Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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16 Julho 2009

Para Encerrar o Destaque das comunicações relativas à situação da FC internacional que principiei por apresentar aqui, o blogue SF Signal apresenta as partes III e IV, a primeira das quais inclui a participação do Luís Rodrigues, que num inglês impecável resume a triste situação actual da nossa Ficção Científica (e fantástico em geral). Digo triste porque parada, porque pouco inovadora, porque imitativa, porque sem originalidade, porque pouco profissional, porque em muitos casos inclusive com deficiências de português - e este último ponto é bastante difícil de perdoar; porque pode não haver condições para uma Ficção Científica Portuguesa, poderá nunca haver a possibilidade de tal acontecer pela natureza do género, mas que haja no mínimo o respeito e o preceito pela qualidade da língua. Não se admite que o mainstream tenha a excelência gramatical de autores como o Agualusa, o Direitinho e o Venda, e o nosso género, ainda que publique em vanity presses, ainda que coloque as ficções na internet, escreva o português a pontapé, sem revisão nem atenção ao ritmo, ao estilo, à poesia. Se não se consegue inovar na substância, ao menos que se comece pela apresentação.

(Como redenção, as participações ao Pulp Fiction à Portuguesa contiveram os dois extremos da equação: entre contos genuinamente bem trabalhados a textos que se notava de imediato encontrarem-se num estado preliminar de rascunho - mas ainda assim, quase nenhum de Ficção Científica pura, muito poucas space-operas. Um aparte quanto aos textos inacabados: tenho dificuldade em entender porque haveriam de querer os autores apresentar obras manietadas à partida, com finais apressados ou ausentes, com incongruências de lugares e tempos e personagens... vale a pena participar no despique de sapateado quando se está descalço e não se sabe bem a lição? O estado de concorrência não vos impele a esforçarem-se mais um pouco? O vosso texto não merecia melhor?)

O meu post original incentivou dois activos participantes do género português a apresentarem os seus pontos de vista - e felizmente para o debate, nos dois lados da barreira. Além de agradecer as palavras a respeito do meu artigo, e agradecer principalmente por terem continuado o debate com bastante erudição, creio que o que se impõe a seguir é perceber: porquê? Porque é a FC virada para o continente norte-americano? Porque os modelos que se originam daí extravasam pelo mundo, mas não conseguimos identificar outros pontos de origem? Será como diz o Jorge, apenas uma questão de hábitos de leitura? Mas por outro lado, não será o próprio hábito sustentado de leitura uma reconhecimento (primeiro pelos editores, que têm faro para estas coisas, e depois pelos leitores, que não pararam de comprar) da capacidade de encantamento e adopção das soluções literárias que se reconhecem a esses livros? Ou seja, se a máquina se alimenta por si mesma não será este indício suficiente de que é em si mesma que reside o melhor alimento?

A questão volta a ser: porquê? Sejamos crianças por instantes e vamos até ao fundo da razão. Não pode ser apenas a facilidade da língua - entre outros, o francês ainda é importante a nível mundial, e, no mínimo, seríamos expostos aos autores franceses via traduções inglesas; não pode ser apenas o domínio da divulgação - o western, literatura de fronteira por excelência, teve igual tratamento do tema do herói e da influência do indivíduo num mundo em desenvolvimento, igual divulgação internacional, uma melhor tradução para cinema, e no entanto, aparte experiências italianas (de qualidade), não se reconhece a internacionalização do género, permanecendo sobejamente americano. Algures, no triângulo tema-postura-propostas, estará a resposta.

Podem ir pensando nos vossos argumentos. Voltaremos ao ataque...

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15 Julho 2009

O Uso De Termos Específicos é determinante para o estabelecimento do cenário e das expectativas na narrativa. Poderia ser uma frase de uma tese académica, mas é a conclusão que se retira imediatamente deste divertido exercício de David Malki, que ao apresentar variações sobre um excerto (não o mais brilhante exemplo, admita-se), pela alteração subtil de algumas palavras, transforma a percepção da história na mente do leitor.

A questão particular de estabelecerem-se expectativas deve ser considerada com atenção porque o leitor, ao identificar o texto como pertencendo a este ou aquele género, sentirá atracção, repúdio ou eventualmente indiferença. Ou seja, não é só o facto de as pequenas variações das frases em questão poderem ser identificadas com diferentes tipos de histórias, como cada uma das frases destina-se a públicos-alvo distintos. Tudo isto no singelo milagre da alteração de três ou quatro palavras.

Um texto destaca-se ou desaparece por virtude da excelência das palavras que usa, como as organiza e em que ponto da narrativa as apresenta - sem deixar de servir o imperativo «enredo».

Não é fácil ser-se escritor, mas é por vezes bastante divertido. Como demonstram as (sobejamente) mais interessantes alternativas propostas nos comentários daquele post. (via Bibliotecário de Babel)

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