26 Setembro 2009
Passa Despercebida nos nossos noticiários uma singela descoberta que, se bem aproveitada, determinará o nosso futuro enquanto espécie. Existe mais água em Marte do que inicialmente pensado, e só não o percebemos por mero acaso (alguns centímetros) - eis uma situação de história alternativa, sem dúvida. Todos os motivos são importantes para incentivar o programa espacial e retomar a nossa colonização do sistema solar. Décadas de ficção científica avisaram-nos repetidamente que o sol não durará para sempre e que se queremos sobreviver precisamos de nos desmamar do planeta Terra e adaptarmo-nos às condições duras e insustentáveis do espaço profundo. Não será a espécie tal como a conhecemos que fará essa viagem, mas outra bem diferente, que resulte de séculos ou milénios de existência extra-terrestre e da resultante manipulação genética. A existência de água adicional em Marte facilitará a construção da primeira colónia - um pouco na senda dos nossos antepassados, à procura dos cursos de água para montar acampamento.Passou despercebida, mas infelizmente não passam todas as verborreias insalubres dos nossos candidatos às presentes eleições. O triste rol de figuras que amanhã serão apontadas a dedo, num processo que não difere assim tanto da identificação do criminoso num line-up policial (igual necessidade de secretismo, vergonha e medo das consequências), para tomar os comandos deste navio-pedregulho, reflectem, creio, não o país, mas a descrença nacional perante cargos públicos e de liderança. Onde devíamos ter os melhores (melhores gestores, as figuras mais carismáticas, os pensadores mais articulados), resta somente uma panóplia de oportunistas e demagogos, de visão comezinha ou desligada da realidade. E nenhum, nenhum deles é capaz de tratar a Palavra com o respeito merecido. Alguns meses de Obama têm-nos demonstrado como os grandes discursos inspiradores ainda têm lugar nesta era cínica e descrente. Os discursos dos nossos são básicos e vazios de sentimentos e ideais. São a negação da capacidade da nossa língua enquanto veículo do pensamento elevado. Não há escritores decentes nas fileiras partidárias? Além do mais, todas as medidas são remendos. Todos os programas partidários se centram nesta e naquela desigualdade de um segmento da população, a decidir onde deve pousar o curto cobertor da nação, querendo destapar daqui para tapar dali, enquanto lentamente vamos, todos, ficando com mais frio e fome. Onde estão as visões estratégicas a 50 anos que salvaguardem o nosso contributo para a Europa e o mundo? Onde estão os planos para garantir a continuidade da língua portuguesa nos próximos séculos, perante a crescente importância de nos exprimirmos numa única língua nestes tempos de internacionalização efectiva? Vamos ser mais básicos: onde estão as medidas que nos ajudem a procriar?... Que portugueses, e que tipo de portugueses, e em que tipo de paradigma mundial, e a falar que língua, restarão ainda daqui a 100, 200 anos?
O quê? «É daqui a muito tempo? O futuro não interessa?» Sem dúvida, esse pensamento tem-nos servido até agora. Quando os últimos membros da espécie humana tiverem fugido da Terra, logo veremos quem ficou para trás para fechar as luzes...