Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


Encontra-se em modo de artigo. Para ver as outras entradas vá para a Página Inicial ou Arquivo, no menu da direita.

27 Março 2011

Andamos Nós A Antever desafios e antecipar sensações de viver em biosferas isoladas de mundos extraterrestres para enriquecer a actuação dos nossos personagens, quando, cá por casa, já existe informação detalhada com uma perspectiva muito pessoal.

[Link Permanente

19 Março 2011

A Melhor Forma De Perceber de que modo a tecnologia altera a nossa percepção do mundo encontra-se nas histórias que contamos e histórias que nos parecem credíveis. Enquanto extensão das nossas mãos e pernas e boca e olhos, a tecnologia permite-nos ultrapassar distâncias, épocas e culturas. O animal humano evolui enquanto está distraído, e contudo, nada lhe é mais evidente, pois a tecnologia, ao ser adoptada, transforma a vida. Se o surgimento se traduz num choque do futuro, a sua ausência pode originar dissonância cognitiva, ou mais simplesmente, inviabilizar a crença do possível.

Veja-se o exemplo dos telemóveis. O tempo em que eram uma brincadeira das séries televisivas de ficção científica - e também uma presença quase obrigatória - tornava-os em oportunidades de enredo, permitindo que muitos heróis fossem salvos no último instante graças à intervenção de uma chamada informativa. Não havia muita preocupação com particularidades, como alcance e capacidade da bateria, uma vez que era imprescindível que, quando fosse necessário, teria de funcionar.

No entanto, quando os telemóveis efectivamente surgiram para uso das massas, e não era mais possível ignorá-los, começaram a tornar-se numa presença constante das histórias. Como explicar os mal-entendidos, os desencontros, os desaparecimentos acidentais, quando, na pior das hipóteses, o personagem em causa poderia pedir emprestado o telemóvel a alguém para contactar a pessoa desejada, ou o respectivo colega, amigo, irmão, pai? Na era da ubiquidade, ninguém está isento de contacto.

Há quem aproveite o telemóvel para fins dramáticos. Lembro-me particularmente de um episódio da série Highlander, em que a vítima humana se esconde num armário do imortal que a perseguia e vai relatando o que está a acontecer pelo telemóvel, até ser surpreendida com uma daquelas lâminas que trespassam portas e barrigas sem a mínima dificuldade; diria que usar o telefone naquelas circunstâncias não terá sido muito sensato, mas todos conhecemos pessoas que não conseguem ficar caladas de modo algum. Por sua vez, a série 24 usa e abusa do factor comunicação, ao ponto de todas as reviravoltas do enredo serem continua e repetidamente explicadas aos principais personagens (na verdade, ao espectador que se encontra a fazer zapping), em particular quando se encontram a conduzir; a última temporada chegou a colocar um actor a contracenar durante vários episódios para o auricular bluetooth, sem dúvida uma situação ingrata. Finalmente, o filme Buried, que deu azo a esta verborreia, apenas funciona por que dedica grande parte do suspense narrativo à possibilidade do protagonista comunicar a sua situação desesperada com o mundo exterior.

Isto não significa que os escritores saibam utilizar o telemóvel da melhor forma. Nem que estejamos mais ricos com a sua existência. Quando é preciso regressar a um estado de incompreensão - de inocência - há que justificar o seu desaparecimento. E já não existe novidade nenhuma em utilizá-los na ficção científica. Ou seja, tornaram-se num empecilho para as histórias a que estávamos habituados. Talvez esteja na hora de descobrirmos outras histórias para contar.

[Link Permanente

Site integrante do
Ficção Científica e Fantasia em Português
Texto
Diminuir Tamanho
Aumentar Tamanho

Folhear
Página Inicial

Arquivo

Subscrever
Leitor universal