Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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26 Setembro 2009

Passa Despercebida nos nossos noticiários uma singela descoberta que, se bem aproveitada, determinará o nosso futuro enquanto espécie. Existe mais água em Marte do que inicialmente pensado, e só não o percebemos por mero acaso (alguns centímetros) - eis uma situação de história alternativa, sem dúvida. Todos os motivos são importantes para incentivar o programa espacial e retomar a nossa colonização do sistema solar. Décadas de ficção científica avisaram-nos repetidamente que o sol não durará para sempre e que se queremos sobreviver precisamos de nos desmamar do planeta Terra e adaptarmo-nos às condições duras e insustentáveis do espaço profundo. Não será a espécie tal como a conhecemos que fará essa viagem, mas outra bem diferente, que resulte de séculos ou milénios de existência extra-terrestre e da resultante manipulação genética. A existência de água adicional em Marte facilitará a construção da primeira colónia - um pouco na senda dos nossos antepassados, à procura dos cursos de água para montar acampamento.

Passou despercebida, mas infelizmente não passam todas as verborreias insalubres dos nossos candidatos às presentes eleições. O triste rol de figuras que amanhã serão apontadas a dedo, num processo que não difere assim tanto da identificação do criminoso num line-up policial (igual necessidade de secretismo, vergonha e medo das consequências), para tomar os comandos deste navio-pedregulho, reflectem, creio, não o país, mas a descrença nacional perante cargos públicos e de liderança. Onde devíamos ter os melhores (melhores gestores, as figuras mais carismáticas, os pensadores mais articulados), resta somente uma panóplia de oportunistas e demagogos, de visão comezinha ou desligada da realidade. E nenhum, nenhum deles é capaz de tratar a Palavra com o respeito merecido. Alguns meses de Obama têm-nos demonstrado como os grandes discursos inspiradores ainda têm lugar nesta era cínica e descrente. Os discursos dos nossos são básicos e vazios de sentimentos e ideais. São a negação da capacidade da nossa língua enquanto veículo do pensamento elevado. Não há escritores decentes nas fileiras partidárias? Além do mais, todas as medidas são remendos. Todos os programas partidários se centram nesta e naquela desigualdade de um segmento da população, a decidir onde deve pousar o curto cobertor da nação, querendo destapar daqui para tapar dali, enquanto lentamente vamos, todos, ficando com mais frio e fome. Onde estão as visões estratégicas a 50 anos que salvaguardem o nosso contributo para a Europa e o mundo? Onde estão os planos para garantir a continuidade da língua portuguesa nos próximos séculos, perante a crescente importância de nos exprimirmos numa única língua nestes tempos de internacionalização efectiva? Vamos ser mais básicos: onde estão as medidas que nos ajudem a procriar?... Que portugueses, e que tipo de portugueses, e em que tipo de paradigma mundial, e a falar que língua, restarão ainda daqui a 100, 200 anos?

O quê? «É daqui a muito tempo? O futuro não interessa?» Sem dúvida, esse pensamento tem-nos servido até agora. Quando os últimos membros da espécie humana tiverem fugido da Terra, logo veremos quem ficou para trás para fechar as luzes...

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26 Setembro 2009

Nestes Tempos Que Nos Querem Fazer Crer são de Bolaño, eis um movimento que passará certamente ao lado de muitos leitores, como bem diz a Safaa. Como alguns, soçobrei ao calhamaço da versão inglesa muito antes da edição da Quetzal, mas repousa algures na minha biblioteca, à espera, enquanto lhe passaram à frente outros tijolos, como Drood e O Nome do Vento. De todos os comentários lidos (e este, de Jonatham Lethem, que como bom ex-autor de FC, não resiste a fazer comparações com os grandes do nosso género), o do David Soares será sem dúvida o mais provocatório: «(...) acho fantástico que livros como o "2666" sejam publicados nestes tempos do sintético e do instantâneo. Talvez uma forma de influenciar as pessoas a lê-los seja dizer-lhes que são anuários da Twitter: assim, se elas observarem os milhares de páginas como sendo uma sucessão de vários "quanta" de 140 caracteres ainda serão capazes de se esforçar e retirar algum prazer do acto da leitura.» Resta-nos a consolação de que, apesar de o impacto ecológico desta obra se poder comparar ao do último Dan Brown, estamos a sacrificar árvores por algo melhor.

(Este tencionava ser um post inspirado sobre os poetas da auto-destruição e como são patéticos, ao descobrir que a doença hepática que vitimou o autor se deveu ao consumo da heroína. Percebem, se efectivamente os marginais, os pobres, os assolados pelo mundo serão os nossos melhores comentadores, se de facto é preciso sair da sociedade para poder tecer considerações sobre a natureza desta, ou se esta visão poética é na sua essência ridícula, pois a exclusão é feita e imposta pelo próprio, ninguém o afasta, ninguém o condena, e o que pareceria poesia é na verdade cobardia, fracasso e fraqueza. E se nesta óptima, Bolaño merecerá a conotação de grande autor quando parecia ser uma pessoa tão pequena. Era para ser um post destes, mas depois descobri que talvez houvesse dúvidas sobre o uso da heroína, que a doença tivesse causas naturais, e a argumentação retraiu-se, aguardando outra ocasião. Quem sabe, talvez um dia escreva um post sobre o Jorge Palma.)

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