Exposição Prolongada à Ficção Científica  

   um blog de Luís Filipe Silva


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30 Maio 2011

Contra O Cair Da Noite. 

In vain, in vain - the all-composing hour
Resistless falls: the Muse obeys the power.
She comes! she comes! the sable throne behold
Of Night primeval, and of Chaos old!
Before her, Fancy's gilded clouds decay,
And all its varying rainbows die away.
Wit shoots in vain its momentary fires,
The meteor drops, and in a flash expires.
As one by one, at dread Medea's strain,
The sickening stars fade off the ethereal plain;
As Argus' eyes by Hermes' wand oppressed,
Closed one by one to everlasting rest;
Thus at her felt approach, and secret might,
Art after Art goes out, and all is night.
See sulking Truth to her old cavern fled,
Mountains of casuistry heaped o'er her head!
Philosophy, that leaned on Heaven before,
Shrinks to her second cause, and is no more.
Physic of Metaphysic begs defense,
And Metaphysic calls for aid on Sense!
See Mystery to Mathematics fly!
In vain! they gaze, turn giddy, rave, and die.
Religion blushing veils her sacred fires,
And unawares Morality expires.
Nor public flame, nor private, dares to shine;
Nor human spark is left, nor glimpse divine!
Lo! thy dread empire, Chaos is restored;
Light dies before thy uncreating word:
Thy hand, great Anarch! lets the curtain fall;
And universal darkness buries all.

Pope.

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29 Maio 2011

São Bandos de Pardais à Solta. Quando apreciamos criticamente um romance que se destaca pela competência estilística mas cuja premissa base não se coaduna com a nossa visão - literária e pessoal - do mundo, que critérios devem guiar-nos? Devemos apreciar o livro apenas pelo que é, pontuando-o pela capacidade em responder aos desafios que se propôs a si mesmo? Devemos também julgá-lo por tudo aquilo que poderia ter sido dentro da sua proposta narrativa, todas as sombras dos livros que não foi e que espreitam a cada volta do enredo, a cada escolha frásica?

Esta, creio, é a questão essencial do debate que aqui refiro en passant e que, se não chegou a conclusões, está a presentear-nos com um dos melhores conjuntos de artigos sobre FC da nossa língua: se de um lado existe a paixão feroz e admirável de estabelecer padrões exigentes e coadunados com o cânone mundial - um reconhecimento de que não existimos isolados nem isentos de influências no tempo e no espaço -, do outro existe uma nivelização perante o efectivamente produzido a nível nacional e, sublimada, uma aceitação, por nós partilhada no limite do razoável, de que diferentes terrenos darão diferentes cultivos em diferentes estações. Um lado desespera com a imensidão dos livros-sombra, o outro encolhe os ombros e mostra como provas as palavras efectivamente escritas. Ambos têm razão. Não há volta a dar.

Mais interessante se torna observar o esvoaçar dos pássaros espavoridos pela amigável troca de tiros, efeito secundário habitual destes arrufos campestres - ou não fosse este um blogue com um bizarro apreço pelos efeitos secundários. Pousados e mansos a debicar no solo, o matagal esconde-lhes as formas, são iguais e indistintos; só quando se lançam nos ares é que lhes reconhecemos a natureza pelo padrão do vôo. Pintassilgos humildes, picões esfomeados, bicos-grossudos de cores garridas, melros que querem atenção, gaivotas em terra, estorninhos agitados - que ocultam por vezes o mais raro e sabedor estorninho-rosado, com os quais se confunde -, perdizes hilariantes, há de tudo, tudo se vê. Enchem os ares, os pássaros à solta, como sempre reagem quando assustados, alguns chilreando de irritação pelo barulho e incómodo, outros divertindo-se na confusão e aproveitando, já agora, para exercitarem volteios de proeza aérea. Alguns gaviões sobranceiros pairam vagarosamente à distância, como quem não se compromete, e o ocasional falcão aproveita para uma investida rápida, seja em lebre ou em pássaro mais distraído.

Quando voltarem a pousar, como sempre o fazem, voltarão a esconder-se no matagal, outras vez meras formas - ainda que não tão indistintas, agora que se expuseram. Que lhes restará, quando regressar o silêncio? Voltaremos a observá-los em bando? Arriscarão ocasionais vôos solitários? Ouviremos finalmente a resposta a uma pergunta fundamental e bastante mais séria: e não se destinam os tiros, realmente, a afugentar um predador maior? Um predador que tudo uniformiza e tudo cala, que devora cores e curvas, que detesta pontos de interrogação e números aleatórios? Um predador tão lento e insidioso, que é preciso sacrificar anos de vida, de arma em riste e pose erguida, para se perceber o avanço? Um predador que adora os passarinhos que debicam no chão? Entendem a que nos referimos?

Eis a questão que devia preocupar-nos: quando regressar o silêncio, e os atiradores se recolherem por fim no conforto da idosa complacência, quem lhes renderá a guarda?

Ponderem então se é de silêncio que realmente precisamos.

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