Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

26 Setembro 2009

Algum Bem Nasce Dos Meus Comentários anódinos: o Roberto Mendes, he of Dagon fame e não só, lançou um desafio de escrita aos autores de língua portuguesa para imaginarem futuros de Portugal e seus habitantes. Como autor, creio que o vosso desafio será abrir os olhos para o papel que o nosso país tem no mundo - não só a nível económico, mas também a nível cultural e histórico - e fugir à tentação de ingenuidades fantasiosas ou nacionalistas; essencialmente será a vossa oportunidade de perceber o que significa pertencer-se a uma cultura e a uma nação numa época de globalização crescente. Como português, desconfio que o primeiro obstáculo que devem ultrapassar será o da descrença - escrever sobre o futuro de Portugal, para quê? Portugual merece de facto um futuro? Temos alguma ideia para onde rumamos?

Só vocês saberão (e poderão partilhar connosco) a resposta.

[Link Permanente

26 Setembro 2009

Poucos Entenderão o que representou a escolha de A Espinha Dorsal da Memória para vencedor da edição de 1989 do prémio Caminho de FC. A ficção científica em língua portuguesa que então se publicava tinha a chancela da Caminho (cf. este meu texto sobre o percurso da FC nacional e o papel das editoras no seu desenvolvimento - ou falta deste). João Aniceto, vencedor em 1985, fazia a sua aparição regular com edições de vários milhares de exemplares patrocinados pela Sagres - romances inspirados em temas batidos no género, com alguma ambição literária embora por vezes lhe faltasse mão no material (lembro-me em particular da tentativa de descrever uma mesma cena sob o ponto de vista de quatro personagens em O Quarto Planeta - este tipo de truque quase cinematográfico só resulta quando cada novo recontar do mesmo evento oferece ao leitor novas informações ou uma apreciação completamente diferente, senão resulta maçudo) e uma peculiar falta de ouvido para o diálogo (lembro-me da discussão de um casal em A Lenda e de pensar se o autor nunca teria tido discussões conjugais na vida), eram contudo obras divertidas e com um enredo subjacente, inspiradas na ficção científica e que tentavam de facto fazer juz ao género.

Surgiriam, no entanto duas outras obras peculiares, cuja classificação como «ficção científica» era no mínimo questionável. Universo Limitada, de Isabel Cristina Pires, vencedora do prémio em 1987, ficaria na memória, a esta distância, como uma colectânea de contos muito curtos em que havia breves aparições de temas da FC - robôs, extraterrestres - mas com pouca intenção de enredo ou sequer de ilustrar situações ou estados de alma. Três Lágrimas Paralelas, de Artur Portela, seguia-lhe na esteira, embora deste recorde um conto que tentava apresentar uma Lisboa subordinada a uma invasão japonesa (se era uma invasão concreta ou apenas cultural, não consigo lembrar-me). Entendam que encontrar estas narrativas na colecção da Caminho foi um brusco choque de expectativas para o jovem de então, habituado aos sólidos contos americanos com enredos e percursos emocionais sustentados e extrapolação científica fundamentada. Talvez hoje a apreciação resultasse diferente, mas nessa época pouco contribuiu para sentir que haveria na língua portuguesa uma capacidade de fazer e escrever ficção científica como se fazia lá fora...

Bráulio Tavares foi uma espécie de redenção neste figurino. O conjunto de narrativas da Espinha Dorsal da Memória não só apresentam enredos de tronco inteiro como se encontravam escritos com um estilo sólido e profissional, literário, denunciando um autor que já se encontrava em actividade há algum tempo. Finalmente, contos que se podiam saborear. A FC brasileira afirmava-se assim, julgo que pela primeira vez, em terrenos lusos com qualidade e distinção. A fasquia da FC em língua portuguesa tinha sido elevada - e mais acima subiria, estou em crer, se a produção brasileira da época tivesse proliferado neste lado do oceano. 

Bráulio nunca participou nos encontros nacionais de FC. É possível que nos tenha visitado aquando da cerimónia de entrega do prémio pela Caminho. É possível que tenha sido entrevistado pelos jornais - desconheço. Fica aqui, no entanto, uma oportunidade de conhecer o autor, num debate a respeito de uma antologia de Edgar Allan Poe que se encontra a preparar para edição no Brasil.

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal