna-se atrasado. Engana-nos nas horas. Engana-nos à traição. Ficamos furiosos quando descobrimos. Afinal já não temos meia hora. O relógio atrasado roubou-nos tempo de vida, tornou-nos mais velhos. Não perdoamos facilmente este engano. Mesmo o relógio mais belo do mundo, a engrenagem mais perfeita, esmorece se não conseguir manter o ritmo dos batimentos. Se estiver constantemente a ficar para trás. Encaramos com condescendência e paternalismo. Tão bonito e tão inútil. Como se todos os relógios não fossem inúteis. Como se a hora errada não fosse a mais sincera de todas, a que revela em todo o esplendor a futilidade do relógio. A ilusão do que informa. Como se o relógio tivesse memória. Como se o relógio soubesse de facto quando é dia ou noite. Medimos o tempo como nos medimos a nós próprios, fruto de um acumular de experiências e decisões e momentos. Como uma história lida. Mas o relógio não tem memória. O relógio é circular, sem fim nem começo. Devíamos trocar os relógios por ampulhetas. A ampulheta lembra-se. Guarda o tempo. Deixa o tempo acumular-se dentro de si. Se num plano vazio uma pedrinha tombasse a cada segundo de um céu proverbial, formar-se-ia um monte, uma colina, uma montanha. A montanha daria lugar às serras, aos picos. Eventualmente teríamos a Terra. Mas apenas porque é a Terra que nós vemos. Olhamos para o tempo acumulado como olhamos para nós mesmos, ou talvez o inverso. A ampulheta é mais esperta. A ampulheta sabe que o tempo é finito. É a peça dramática por excelência. O espelho da nossa essência. Cada um de nós com uma quantidade finita de tempo para gastar. Menos um segundo. Menos outro. Cada um de nós ampulheta. Estamos unidos pela memória. Por canções da nossa infância. Por produtos e frases e acontecimentos da mesma geração. Mas não devia ser. O que nos une é o tempo que nos resta. Iguala sexagenários e crianças. Doentes e condenados. Passageiros de avião que cai e vítimas da bomba que explode. A ampulheta a contar. As pedrinhas a cair. A montanha, a serra, a Terra e depois o nada. Que nos conta o relógio? Que nos diz de facto? O relógio inútil, enganador. O que mudaria na tua vida se. A pergunta milionária. Qual a tua decisão? Aquela que só tu podes tomar. Escolhes a ampulheta? Ou preferes o relógio?

[Link Permanente

18 Setembro 2008

O Decano da Ficção Científica Brasileira não se encontra publicado em Portugal (observação corroborada pelo indispensável Bibliowiki). André Carneiro, nascido em 1922 e autor de diversos contos, ensaios e romances do género, bem como poesia e outros géneros, teve honras de selecção pelo Brian Aldiss quando elaborou uma antologia representativa da Ficção Científica mundial, além de outras participações, e foi possivelmente o autor que mais se destacou da chamada geração Gumercindo Rocha Dorea, editor que nos anos 60 contribuiu para o que actualmente se denomina pela Primeira Onda da FC Brasileira (a respeito da importância dos editores e das colecções no pós-guerra como contributo indispensável para a existência de uma literatura do género nos dias actuais cf a minha introdução ao Por Universos Nunca Dantes Navegados). Aqui numa rara participação online, em conversa com Roberto de Sousa Causo, editor, e autor, e que recentemente incluiu um dos contos de Carneiro na antologia Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Cientifica (Devir). Entrevista gravada em 2004. (Fonte)

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal